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NOVEMBRO NEGRO
Lançada campanha de combate ao racismo!
O presidente da Palmares, João Jorge Rodrigues, representou a ministra Margareth Menezes no lançamento da campanha
Com cânticos, danças e falas inspiradoras, foi lançada, nesta terça (12), a campanha Tradições de Matriz Africana Contra o Racismo, impulsionada pelo Pontão de Cultura Ancestralidade Africana no Brasil, de Ribeirão Preto (SP).
Durante o ato, realizado na sede da Fundação Cultural Palmares, foi lido um manifesto em que as lideranças da campanha denunciam os constantes ataques aos territórios tradicionais de matriz africana, que “representam o contínuo civilizatório africano”.
FORÇA. Mas como sinalizam, apesar das violências praticadas em decorrência do escravismo e do racismo, “os princípios civilizatórios e a cosmovisão de matriz africana” os quais constituem a cultura brasileira, “continuam a ser difundidos”.
“Nós somos os povos tradicionais de matriz africana na luta pelo desenvolvimento de políticas públicas de Estado, pela garantia dos nossos direitos, dos nossos territórios e da nossa vida”, anunciam.
MULHERES. Na fala de abertura, o babalawo Ivanir dos Santos ressaltou a importância das mulheres para a cultura afro-brasileira. “Nosso útero, nossas grandes mães, são a nossa ancestralidade feminina”, reverenciou.
Com dupla missão, na solenidade, o presidente da Fundação Palmares, João Jorge Rodrigues, além de falar em nome da instituição que preside, representou a ministra da Cultura, Margareth Menezes, ressaltando também o papel de lideranças femininas.
CASA DE LUZ. “Estamos em um momento especial do calendário, há poucos dias do principal feriado do Brasil, um dia dedicado a figuras como Aqualtune, Dandara, Zumbi e outros grandes símbolos da nossa história”, reiterou.
Ele lembrou que o dia 20 de novembro é “um tributo àqueles que, mesmo diante de um século de luta, não se renderam”, e que o quilombo dos Palmares não foi apenas um refúgio, foi um espaço de resistência, um território político e espiritual que inspirou gerações”.
Emocionado, falou sobre a casa da cultura afro-brasileira, “uma casa da luz, que se ergue para honrar as raízes de um povo que sempre resistiu e que continuará a resistir, trazendo a luz da nossa cultura e espiritualidade para todo o Brasil”.
LUTA. Foram muitas, as falas. Fortes, significativas. Silvany Euclênio, do Pontão de Cultura Ancestralidade Africana, ressaltou a importância da campanha colaborativa num contexto de “luta árdua contra o racismo”.
Coordenador geral do Pontão, Baba Paulo Ifatide folou sobre o racismo religioso, que “não é apenas religioso. Embora afete profundamente a nossa espiritualidade, ele é uma construção sistêmica de poder que busca apagar todas as nossas formas de existir e resistir”
– No entanto, aqui estamos, com nossas cabeças erguidas, vestindo nossos trajes, cantando em nossos idiomas ancestrais, repletos de uma força que não se rende.
Foi uma tarde memorável, em que vozes, cânticos, dança, tambores conclamaram, com emoção e razão, “a sociedade em geral, os movimentos sociais e as instituições públicas e privadas” a se engajarem nessa campanha em defesa da vida.
Porque vidas negras importam!
OBJETIVOS DA CAMPANHA _________________________
A campanha “Tradições de Matriz Africana Contra o Racismo” possui quatro objetivos claros:
1. Valorizar as tradições de matriz africana como ferramentas de combate ao racismo. Nos nossos territórios, preservamos não só os valores civilizatórios, mas também as formas de ser e de viver que resistiram e sobreviveram a cinco séculos de tentativa de destruição. É essencial que a sociedade reconheça e proteja essas tradições.
2. Denunciar o racismo e a violência direcionados às tradições e aos praticantes de matriz africana. Enfrentamos ataques constantes aos nossos territórios e agressões que vão desde o preconceito verbal até a violência física. Precisamos que a sociedade e as instituições assumam o papel de defesa ativa contra essas injustiças.
3. Promover o engajamento da sociedade na defesa das tradições de matriz africana, cultivando uma participação que não se limite ao imediato, mas que se fortaleça ao longo do tempo, como uma corrente viva de apoio e resistência.
4. Fortalecer as lideranças tradicionais, instrumentalizando-as para que compreendam melhor o Estado, as políticas públicas e a natureza do racismo estrutural, para que possam defender suas comunidades e territórios com mais poder e conhecimento.
ÍNTEGRA DO MANIFESTO ____________________________
Tradições de matriz africana contra o racismo
Somos Bantu: Angola, Congo, Congo-angola, Angola Paquetan, Kikonko, Kibundu, Ubuntu, Tchokwe, Kambinda, Muxicongo.
Somos Yorubá: Ketu, Nagô, Efan, Efon, Ijexa, Batuque, Ifá, Egungun.
Somos Fon: Jeje, Jeje-fon, Jeje-mahi, Jeje-savalu, Jeje-dahome, Jeje-mina, Jeje-mussurumin.
Somos os povos tradicionais de matriz africana
Saudamos aqueles que vieram antes de nós, saudamos nossos mestres e mestras, saudamos nossas autoridades e lideranças tradicionais, por abrirem os caminhos que trilhamos. E enaltecemos os mais novos, a garantia da continuidade, que ainda hão de abrir novos caminhos.
Sequestrados do continente africano para o Brasil, na condição de escravizados, nossos ancestrais trouxeram nas mentes e corpos sua ancestralidade, conhecimentos, tecnologias e valores civilizatórios próprios, os quais, preservados e recriados em território nacional, deram origem aos territórios tradicionais de matriz africana: Ilê, abassá, terreiro, egbe, nzo, roça, entre outros.
Sob constantes ataques, os territórios tradicionais de matriz africana abrigam nossos povos, em suas diversas variações e denominações. Em cada parte do país, representam o contínuo civilizatório africano.
Nossas casas e comunidades são espaços culturais de preservação e disseminação da nossa ancestralidade.
Apesar do escravismo e do racismo, os princípios civilizatórios e a cosmovisão de matriz africana são difundidos e constituem a cultura brasileira.
Nossos territórios são berços de uma cultura de acolhimento, de trocas, e nossas hierarquias ensinam a disciplina necessária para um convívio coletivo, colaborativo e respeitoso.
Nós somos os povos tradicionais de matriz africana na luta pelo desenvolvimento de políticas públicas de Estado, pela garantia dos nossos direitos, dos nossos territórios e da nossa vida.
Conclamamos a sociedade em geral, os movimentos sociais e as instituições públicas e privadas a se engajarem na campanha Tradições de Matriz Africana Contra o Racismo!
Brasília, 12 de novembro de 2024.