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CULTURA NEGRA
Hip-hop agitou a Fundação Palmares nesta sexta (18)
Os MCs de Brasília ocuparam os espaços da casa da cultura afro-brasileira, nesta sexta (18)
Foi uma tarde-noite de música, dança e palavras. Palavras vigorosas, dignas da expressão cultural que a Fundação Palmares abrigou nesta sexta (18), fazendo jus ao movimento político que deu voz às periferias brasileiras.
Breakdance e rap deram o tom do evento. O breakdance, com seus passos improvisados, ritmados, envolventes, que contagiaram a todos e todas presentes – do público aos artistas convidados, passando pelos servidores e colaboradores da |Palmares.
O rap, com seus versos de denúncia e protesto, que incendiaram a plateia. Afinal, como depôs o DJ Jean, o rap é mais que música: “É um meio de transformar a realidade. É ferramenta de trabalho, resgate e prosperidade”.
– O rap faz com que o jovem se veja como artista, afastando-o do desejo de seguir caminhos como o crime ou a violência, resumiu o DJ.
É essa ferramenta poderosa que o projeto “Palmares canta, conta e dança” se propôs a potencializar – o que foi compreendido e abraçado, com entusiasmo, pelos artistas convidados, como Negra Jaque, GOG e os DJs Marola e Jean.
– Essa iniciativa é extraordinária. Quanto mais fazemos eventos para olhar para nós mesmos, para nos fortalecer e valorizar nossas identidades, mais isso é fundamental para o futuro do país (Negra Jaque).
– A iniciativa da Fundação Palmares, de se aproximar dos jovens da periferia e abrir portas para o hip-hop é, sem dúvida, uma ação transformadora (DJ Jean).
Foram ricos, os depoimentos. Todos exaltando a iniciativa da Fundação Cultural Palmares e postulando a continuidade do projeto “Palmares canta, conta e dança”. Mas paremos de mediar, e deixemos os interessados falarem.
Trechos dos depoimentos
NEGRA JAQUE <- <- <-<- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <-<- <-<- <-<- <-<- <-<- <-
Sempre fui uma adolescente rebelde. Então, quando conheci o rap, foi uma forma de me conectar com o mundo, com as coisas, de ter memórias do que eu estava fazendo. Hoje, o rap entrou em várias plataformas, especialmente digitais. É extremamente consumido em seus diversos aspectos, em tudo o que o envolve, na própria construção do rap.
O futuro da comunidade segue com a minha colaboração na expansão do mundo e na construção de cidadania, mas existe uma vertente preocupada em ser artista, e não é só isso [...]. A gente não pode deixar de ser próspero, porque eu acho importante que pessoas negras tenham recursos, mas não podemos perder a nossa essência.
Eu penso que, mesmo sendo o hip-hop uma cultura de revolução, ele é feito por pessoas, e as pessoas refletem o que sofrem. Então, ele não deixou de ser violento, nem de ser, muitas vezes, abusivo [...]. Apresentar minhas músicas, fazer shows, dar palestras e apoiar outras meninas e meninos foi a melhor maneira que encontrei de denunciar e refletir sobre o legado do passado.
Essa iniciativa da Fundação Palmares é extraordinária. Quanto mais fazemos eventos para olhar para nós mesmos, para nos fortalecer e valorizar nossas identidades, mais isso é fundamental para o futuro do país. Não estou dizendo isso da boca para fora. Não é brincadeira, não é discurso ensaiado, é real. Quanto mais fortes formos, com uma identidade bem construída e empoderada, mais conseguiremos construir um país melhor.
DJ JEAN <- <- <-<- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <-<- <-<- <-<- <-<- <-<- <-
O rap, sem dúvida, é a voz da periferia. Ele expressa que o jovem da periferia não tem acesso aos benefícios que muitas vezes a classe média e comercial possuem. A questão do ensino, da saúde e da educação é completamente diferente no contexto do rap. O rap denuncia essas desigualdades, expressa e grita essas realidades.
Ele busca uma igualdade plena, onde seja possível andar em um carro bom, ter uma casa confortável e viver de forma digna. O rap é mais do que música: é uma ferramenta de resistência e transformação social, que oferece aos jovens da periferia uma chance de se expressarem e de reivindicarem seu lugar na sociedade.
A iniciativa da Fundação Palmares, de se aproximar dos jovens da periferia e abrir portas para o hip-hop é, sem dúvida, uma ação transformadora. O fato de o Estado estar mais presente em comunidades vulneráveis, oferecendo oportunidades culturais, significa menos caminhos para o crime e menos encarceramento.
Esse movimento é essencial, uma das melhores iniciativas do momento, e tem potencial para gerar frutos a médio e longo prazos. É uma semente plantada agora, que precisa de cuidado e continuidade para crescer e dar resultados duradouros. Não se trata de um projeto passageiro, mas de uma caminhada que deve ser constante.
Muitos jovens vão poder reconhecer e agradecer por esse espaço. O que começa como uma iniciativa cultural pode se tornar uma rede de transformação social profunda, e o reconhecimento é um testemunho importante do impacto que essa parceria já está causando. Que a Palmares siga firme nessa missão e que os frutos dessa caminhada se multipliquem.
GOG <- <- <-<- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <- <-<- <-<- <-<- <-<- <-<- <-
O rap é mais do que uma expressão musical; ele é a tradução do cotidiano e um campo de ação onde se discutem questões sociais, raciais, econômicas e identitárias. Continua sendo uma ferramenta potente de denúncia, resistência e transformação.
A realidade está em constante construção. Por isso, os temas, letras, métricas e ritmos evoluem e se renovam. O novo sempre se apresenta, mas nem tudo que é novo se configura como uma novidade real. A essência do rap se mantém, mas ele se adapta ao tempo e aos desafios atuais.
Enfrentamos diversos tipos de preconceito ao longo do caminho, e essa é uma realidade que persiste. Enxergamos o preconceito como um termômetro que indica a necessidade de mantermos nossa luta ativa. Para nós, a música é uma forma de resistência e denúncia. É a arma com a qual combatemos a discriminação e reivindicamos nosso espaço.
A parceria com a Fundação Cultural Palmares é fruto de um diálogo franco e extremamente necessário. O presidente João Jorge e sua equipe nos enchem de orgulho por conduzirem uma negociação pautada no respeito e reconhecimento do trabalho que o movimento hip-hop brasileiro vem realizando há mais de quatro décadas.
Ações como essa tiveram impacto concreto nas comunidades e, agora, com essa nova fase, têm potencial para avançar ainda mais. Encontros como o "Palmares Canta Conta e Dança" são essenciais para inspirar jovens a seguirem na música e atuarem como agentes culturais em seus territórios.