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Fundação Cultural Palmares inaugura nova sede
Presidente da FCP dá boas-vindas aos convidados
Zulu Araújo abriu os discursos agradecendo a presença de todos e falou sobre a importância da Fundação Cultural Palmares para a divulgação, promoção e preservação da cultura afro-brasileira. O presidente defendeu o processo de certificação das comunidades quilombolas, que tem sido criticado pela mídia. “Hoje, nós temos mais de 1.200 comunidades remanescentes de quilombos reconhecidas e certificadas, apesar de parte da sociedade brasileira tratar essa ação de uma maneira incorreta”, afirmou. Ele ressaltou que a situação das comunidades quilombolas é uma conseqüência do processo dos quatrocentos anos de escravidão na sociedade brasileira.
A liderança da Fundação Cultural Palmares na implantação do sistema de cotas nas universidades também foi lembrada por Zulu. “Os 200 mil jovens que ingressaram nas universidades pelas cotas não vão contribuir apenas com a comunidade negra, mas vão contribuir para o desenvolvimento do nosso país”, afirmou. Zulu destacou ainda as ações da Palmares no campo internacional, por meio do diálogo cultural com as comunidades negras da África e da América Latina. “A Fundação Palmares compreende que a cultura pode ser um belíssimo instrumento para esse diálogo”, disse ele, lembrando do próximo Festival Mundial de Arte Negra, que acontecerá em 2009 no Senegal.
Após a fala do presidente da Fundação, a ialorixá Mãe Railda liderou uma reza aos orixás e pediu a bênção de Xangô para a nova sede da instituição. A deputada Érika Kokay falou que o Brasil vive uma crise de identidade cultural ao negar sua negritude: “A cultura que a Fundação Palmares exala é a construção de identidade, com toda a diversidade e com a toda a inclusão que faz de nós esse povo brasileiro, mestiço e diverso”. A embaixadora do Marrocos, Farida Jaidi, agradeceu a Zulu por ter falado das raízes do Marrocos, enfatizando que 50% dos marroquinos são negros. O embaixador de Cabo Verde, Daniel Pereira, disse da importância de se celebrar o passado e de olhar para trás para se avaliar o percurso. O ministro interino da Seppir, Elói Ferreira, falou que a Fundação Cultural Palmares é uma referência para todas as pessoas que trabalham pela igualdade racial.
O presidente da Fundação Cultural Palmares encerrou a cerimônia de inauguração da nova sede, agradecendo também aos diretores Antônio Pompêo e Maria Bernadete Lopes, e aos funcionários. A partir das 20h, no Teatro Nacional, a Fundação Cultural Palmares dará continuidade à comemoração dos 20 anos, com a entrega de prêmios a personalidades que contribuíram com sua trajetória seguida de show da cantora Margareth Menezes.
Juca Ferreira, ministro interino da Cultura
“A Fundação Cultural Palmares tem a responsabilidade política focada na contribuição que os africanos nos deram. Ora isso é quebrar preconceitos, ora é sublinhar o que já foi assimilado de igualdade racial, ora é abrir pontes para novos projetos. Por isso, tem a ver com todas as dimensões do Ministério da Cultura. A Palmares está indo bem e precisa ser fortalecida”.
Zulu Araújo, presidente da Fundação Cultural Palmares
“Ao celebrar esses vinte anos, ocupar neste novo espaço é o reconhecimento do atual Governo com as nossas reivindicações. Não é no discurso que está a valorização da cultura negra, temos que ter condições de trabalho. Por isso, nosso reconhecimento ao ex-ministro Gilberto Gil, que desde a primeira hora nos garantiu que iria fazer a mudança.
Este é o testemunho da luta de todos, é mérito da comunidade negra, do trabalho de todos os ex-presidentes. É uma conquista de todos que contribuíram para que essa realidade seja plena e possa ser consolidada e ampliada”.
“A Fundação Palmares é fundamental para a luta das religiões de matriz africana, ela procura mostrar o lado cultural, não só da religião. O apoio financeiro para projetos sociais dos terreiros tem sido de extrema importância”.
Patrícia Zappone, advogada, coordenadora do Ponto de Cultura da Casa Afrocultural e Assistencial São Jorge na Cidade Ocidental
“O papel da Palmares é primordial para as instituições se organizarem e mostrarem aos membros da comunidade a importância de se reconhecerem afro-descendentes. Infelizmente, muitos não têm consciência de sua africanidade. A intolerância ainda é grande e é preciso quebrar esse processo. E a Palmares dá o suporte tanto financeiro quanto operacional. Se não fosse a Palmares, não teríamos como romper a barreira da intolerância”.
