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Iphan lança edital para projeto de restauração do galpão Docas Pedro II, no Cais do Valongo
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) publicou na quinta-feira (21) o edital de licitação para a contratação do projeto executivo de arquitetura de restauração do galpão Docas Pedro II, no Cais do Valongo, Rio de Janeiro. A construção vai abrigar o centro de interpretação do Cais do Valongo, um centro cultural dedicado à herança africana sob gestão da Fundação Cultural Palmares (FCP) e o Laboratório Aberto de Arqueologia Urbana, da prefeitura municipal, cujo acervo está guardado temporariamente no Galpão da Gamboa. CLIQUE AQUI E CONFIRA O EDITAL.
Segundo o superintendente do Iphan no Rio de Janeiro, Manoel Vieira, esta é a primeira fase das licitações, e as obras ainda não têm data para começar. “O que estamos contratando agora é um projeto que permita a adequação do espaço e a preservação do prédio que é tombado”, diz.
O valor do edital é estimado em R$ 2 milhões. A obra completa deve custar, de acordo com o superintendente, no mínimo R$ 50 milhões. A fonte dos recursos também não foi definida ainda, e o órgão deve captar os valores posteriormente.
Parceria – A FCP e o IPHAN se organizam ainda para a realização e pesquisas sobre cenas africanas encontradas em uma residência de Ouro Preto, cidade histórica de Minas Gerais. Vanderlei Lourenço, presidente da FCP, fará viagem no início de dezembro para conhecer o local.
Os desenhos foram entalhados na parede de um porão que, no século XVIII, foi senzala do casarão. Os estudos terão como finalidade comprovar e formalizar o período em que os desenhos foram feitos trazendo uma possibilidade de quem os teria produzido, embora se acredite que tenham sido feitos por um escravizado em um momento de banzo, ou seja, saudades de sua terra natal. Além disso, contribuirão à identificação da origem étnica dessa ou dessas pessoas, muito provavelmente trazidas de Guiné, Congo, Gana, Camarões e/ou Nigéria.
“Essas gravuras são, por si, um achado histórico. Cenas de África feitas por pessoas que foram sequestradas e escravizadas. Agora, nosso objetivo é preservar essa descoberta”, disse o presidente da FCP, Vanderlei Lourenço, lembrando que é missão do órgão proteger e promover o legado afro-brasileiro.
Hieroglifos – As cenas mostram o cotidiano de sociedades que viviam do outro lado do Atlântico. Os desenhos remetem a mulheres trabalhando em um pilão, uma cena de festa em uma aldeia, pessoas em um navio e animais que não fazem parte da fauna brasileira, entre eles possivelmente um guepardo. Segundo especialistas, só desenharia a cena do navio naquela época, alguém que tenha passado pelo mar.
Sidnéa dos Santos, historiadora, pesquisadora da cultura africana e diretora de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de Ouro Preto, diz que o tipo de embarcação registrado é similar aos usados no Rio Níger, que atravessa territórios que hoje são Guiné e Nigéria. Para Marcelo Hypólito, historiador e interprete, os desenhos são um documento importante, pois se trata do registro de uma ou mais presenças em um determinado espaço e tempo. “É uma grande marca da história. Nunca tivemos nada igual da cultura africana na América”, avalia.
Em entrevista ao repórter Gustavo Werneck, do jornal Estado de Minas, o artista plástico Jorge dos Anjos também fez sua avaliação. “Aquele é um registro feito para não esquecer, para deixar para quem está chegando, a memória daquela realidade. Esse conhecimento e a valorização da origem é o que nos estrutura hoje como cidadãos a buscar uma sociedade mais justa e que se conheça de fato”, explica Anjos.
Legado – O achado ocorreu durante a reforma do casarão, situado na Região Central da cidade, em 2017. “O rapaz que trabalhava lá perguntou se eu já tinha visto os desenhos na parede”, disse o empresário Philipe Passos, cuja família é proprietária da residência. Segundo ele, algum tempo depois, a antiga dona da casa lhe disse que as imagens sempre existiram lá. “Foi uma surpresa encontrar essa riqueza”, exclamou.
O que hoje serve de porão, foi uma senzala no período colonial. Vila Rica, como era chamado Ouro Preto, tinha 40 mil pessoas escravizadas trabalhando com a mineração. Cerca de 10% da população africana que foi sequestrada e desembarcou nas Américas veio trabalhar nessas minas.
A antiga capital de Minas Gerais conservou grande parte de seus monumentos coloniais e por essa razão foi elevada a Patrimônio Estadual em 1933, a Monumento Nacional em 1938 e a Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO em 1980. A previsão é que, com as pesquisas comprovando a veracidade de todas as informações com relação ao porão, o casarão venha a compor formalmente mais uma atração do Centro Histórico de Ouro Preto.