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Instalação transforma galeria em mar e expõe fotos-oferendas de Yemanjá
A mostra-instalação recriou a festa em homenagem a Iemanjá Isabel Gouvêa: câmera na mão, “espuma” nos pés
A mostra Odoyá! Dia de festa no mar movimentou a sede da Fundação Cultural Palmares, ontem (01/09/10) pela manhã. No mar recriado no espaço da galeria, visitantes, dirigentes, funcionários e colaboradores da instituição reverenciaram as representações fotográficas da rainha das águas e de seu culto, a partir das lentes sensíveis de Isabel Gouvêa e Valéria Simões.
À entrada da galeria-santuário, o visitante é convidado a tirar os sapatos – ou envolvê-los com sapatilhas protetoras. Como fazem os milhares e milhares de fiéis que reverenciam, anualmente, a rainha das águas, grande parte do público prefere entrar descalça no mar que a curadoria da mostra simulou, para recriar o ambiente da festa em homenagem à divindade afro-brasileira. Um rito dentro do rito.
O impacto das fotografias; a mensagem visual do mar cenográfico; o cheiro penetrante da alfazema (essência preferida de Yemanjá); os fachos suaves de luz; o som do marulhar das ondas… Tudo isso transporta os espectadores para a praia do Rio Vermelho (Salvador-BA), onde ocorre um dos mais autênticos rituais de celebração à mãe dos orixás ainda realizados no Brasil.
Mas a mostra-instalação não descuida do cognitivo. Ao estímulo sensorial, somam-se textos sobre o culto à divindade, que nasceu negra, mas foi perdendo a cor do ébano, no fluxo e refluxo do mimetismo religioso. Nesta bela reconstituição da cerimônia, os fiéis-visitantes são como presentes lançados ao mar; as fotos, verdadeiras oferendas para todos – rainha e súditos, unidos nesta prece iconográfica em defesa da cultura afro-brasileira.
A DEUSA Reza a mitologia yoruba que o(a) dono(a) do mar é Olokun – deus masculino em alguns países africanos, feminino em outros. Yemojá (yèyé + omó + ejá) é saudada como odò (rio) ìyá (mãe) pelo povo Egbá (subgrupo dos Yoruba da Nigéria), de onde ambas as divindades são originárias. Mas o mito correu mundo, e Yemojá instalou-se em lagos doces e salgados, enseadas, quebra-mares e junções entre rio e mar, assumindo diferentes formas, etnias, vestes, nomes, temperamentos, poderes. Numa das mais recorrentes versões da lenda africana, Yemojá é considerada a mãe de todas as divindades yorubas. Nascida da união de Obatalá (o Céu) com Odudua (Terrestre), desposa o irmão, Aganju, com quem tem um filho, Orungã. A representação africana de Édipo apaixona-se pela mãe, que, ao fugir de sua perseguição, cai de costas e morre. Seu corpo dilata-se. Dos grandes seios brotam duas correntes de água, que formam um grande lago; do ventre rompido, nascem os deuses e deusas. |
AS FOTÓGRAFAS Isabel Gouvêa – Mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia (2008) e fotógrafa formada pela Escola de Comunicações e Artes da USP (1976), Isabel Gouvêa trabalhou como fotógrafa do inventário para o tombamento do Centro Histórico. |