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II Caravana da Juventude Negra Atenderá Jovens de Nove Municípios de MG
Teve início nesta semana a II Caravana Juventude Negra em Minas Gerais. Parceria entre a Fundação Cultural Palmares (FCP), o Instituto Educacional para Conscientização e Realização de Políticas Públicas (ICPP) e as prefeituras do estado, a Caravana deve rodar 2.508 Km pelos próximos três meses, levando cultura, informação e oficinas de audiovisual a nove dos municípios mais vulneráveis do estado.
A participação da FCP consiste em acompanhar o uso da emenda parlamentar de R$ 1.2 mi que garante a execução do Projeto. De acordo com Vanderlei Lourenço, presidente do órgão, trata-se de uma grande atuação do Governo Federal oportunizando novas possibilidades a quem praticamente não tem acesso a inovações tecnológicas. “É mais do que levar um novo universo, é garantir que se participe dele”, assegura.
A proposta inclui oficinas de audiovisual e trabalha sobre o fato de que a inclusão digital é uma importante demanda da sociedade. Gladstone Otoni dos Anjos, presidente do ICPP e diretor do Projeto, desenvolveu a proposta para contemplar jovens em vulnerabilidade, porém, demonstra a preocupação que tem em especial com a juventude negra. “Historicamente, os desafios para essas pessoas são maiores. Em algumas comunidades os jovens se sentem tão tolhidos que enxergam o acesso a direitos como algo inalcançável”, diz.
A Caravana – As capacitações atenderão diretamente em torno de quatro mil pessoas com 14 atividades. Entre elas estão Produção de Blogs, Sites e Mídias Digitais, Informática Básica, Fotografia/Filmagem, Produção e Edição de Vídeos. Cada inscrito receberá certificado e/ou declaração de participação. “A intenção é startar a vontade de aprender profissões interessantes e que estão em evidência no mercado. Quem participa do Projeto sai com um outro olhar e uma novidade no currículo que pode mudar o rumo da sua história”, ressalta Anjos.
Marcos Donizetti da Silva, foi professor de Fotografia e Audiovisual na primeira edição, em 2018. “Foi grande o número de atendidos e ainda os acompanhamos. É gratificante assistir ao progresso deles”. Silva ressalta que muitos jovens tiveram acesso pela primeira vez a uma iniciativa de capacitação e empreenderam, outros qualificaram produtos e serviços que já ofereciam em suas localidades. Para ele, a Caravana contribui para que as políticas de ações afirmativas alcancem o maior número entre os 53,5% de autodeclarados negros do estado.
Na segunda edição serão nove os municípios a receber a intervenção: Bonfinópolis, Francisco Sá, Japonvar, Ponto Chique, Campo Azul, Diamantina, Arinos, Francisco Dumont e Pintópolis. O município de Bonfinópolis é o mais distante e está a 704 Km da cidade sede do Projeto – Belo Horizonte. Já o município mais próximo é Arinos, situado a 1h20 de distância. “Nossa participação é um esforço que vale a pena, muda realidades sociais”, complementa Silva.
Bonfinópolis/MG – Primeiro município a receber a Caravana em sua segunda edição é considerada uma das mais vulneráveis do Noroeste de Minas Gerais. A comunidade é pequena, tem cerca de cinco mil habitantes segundo o IBGE e base econômica na agropecuária. O acesso à internet ou a tudo o que envolve produção audiovisual é praticamente nulo.
Para que se levasse toda a estrutura necessária à realização de cursos de qualidade para Bonfinópolis, foram investidos pouco mais de R$ 100 mil. Todo o equipamento foi migrado da capital do estado até a comunidade. Anjos afirma que a divulgação realizada atraiu bem o público alvo e que cerca de 400 jovens já estão sendo atendidos.
Maysa Kelly Silva Peixoto tem 15 anos de idade e está envolvida em quatro oficinas. Decidida já prepara seu currículo para o futuro. “Sempre desejei ser uma grande fotógrafa e agora a chance veio para eu começar minha carreira”, diz. Sua amiga Khyane Evherlin Lopes da Fonseca, também tem grandes sonhos. “Eu quero ser médica veterinária, mas as chances aqui são poucas. Enquanto estudo aproveito todas as oportunidades que surgem”, afirma.
Maysa conta ainda que no Projeto está aprendendo sobre amor próprio e se empodera. “Fui vítima de racismo quando ainda nem entendia o que era isso. Agora sei que não posso deixar meus sonhos de lado pelo modo como enxergam meu tom de pele”, enfatiza. Tão jovem, ela influencia adolescentes de sua idade, pois hoje tem outra visão de como se dão certos preconceitos. Referência em sua comunidade, Maysa orienta a quem pode para que o futuro de todos seja melhor.