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CELEBREMOS
Inaugurado o novo templo da Palmares!
Alegria na inauguração da nova casa da Fundação Cultural Palmares
Com palavras firmes e sorriso nos lábios, na face, nos olhos, a ministra da Cultura do Brasil, Margareth Menezes, encerrou a solenidade de inauguração da nova sede da Fundação Cultural Palmares – a casa da cultura afro-brasileira.
“É uma alegria e uma honra celebrar os 36 anos da Fundação Palmares. Esta inauguração marca um renascimento para a instituição. Depois de anos de abandono e desrespeito, a Palmares está sendo reconstruída, com dignidade e propósito”.
O anfitrião da casa, João Jorge Rodrigues, se emocionou: “Transformamos nosso sofrimento em arte, nosso coração em resistência. Agora, pedimos que nos ajudem a transformar esta casa em um caminho para a eternidade”.
Esse, o tom dos diálogos. Diálogos de irmãos, como manifestado pelo ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida:
“Agradeço à ministra Margareth Menezes por seu esforço, camaradagem, irmandade. Agradeço também a João Jorge e a todos e todas presentes, em nome dos nossos ancestrais".
Três negros no centro do poder político do Brasil. Três, não, quatro. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, não pôde comparecer, mas enviou representante – Roberta Eugênio, também negra. E recado:
“Deixo aqui o abraço do Ministério da Igualdade Racial, que seguirá de mãos dadas com o Ministério da Cultura e a Fundação Cultural Palmares, em prol da dignidade do nosso povo no Brasil” E proclamou:
– Negro é a raiz da liberdade!
Reverenciada por todos pelo trabalho no MinC e o apoio à reconstrução da Palmares, Margareth redistribuiu os créditos, lembrando a luta dos servidores que resistiram à tentativa de destruição do legado da entidade, no (des)governo passado.
“João Jorge, você e sua equipe estão transformando a Fundação em símbolo de resistência, diversidade e potência para o povo afro-brasileiro. Esta nova sede é uma vitória para o Brasil e para todos nós que lutamos pela preservação da nossa história e cultura”.
“A Fundação Palmares é um símbolo de resistência e valorização da cultura afro-brasileira. É um privilégio estar presente nesta celebração, que reafirma o compromisso com a história e as raízes do nosso povo”, complementou o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues.
“É um lugar de projeção do futuro, onde a memória tem materialidade e se torna um espaço de movimento e luta. Não estamos apenas inaugurando um prédio, estamos assentando um ponto de resistência”, reiterou Almeida.
Sob anuência de João Jorge.
“Uma casa é igual a um templo. É daqui que pensaremos no outro. Neste governo, nosso lema é unidade e luta. Vamos, juntos, pisar em cada canto do Brasil profundo, aprender com nosso povo e construir um futuro melhor”.
Enviada dos Estados Unidos da América, a embaixadora Elizabeth Detmeister agradeceu à ministra e ao presidente da fundação “por sua dedicação incansável à promoção da cultura afro-brasileira e à luta por justiça social”.
Mas, antes das falas, teve a execução singular do Hino Nacional. Ao som do bloco Olodum, o canto ganhou ares de brasilidade nagô. E a exibição de um vídeo sobre a Palmares, feito por sua assessoria de comunicação.
Aplausos.
Enfim, momentos de muita emoção, no encerramento das atividades comemorativas dos 36 anos da Palmares, abertas por dois mestres de cerimônias, que travaram uma espécie de diálogo para contar a saga da reconstituição da entidade.
E foi Chico Buarque – não por acaso – quem deu o tom do momento. Sob os primeiros acordes de uma de suas mais conhecidas canções, os mestres Oswaldo Filho e Maria Paula deram as boas-vindas aos presentes:
Mestre Oswaldo (MO) – Boa tarde, pessoas queridas!
Mestre Maria Paula (MMP) – Olá, como vai? [cantado]
MO – Eu vou indo... [cantado]
MMP – E vocês? Tudo bem? [falando]
PLATÉIA – Tudo!
MMP – Que bom! Então estamos todos bem.
MO – Estamos de casa nova...
MMP – Estamos de cara nova...
MO – Uma cara que respeita o passado...
MMP – ...porque resgatamos a memória de nossa instituição...
MO – ... e caminha para o futuro...
MMP – ...porque estamos ressignificando nossa CASA...
MO –...A casa da cultura afro-brasileira!
MMP – Uma casa que preserva nossa cultura ancestral...
MO – ...e que ao mesmo tempo acolhe as novas manifestações da brasilidade negra.
MMP – Uma casa que não nega o escravismo.
MO – Combate-o!
MMP – Uma casa que não queima bruxas – ou livros.
MO – Respeita as mulheres, preserva saberes.
MMP – Uma casa que não apaga...
MO – Escreve a nossa história!
MMP – Uma história de luta.
MO – De revezes.
MMP – De conquistas.
MO – De renascimentos.
MMP – E estamos aqui hoje para dizer, senhores e senhoras, que voltamos
MO – Renascemos e renasceremos quantas vezes forem necessárias
MMP – Porque somos fênix!
MO – Somos brasileiros!
MMP – Somos Palmares!
MO – E somos todos quilombolas
O sinal estava aberto para as festividades do dia – e para o futuro promissor que se anuncia, com a recuperação da memória da Palmares, a inauguração da nova sede da entidade e a ampliação de suas ações.
E começaram com os depoimentos de três dos ex-presidentes da casa: o decano Carlos Moura (1988 a 1990 e 2000 a 2002), Hilton Cobra (2013 a 2015) e Zulu Araújo (2007 a 2010). Além do presidente da Palmares. Alguns fragmentos:
"Agradeço imensamente à Fundação Banco do Brasil, à direção da Palmares, ao Nelson Mendes, à Flávia Costa e aos servidores da Palmares que resistiram bravamente em tempos difíceis”, registrou João Jorge Rodrigues.
“Eles impediram a destruição de quase 6 mil livros e evitaram a remoção de 109 personalidades do site da Palmares. Agora, esse número aumentará para 350, com paridade entre homens e mulheres. Vamos à luta!", conclamou.
“Essa nossa reunião é da mais alta responsabilidade, selamos aqui mais um compromisso de cumprir nossos objetivos de reconhecimento da cultura afro-brasileira”, disse o decano Carlos Moura.
Aos servidores dessa casa, meu muito obrigado por não terem desistido da instituição, mesmo diante de tantos obstáculos. Os 120 milhões de pretos e pretas desse País devem gratidão pelo empenho de vocês”, externou Hilton Cobra.
BB. Dando seguimento às atividades, os presidentes das fundações Banco do Brasil e Palmares assinaram um protocolo de intenções para subsidiar ações conjuntas em prol da população negra brasileira nas áreas de cultura e educação.
O titular da Fundação Banco do Brasil celebrou: “Acredito que é possível fazer alianças para o progresso”, afirmou.
Foi um desfile de celebridades. Gerônimo Rodrigues, governador da Bahia; a socióloga Vilma Reis; Vovô, presidente da agremiação afro Ilê Aiyê; Daniela Mercury, com a esposa, Malu Verçosa; Bruno Monteiro, secretário de Cultura da Bahia; a escritora Carla Akotirene; Maria Marighela, presidente da Funarte; José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares; e a educadora Lídia Garcia, dentre muitas outras. Impossível nominar todas.
Sexta (23) tem mais.