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Fundação Cultural Palmares participa de ato contra a intolerância religiosa

Publicado em 18/04/2016 15h00 Atualizado em 01/11/2023 14h35
Fundação Cultural Palmares participa de ato contra a intolerância religiosa

Na última sexta-feira (15), foi realizado, na Praça dos Orixás, o Grande ato de louvor a Oxalá, como resposta ao incêndio criminoso motivado por intolerância religiosa que destruiu a estátua de Oxalá. O evento foi organizado pela Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e do Entorno e pelo Fórum Permanente das Religiões de Matrizes Africanas de Brasília e Entorno (Foafro-DF).

Vestidos de branco, simbolizando a paz e a cor do orixá da criação, adeptos e diversas lideranças das religiões de matriz africana, de outras segmentos religiosos, representantes de diversas entidades representativas do povo de santo e representantes do GovernoFederal e do Distrito Federal participaram do ato. A presidenta da Fundação Cultural Palmares (FCP), Cida Abreu, juntamente com o diretor do Departamento de Fomento e Promoção da Cultura Afro-Brasileira, Anderson Quack, e a chefe de divisão do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro, Mãe Baiana, também se fez presente.

O ato contou com o apoio do movimento Poetas pela Democracia, que é composto por membros de vários coletivos, de diversos estados. Para o coordenador, Joãozinho da Vila, a arte “tem a missão de conscientizar, fazer as pessoas mudarem o pensamento. A arte é política.” Já para Jorge Amâncio, a participação do coletivo no ato se faz natural pois, segundo ele, “a intolerância e a não democracia estão interligadas.”

O coordenador do Foafro-DF, Ògan Luiz Alves, um dos organizadores do ato, denunciou o fato de que, nos últimos anos, devido aos recorrentes ataques às casas de umbanda e candomblé, Brasília tenha se transformado na “Meca da intolerância religiosa”. De acordo com ele, “crianças estão sendo cerceadas nas escolas por portarem fios de conta. Muitas pessoas não se sentem à vontade e seguras para portar os símbolos de sua religião no ambiente de trabalho. Porém, o povo de santo, que foi forjado na luta, não pode ser omisso perante demonstrações de intolerância religiosa!”

Também esteve integrando o Grande ato de louvor a Oxalá Stéffanie Oliveira. Foi ela quem, no último dia 10, viu a estátua em chamas, acionou os bombeiros e comunicou a algumas lideranças o que estava ocorrendo. A cena foi presenciada por acaso, quando cruzava a Ponte Honestino Guimarães. Segundo Stéffanie, lá já haviam pessoas que, de dentro de seus carros, estavam tirando fotos do incêndio, porém ninguém havia tomando a iniciativa de acionar a Polícia ou o Corpo de Bombeiros, talvez por medo ou preconceito, “porque quem não vive a religião tem medo das manifestações afro.” – conclui.

Stéffanie disse que sentira medo de, ao descer até a praça para tirar as fotos do ataque à imagem de Oxalá, se deparar, no exato momento em que tentava defender sua crença e denunciar o atentado a um símbolo de sua religião, com a pessoa que ateou fogo à estátua. Para ela, o problema é que, além da Praça [dos Orixás] sempre ter sido muito abandonada, há hoje crescentes manifestações de fanatismo e fundamentalismo em nossa sociedade, que faz com que as pessoas se tornem intolerantes e sejam incapazes de “enxergar a beleza da diversidade”, principalmente quando ela envolve pessoas ou elementos da cultura negra, o que revela que atos de intolerância contra religiões de matriz africana são, na verdade, expressões de racismo.

Assim como Stéffanie Oliveira, o coordenador-geral do Coletivo de Entidades Negras (CEN), Marcos Rezende, entende que atos de intolerância religiosa como o que ocorreu na Praça do Orixás são expressões de racismo religioso, pois os alvos são, em sua grande parte, “as religiões de negros. É isso que faz também com que a sociedade não se comova, ao contrário do que aconteceria se uma cruz fosse queimada.”

A presidenta Cida Abreu, por sua vez, destacou que a intolerância religiosa “ataca os filhos do Brasil, independente de quem seja. Os intolerantes têm que entender que nossa terra, nosso país, não compactua e não admite manifestações de ódio.” Ela ainda registrou que, há poucos dias, a FCP, a Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal e outros órgão distritais e federais reuniram-se com a Administração Regional do Plano Piloto para retomar o projeto de revitalização da Praça dos Orixás, visando reformar suas estruturas, melhorar a iluminação, garantir a segurança e torná-la um espaço convidativo para convivência, contemplação, celebração e louvor.

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