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GOG, o poeta do rap nacional
Por Joceline Gomes
Rimas contundentes e militância política – o rapper GOG trará esses elementos para o show do dia 18/08, que encerra a programação do 23º Aniversário da Fundação Cultural Palmares no Teatro Nacional de Brasília.
Um dos pioneiros do movimento rap em Brasília, suas ideias e letras são consideradas verdadeiros protestos sociais. Sempre abordando temas sociais e políticos em seus versos, GOG se tornou um intelectual da cena do rap brasileiro.
Em entrevista exclusiva concedida ao site da Palmares, o rapper e escritor brasiliense Genival Oliveira Gonçalves, mais conhecido pelas suas iniciais GOG, mostrou porque é considerado o “Poeta do Rap Nacional”.
1) O Brasil vem construindo políticas públicas para a inclusão social da população negra nos processos de desenvolvimento do País. Você acredita que a implementação de leis como o Estatuto da Igualdade Racial podem contribuir para a diminuição do racismo?
Sim. Além de contribuir para a diminuição, ele também nos presta serviços como termômetro do racismo enraizado no Congresso Nacional e na sociedade que ele representa. O Estatuto da Igualdade Racional é um Despertador Negro e Periférico e durante o processo de sua aprovação, que durou anos, olhares atentos e desatentos perceberam que, para além de uma grande conquista, é o rompimento com uma era. Agora, temos que ter foco e disciplina para transformá-lo numa ferramenta ainda mais poderosa na preservação dos nossos direitos.
2) Em algumas de suas entrevistas, você afirmou que a mídia não se interessa pelo Hip Hop, e que, quando se interessa, é na música como produto. Como você vê o interesse pelo Hip Hop hoje?
O interesse continua sendo mercadológico, de vendas. Penso que o Hip Hop é o movimento social, cultural, musical mais importante deste século e do passado, primariamente, pelo resgate da autoestima da juventude negra e periférica. Isso é pouco falado, dizem apenas que é o ritmo mais executado. São dimensões paralelas, mas diferentes. O mercado quer amputar a veia social, transformadora e revolucionária. A arte pela arte deixaria o Hip Hop no campo do senso comum, da grande maioria dos estilos musicais. Digo isso com respeito a todos eles.
3) Você acha que a mídia tem tido um olhar mais atento às questões sociais, sobretudo, da população negra?
Não, pelo contrário. A mídia tem sido cada vez mais pejorativa. Por outro lado, temos uma parte da mídia, bem intencionada, mas que nos vê apenas como exóticos. “Nossa! Vocês são legais! Cantam dançam, fazem oficina, que legal!” Por último, temos uma mídia mais séria por parte de algumas revistas (raras), jornais e principalmente de sites especializados. Só atendo a mídia depois de ver atentamente seu histórico!
4) Hoje é possível ver negros como protagonistas de novelas, filmes e propagandas. Algo que não era possível há alguns anos. Na sua opinião, o negro brasileiro está bem representado atualmente?
Artisticamente sim. Quanto ao enredo, aos roteiros, não. Lélia Gonzales dizia: temos que ter a percepção aguçada – Até que ponto são conquistas, ou espaços que estão nos abrindo, simplesmente por abrir, para dar a sensação de avanços, sem mudar a estrutura. O artista negro não diz o que deve ser dito e sim o que é ditado!
5) Para você, o que seria um país pleno de igualdade de oportunidades?
O Estudo é o escudo. Acredito num pacto social, numa ação coletiva, sem hierarquia. Cada um contribuindo com o seu talento. O Hip Hop hoje já escreve livros, tem uma autoestima bem mais elevada, e isso vai fazer a diferença e ter um peso substancial nas novas gerações, nas lutas que ainda teremos que travar.
6) Como o Brasil pode superar essa situação de desigualdade racial e social por meio da cultura?
Reverberando que cultura é uma salada de frutas deliciosa, que todo mundo pode contribuir, e que a falta de um ingrediente será uma perda na obtenção do grande sabor social que ela pode proporcionar.
7) O que o público da Fundação Cultural Palmares pode esperar do seu show no Teatro Nacional?
Uma celebração. Aliás, venho dizendo há anos que não faço mais show. Faço celebrações, e explico. O show se transformou em algo muito plástico, decoreba, por mais belo que seja, é a minha impressão. Já a celebração festeja o improviso, o momento, o olho a olho com o público, a aparição das lágrimas, da emoção desregrada, das rugas, do tempo, do velho se fazendo novo, e vice-versa. A expectativa é enorme! Iremos apresentar algumas músicas inéditas do novo disco. Estarei acompanhado com o DJ A e grandes artistas aqui da cidade, como Máximo Mansur, Higo Melo e Marielhe Borges.
* Para participar dessa celebração à cultura afro-brasileira, retire o ingresso no Foyer do Teatro Nacional, no dia 15/08, a partir das 14h. Serão liberados apenas dois ingressos por pessoa.