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Fundação Palmares participa de ato na Semana do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa
Por Emiliane Saraiva Neves
Buscando conscientizar a população sobre o combate à intolerância religiosa, foram distribuídos 2.000 panfletos aos que circulavam na Rodoviária de Brasília na última sexta-feira (20). Os panfletos traziam orientação sobre o direito e dever de denunciar pelo DISQUE 100 as agressões sofridas por intolerância religiosa. Mostravam que estas devem ser encaminhadas também para redes de proteção, órgãos de investigação e apuração como o Ministério Público e Delegacias Especializadas.
O evento foi uma iniciativa da juventude da Renafro-DF que contou com o apoio da Fundação Cultural Palmares, da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, da Secretaria Nacional de Segurança Pública e da Secretaria de Estado de Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos – SEDESTMIDH.
A campanha foi bem recebida pelas pessoas que transitavam no local. Muitas mostraram interesse em compreender o que estava sendo passado e pararam para ouvir. Outras foram além, pediram a vez para manifestar o que pensavam sobre o assunto e fazer denúncias. Representantes de vertentes religiosas estiveram presentes para ajudar a levar a mensagem. A Pastoral da Saúde da Igreja Católica, a Igreja Assembleia de Deus Liberdade e Vida, a Força Afro, o Conselho Nacional das Igrejas Cristãs e a Iniciativa da Religiões Unidas reforçaram naquele momento a importância da paz e do diálogo respeitoso entre a sociedade e os diversos segmentos religiosos.
Vários depoimentos foram gravados e projetados em um telão na rodoviária. E o registro do relato de Pai Silvio Ojú Obá foi uma evidência da importância da campanha. Ele disse: “Nós não podemos mais admitir esses atos de intolerância contra a nossa religião. Nós estamos sendo massacrados. Eu estou aqui na Prainha, em frente à imagem de Oxalá, que no ano passado foi depredada, queimada. Digo que ela foi violentada, porque pra gente ela tem um grande significado. Não podemos mais aceitar essa falta de respeito e dignidade”.
O 1º Secretário da Aliança de Negras e Negros Evangélicos, Pastor Wilson Barboza, participou da campanha e entende que é tempo das lideranças das igrejas protestantes fazerem um concílio e chegarem à uma resolução que direcione as igrejas ao respeito às demais religiões. Tatiane Pontes, participante da Rede Ecumênica da Juventude, vê que a campanha é extremamente válida, assim como outros tipos de atos públicos, manifestações e notas de repúdio. Contudo, considera imprescindível o investimento na educação para mudar a cultura de intolerância.
Ana Flávia Barbosa, que passava no local e parou para ouvir os discursos, disse que intolerância religiosa é um tema pouco debatido. Para ela, diante do que vem acontecendo pelo país o assunto não é discutido nos programas de televisão, revistas e mídias sociais na medida necessária. Percebe que as falas de combate à intolerância ainda são feitas geralmente pelos grupos que sofreram a agressão para os seus pares. Segundo Ana Flávia é importante que a mensagem chegue e seja tratada entre os que praticam a intolerância, que é onde está o foco do problema.
Acompanhando o número crescente de casos de intolerância religiosa e em atendimento à requisição do movimento civil organizado, a Fundação Cultural Palmares, em agosto de 2016, instituiu a Comissão Afro Religiosa. A comissão atua como uma interlocutora da comunidade afro religiosa de Brasília e Entorno junto à Fundação. Cabendo a ela trazer à instituição as demandas dos povos de terreiro com o objetivo de colaborar na construção de políticas públicas e no combate à intolerância racial, social e religiosa.
Ela é composta pela Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno, Forum Permanente Religioso das Religiões Afro de Brasília e Entorno, Movimento do Orgulho Afrodescendente, Coletivo de Entidades Negras, Força Afro Brasil, Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde, Rede Afro Sociocultural, Instituto Ojuobá e Jovens de Axé e Juventude de Terreiro. Outra atuação da comissão é a retro colaboração na execução dos mapeamentos dos Ilês (templos de religiões de matriz africana). A Fundação Palmares também tem cadeira no Conselho de Defesa dos Direitos do Negro do DF.