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Lavagem da Escadaria do Senhor do Bonfim, uma das maiores expressões de fé e de cultura do povo baiano
Quando eu cresci dei a faixa de presente
Pra pagar uma promessa
Ao meu Senhor do Bonfim
Pedi que me abrisse o caminho
Da felicidade
Pedi que me desse um carinho
Prá minha mocidade
Sou feliz, ninguém mais feliz que eu (Faixa de Cetim, Ari Barroso).
Ocorre hoje, 17 de janeiro, em Salvador/BA, a tradicional Lavagem da Escadaria do Senhor do Bonfim, uma das maiores expressões de fé e de cultura do povo baiano.
Há diferentes versões e datas sobre como e quando iniciou essa tradição. Há relatos de que o início se deu em 1740, 1754 e 1773, segundo o site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o festejo ocorre desde 1745.
“É uma celebração tradicional que ocorre desde o século XVIII. Sua origem remonta à Idade Média, na Península Ibérica e na devoção ao Senhor Bom Jesus ou Cristo Crucificado. Integra o calendário litúrgico e o ciclo de Festas de Largo de Salvador e é realizada anualmente, sem interrupção, desde 1745. A Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim – inscrita no Livro de Registro das Celebrações. em 2013 – articula duas matrizes religiosas distintas, a católica e a afro-brasileira, e incorpora diversas expressões da cultura e da vida social soteropolitana. Está profundamente enraizada no cotidiano dos habitantes de Salvador, e possui grande poder de mobilização social.”
O culto ao Senhor do Bonfim teve início na Igreja Nossa Senhora da Penha em 1945, igreja onde ficava a imagem do Senhor do Bonfim, que foi trazida de Setúbal – Portugal por Theodósio Rodrigues de Faria, Capitão de Mar e Guerra e pela irmandade de portugueses, Devoção de Nosso Senhor Bom Jesus do Bonfim.
A irmandade fazia cultos e venerava o seu patrono no altar lateral da igreja, até que conseguissem fundos para a construção do seu próprio local de culto. O novo local escolhido foi na antiga Colina de Monte Serrat (atual Colina do Bonfim, nome dado após a construção do novo templo) e a obra foi concluída em 1754, tendo igreja sido batizada por Capela do Senhor do Bonfim na Colina.
Ainda segundo historiadores a lavagem remete à limpeza que era realizada na basílica para a festa em louvor ao Senhor do Bonfim, desde o século XVII / XIX, no segundo domingo após a Festa de Reis. Para que a comemoração fosse realizada, convocavam os negros escravizados eram convocados e obrigados a realizarem a lavagem da igreja na quinta-feira anterior ao evento. Lembra-se que nos terreiros, esse também é um hábito antigo, tendo sido reinterpretado pelos escravizados, ao sincretizar o Senhor do Bonfim com Oxalá, sendo a sexta-feira, o dia regido por este Orixá. Por isso, os negros escravizados aproveitavam a ocasião para realizarem os preparativos para a homenagem a Oxalá.
Em 1889, ano da Proclamação da República, a festa do Senhor do Bonfim, por determinação do Arcebispado, foi proibida. No entanto, no dia 17 de janeiro de 1890, as baianas resolveram desacatar a ordem e dirigiram-se à colina, vestidas à maneira africana (blusas e saias brancas e rendadas, pescoços ornados com as guias dos Orixás), munidas de vassouras e potes de barro com água de cheiro (água preparada com infusão de ervas aromáticas que, segundo o Candomblé, quando derramada na cabeça do fiel, livra-o de males como mal olhado).
A polícia tentou intervir, apreendendo todos os objetos, mas isso não foi capaz de coibir e enfraquecer totalmente o ritual. Pois proibidas de lavarem o interior do tempo, passaram a lavar a escadaria, garantindo assim as bênçãos do Senhor do Bonfim e Oxalá.
No ano de 2013 a Lavagem do Bonfim recebeu o título de Patrimônio Imaterial Nacional do Brasil, reconhecido pelo IPHAN.
O festejo teve início hoje e vai até o dia 20 de janeiro, confira na íntegra mais informações sobre a festividade e dicas. (clique aqui)
Fontes: