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III FESTIVAL MUNDIAL DAS ARTES NEGRAS – Benção e coroamento em solo africano
Nas escadarias que levam ao Monumento à Renascença, Rita Ribeiro concede entrevista exclusiva à equipe de comunicação da Palmares
Por Joceval Santana
Rita Ribeiro diz que “tinha a obrigação de beijar o solo africano”, uma espécie de benção para o projeto Tecnomacumba, através do qual, há sete anos, azeita um repertório que valoriza a influência da cultura e, principalmente, da religiosidade africana na música popular brasileira. A oportunidade de realizar esse feito se concretiza nesta quarta-feira (15), quando a cantora maranhense se apresenta em Dacar, no Senegal, pela programação da terceira edição do III Festival Mundial de Artes Negras (Fesman).
Na mesma noite, outras duas atrações brasileiras integram a programação da capital senegalesa. O cantor e compositor carioca Mombaça e o grupo folclórico mineiro Cantos de Congo estará no palco da Place de l´Obelisque, a partir das 22h, mesmo horário que deve começar o show de Rita Ribeiro, no Monument de La Renaissance. Já o Grupo de Capoeira Ginga e Malícia, da Bahia, mostra a manifestação cultural genuinamente brasileira, mas na Place Faidherb, na cidade de Saint Louis, também às 19h.
Com participação de 60 países e produções artístico-culturais e teóricas em 19 linguagens e campos de conhecimento, o Fesman 2010 é tido como o maior encontro internacional das artes negras e tem o Brasil como convidado de honra e homenageado. Cerca de 200 artistas e intelectuais brasileiros marcam presença na programação de música, dança, literatura, arquitetura, fotografia e manifestações populares etc., além da participação em atividades de caráter reflexivo, como fóruns e colóquios.
“Esta é a primeira viagem de Tecnomacumba à África. Para mim, que sou ligada às coisas maravilhosas do mundo, é o fechamento de um ciclo e o início de outro”, comemora Rita Ribeiro. Ela observa que, para o mercado brasileiro, o projeto musical – que começou despretensiosamente como alguns shows, virou disco, ganhou prêmios e mantém-se em cartaz – é um fenômeno de longevidade. “Apresentar-se na África é mais uma vitória dessa caminhada”.
A cantora e também compositora mostra no Fesman um show mais enxuto, com duração de uma hora. Para isso, pinçou canções que ela considera mais representativas de um repertório que presta homenagem a divindades dos cultos afro-brasileiros e a manifestações de caráter popular. Entre as escolhidas, A Deusa dos Orixás (Toninho/Romildo), Cavaleiro de Aruanda (Tony Osanah), Jurema (Rita Ribeiro), Tambor de Crioula (Junior/Oberdan Oliveira) e Coisa da Antiga (Nei Lopes/Wilson Moreira). A banda que acompanha Rita também vem com uma formação menor, menos percussiva, o que, segundo ela, faz aparecer mais a parte “tecnológica” de Tecnomacumba, suas programações eletrônicas.
Engajamento e honra
Já o cantor e compositor Mombaça definiu como um “coroamento” sua participação no Fesman. “Para um artista que adotou o nome que eu adotei e lançou um disco com o título de Afro Memória, a passagem por este festival tem um valor especialíssimo. É o coroamento de um luta para afirmar a presença negróide no mundo, mas também é uma grande responsabilidade para um artista que sofre inclusive restrições pelo seu engajamento”, comenta ele, autobatizado com o nome de uma cidade queniana. É exatamente o repertório do seu mais recente disco, Afro Memória + Pretinhosidade, uma reedição do segundo álbum com alguns “extras” e participações especiais, que ele apresenta nesta quarta em Senegal, com reprise no dia 17, na noite dedicada ao Brasil. Entre as músicas, Pretinhosidade (sucesso gravado por Mart´nália), Tava por aí, Chega e Entretanto. Tem também Torpedo, composta com Ana Carolina e Gilberto Gil, Tá Rindo, É?, com Ana Carolina e Antônio Villeroy, e Baile no Asfalto, com Sandra de Sá.
Afro Memória, de 2002, foi concebido um ano antes, quando Mombaça integrou a equipe brasileira de comunicação na Terceira Conferência Mundial contra o Racismo, o Preconceito Racial, a Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, em Durban, África do Sul. “Toda a minha obra quer falar da relação do Brasil com a África, é amarrada nesta questão”, define o artista. Para mostrar sua música brasileira de raiz e temática negra, ele conta com uma banda completa – inclusive tendo seu filho entre o grupo de vocalistas. ‘É uma honra trazê-lo à África pela primeira vez”, diz.