Paulo Roberto dos Santos, assessor da Superintendência de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Rio de Janeiro, integrante da comissão que elaborou o projeto de criação da Palmares
“É uma satisfação absoluta, não consigo traduzir em palavras o que sinto. Esta é a concretização de um sonho. Um sonho compartilhado com muitos”.
Nelson Inocêncio, artista plástico e membro do Conselho Curador da Palmares
Hoje, a Palmares está conseguindo cumprir boa parte de seu projeto, embora os recursos sejam parcos. Por isso, é importante lutar por mais recursos para que a Palmares avance e possa tocar seus projetos apoiando políticas públicas voltadas para a população negra”.
Carlos Moura, primeiro presidente da Fundação Cultural Palmares e membro da comissão que elaborou o projeto de criação da Palmares
“É um momento de grande satisfação e um justo orgulho em ver o crescimento da Palmares. É a porta de entrada da consolidação da Palmares diante dos objetivos que são propostos por ela. É crescente a afirmação da Palmares no cenário político brasileiro”.
Dulce Maria Pereira – ex-presidenta da Fundação Cultural Palmares
“À direção, conselho e todos os funcionários da Fundação Cultural Palmares desejo sucesso, alegria e grandes realizações pela inclusão e valorização do povo negro brasileiro. Parabéns à Fundação Cultural Palmares e votos de longa vida a todos que se dedicam à sua consolidação e expansão. Ao presidente, Zulu Araújo, que conduz a instituição rumo à maturidade, envio votos de constante lucidez e paz, congratulando-o pela eficiência e amplitude de visão.
Viva a Palmares, viva a história negra brasileira, viva a Fundação!”
Maria Luíza Júnior, militante do Movimento Negro em Brasília e membro da comissão que elaborou o projeto de criação da Palmares
“Em 1976 um grupo de ativistas negros começou a se reunir para discutir reivindicações para a população negra. Naquela época, juntamente com um grupo de Alagoas, foi elaborado um projeto para a criação do parque temático na serra da Barriga. Lançada a semente do tombamento da Serra da Barriga, o projeto teve o apoio do presidente do Iphan, Olímpio Serra, que o encaminhou para parecer. O projeto teve apoio de intelectuais como Abdias do Nascimento, recém-chegado do exílio, Joel Rufino dos Santos, que veio a ser presidente da Palmares, Clóvis Moura, Lélia Gonzalez.
A Palmares surgiu para o governo implementar políticas públicas. O movimento negro de Brasília resultou no CEAB – Centro de Estudos Afro-Brasileiros, que teve como primeiro presidente Carlos Moura. Como estava em Brasília, era mais fácil para a militância daqui fazer pressão com as autoridades. Foi assim que o Movimento Negro conseguiu, em 1978, que o governo retirasse das inscrições para concurso publico a exigência da fotografia 3X4. A constatação era de que a partir da foto, já se discriminavam os candidatos negros.
A Fundação Palmares veio para criar esse elo entre os movimentos e o governo, promovendo o debate. Mesmo antes da abertura política, o Movimento Negro se mobilizava para reivindicar a promoção de políticas fundamentais para o povo brasileiro ter conhecimento das raízes africanas.
Na Constituinte, o Movimento Negro de Brasília teve papel importante. Convocou todo o movimento e realizou em três dias a Convenção do Negro pela Constituinte, em 1986. Aprovamos um rol de reivindicações para os deputados eleitos para a Constituinte: racismo é crime inafiançável; o negro participa na formação histórica do Brasil; a inclusão do negro nos livros didáticos e nos currículos escolares; o reconhecimento e titulação dos territórios quilombolas; todas as polícias do Brasil deveriam ter curso, ser treinadas e respeitar os direitos humanos; a garantia dos direitos humanos; os direitos iguais para mulheres; a valorização da cultura negra”.
João Jorge, presidente do Bloco Afro Cultural Olodum
“A Fundação Cultural Palmares tem criado políticas públicas que aceleram o desenvolvimento da cultura brasileira e do poder simbólico. Essa mudança para um novo espaço mostra o reconhecimento da presença afro-brasileira em nosso continente. A presença dos embaixadores dos países africanos também é de fundamental importância, pois mostra que a Palmares está atualizada com as questões culturais no mundo”.