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Joaquim Cruz, o único brasileiro campeão olímpico nas pistas de atletismo
Depois das conquistas de Adhemar Ferreira da Silva, no salto triplo, durante as Olimpíadas de 1952 e 1956, o Brasil sofreu um jejum de quase 30 anos sem medalha de ouro no atletismo. Entretanto, em 1984, nas Olimpíadas de Los Angeles (EUA), Joaquim Cruz realizou um feito histórico. Na final dos 800 metros, não apenas conseguiu o primeiro lugar, como também quebrou o recorde olímpico, concluindo a prova em 1min e 43 segundos. O mundo era apresentado a um grande atleta, apesar da juventude (o meio-fundista tinha apenas 21 anos), e o Brasil assistia ao vivo , pela primeira vez, um brasileiro vencer uma prova e subir no topo do pódio olímpico.
Tudo isso foi protagonizado por um jovem nascido em Taguatinga, cidade satélite da também jovem capital brasileira, em 12 de março de 1963. Começou treinando basquete dada sua altura. Porém, foi logo deslocado para o atletismo, por sugestão do técnico Luiz Alberto de Oliveira, que o acompanharia por toda carreira.
Aos 15 anos de idade, após poucos anos de treinos, os resultados começaram a aparecer. Joaquim venceu as provas dos 400 e 800m tanto no Campeonato Brasileiro de Atletismo de Menores quanto no Sul-americano (Uruguai), também de menores. No ano de 1979, conquistou o ouro nos 1500m do Mundial de Menores.
O ano de 1980 representou um marco em sua carreira. A sequência de bons resultados lhe deu visibilidade e ele recebeu a oferta de uma bolsa de estudos para a universidade do Oregon, na cidade de Eugene (EUA).
Morando nos Estados Unidos, acompanhado de seu técnico, e tendo melhores condições de preparação, o atleta brasileiro arrebatou, ainda aos 17 anos, os títulos dos 800 e 1500m nos Jogos Pan-americanos Juvenis, do Canadá, e os dos 400 e 800m dos Jogos Estudantis Mundiais, de Turim (Itália). No ano seguinte, Joaquim mantém o alto rendimento e quebra o recorde mundial juvenil dos 800m, fazendo 1m44s3, durante o Troféu Brasil de Atletismo.
Em 1983, conquista a medalha de bronze na primeira edição do Campeonato Mundial de Atletismo, realizada em Helsinque (Finlândia). Nesse mesmo ano consegue assegurar uma vaga para as Olimpíadas de 1984, nas provas dos 800 e 1500m.
O meio-fundista chegou a Los Angeles ainda pouco conhecido e teve que enfrentar o recordista mundial de então, o inglês Sebastian Coe, e seu compatriota e vencedor dos últimos jogos, Steve Ovett. Ao longo da competição, das preliminares às finais, Joaquim Cruz foi sempre melhorando suas marcas (1:45.66, 1:44.84 e 1:43.82), o que lhe deu suporte para chegar na última prova com chances de medalha. No dia 06 de agosto de 1984, Joaquim Cruz alcançou o 1º lugar dos 800m com expressiva superioridade frente aos adversários e com direito a novo recorde olímpico.
Um resfriado o tirou das semifinais dos 1500m, mas seu nome já estava escrito na história do atletismo mundial e brasileiro.
O período entre as olimpíadas havia sido de glórias, como a segunda melhor marca dos 800m (1:41.77), mas também de problemas físicos. Quatro anos depois, na Olimpíada de Seul (Coreia do Sul), Joaquim Cruz chegou facilmente à final dos 800m e tinha grandes chances de igualar o feito de Adhemar Ferreira da Silva ao conseguir a sua segunda medalha de ouro consecutiva, não fosse o queniano Edwin Koech ter surpreendido nos últimos 50 metros da final olímpica. Joaquim Cruz ficou com a prata, com o tempo de 1:43.90.
Os anos seguintes foram marcados pelas lesões, que o tiraram de competições entre os anos de 1989 e 1991. Um machucado no tendão de Aquiles lhe tirou das Olimpíadas de 1992, Barcelona (Espanha). Seu último grande título foi, em 1995, no Pan-Americano de Mar del Plata (Argentina), quando ganhou o ouro dos 1500m. Chegou a disputar as Olimpíadas de 1996, em Atlanta (EUA), ocasião em que foi porta-bandeiras da delegação brasileira, mas não passou da fase de Eliminatórias.
Joaquim Cruz encerrou sua carreira em 1997 e passou a se dedicar a projetos sociais. Em 2003, criou o Instituto Joaquim Cruz, sediado em Brasília, para ajudar crianças e jovens carentes por meio de ações esportivas, educacionais e culturais.
Sua carreira e suas vitórias foram homenageadas pelo Comitê Olímpico Brasileiro, em 2007, quando Joaquim foi designado para acender a pira olímpica dos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro.
Atualmente vive com a família, em San Diego, Califórnia (EUA), e trabalha na orientação de atletas militares e olímpicos dos Estados Unidos.
Ainda hoje, Joaquim Cruz é o único brasileiro campeão olímpico nas pistas de atletismo. Seus feitos lhe renderam, no ano passado, a publicação do livro biográfico Matador de Dragões , de Rafael de Marco.