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Giro Cultural expõe vivências e debate a arte como espaço educativo
Foto: Ricardo Prado
Cerca de 150 crianças e adolescentes ouviram atentas histórias da vida real de como a arte pode mudar a vida das pessoas. O encontro foi proporcionado pelo Giro Cultural da última sexta-feira (29), na sede dos Filhos de Gandhy, no Pelourinho, em Salvador, com o tema A arte muda nossa vida.
O encontro reuniu Margareth Menezes, o presidente da Fundação Cultural Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura, Zulu Araújo, os artistas Érico Brás e Valdinéia Soriano, do Bando de Teatro Olodum – que fazem o seriado Ó pai Ó, além do ator Jackson Costa, do professor e compositor Jorge Portugal e do fundador do Projeto Axé, Cesare de La Rocca.
Os meninos – das Organizações Não Governamentais (ONGs) Grupo Pim (Projeto de Iniciação Musical), Herdeiros de Angola, do Grupo Palafitas e da Fábrica Cultural, mantida por Margareth Menezes – presenciaram um grande encontro de pessoas envolvidas com arte e que já tiveram seus caminhos cruzados em algum momento de suas vidas. O Giro é parte do Movimento AfroPop Brasileiro comandado por Margareth Menezes e patrocinado pela Palmares.
Zulu Araújo era diretor cultural do Olodum quando Érico e Valdinéia fizeram o teste para entrar no Bando e já tinha sido produtor cultural de Margareth que já gravou músicas de Jorge Portugal. Jackson e Cesare têm trabalhos reconhecidos por todos.
Histórias muito parecidas. Nascidos em favelas ou em locais muito pobres tiveram na interpretação, na música, na poesia, suas vidas transformadas. Érico lembrou, no entanto, que quando começou a fazer teatro na escola só podia participar das atividades se tivesse boas notas, o mesmo critério utilizado pelo Bando de Teatro Olodum.
Cesare contou outra história. Italiano há 43 anos no Brasil e 31 na Bahia encontrou em Salvador traços de sua cidade natal, Florentina. “Aqui as pessoas respiravam arte, há beleza nas ruas, antigos casarões”, conta o italiano que trabalha com meninos e meninas de rua usando a “arte educação” como forma de transformação para ´livrá-los´ de abuso sexual e do trabalho, por exemplo. “Arte não é o instrumento para educar, ela é a educação. Sem arte não é possível viver”.
Arte que recentemente mudou a vida dos meninos do Grupo PIM. O projeto vai virar Ponto de Cultura em cerca de um mês. Istso foi uma determinação do presidente Lula depois de ver a apresentação das crianças – de 4 a 7 anos – na abertura da exposição O Benin está vivo ainda lá, no Museu Afro Brasil, na Semana do Benin na Bahia, promovida pela Palmares. “A arte que eles apresentaram vai fazer a vida deles se transformar”, comemora Zulu.
Zulu que não é artista, músico ou poeta, mas também teve a vida transformada pela arte e explicou para a garotada seu papel no meio de tantas artistas. “Se há algo que pode mudar nossas vidas é a cultura. Ela muda nossa cabeça, nossa consciência, ela é uma ferramenta para se processar a vida com qualidade, e não precisa, necessariamente, ser engajada”.
Ele explica que a arte é uma das coisas mais importantes na Bahia. “Aqui há vários desejos, talvez nem todos vocês tenham sucesso, mas por meio da arte vão saber ser cidadãos e poderão interferir na sociedade. Diferente de Cesare, nós não estamos aqui por opção, não somos imigrantes, somos descendentes de escravos, de pessoas que vieram para o Brasil forçadas. Ainda hoje vivemos os resquícios desses 400 anos de escravidão. A forma de mudar nossas vidas é pela arte, a arte que vem de nossas origens, recebida de nossos ancestrais”.
“Estou aqui porque estou presidente da Palmares que trabalha com a cultura para transformar a sociedade. A Fundação é a primeira instituição governamental para tratar de arte negra. Ser chamado para compor a diretoria da Fundação e depois sua presidência foi uma das grandes alegrias da minha vida, porque eu ajudei a construir essa Fundação e 19 anos depois me tornei seu presidente. A primeira grande alegria da minha vida foi ter me formado em arquitetura, um curso considerado de elite que só tinha dois negros na minha época. Nasci em uma favela e fui o único filho a se formar. Por isso, tenham garra e determinação, porque vocês têm que ser bom no que fazem”, orienta.
Margareth, que vem de uma família de mágicos, revelou sua emoção ao ver a concretização de um sonho. “Há muito tempo eu tenho esse projeto de conversar com crianças e adolescentes sobre coisas da vida real, sobre as histórias que as novelas não contam e sobre a possibilidade de se realizar sonhos”.
Os convidados receberam do produtor do PIM, João Ferreira, o livro Uma semente de esperança, que conta a história de várias ONGs baianas que cuidam de crianças. O encerramento ficou por conta do som do Grupo Palafita.
Assessoria de Comunicação da FCP