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Fundação Cultural Palmares homenageia Abdias Nascimento
Por Denise Porfírio
Com uma trajetória marcada pelo ativismo, Abdias Nascimento (1914-2011) conseguiu importantes resultados de suas iniciativas na defesa e na inclusão dos direitos dos afrodescendentes brasileiros, principalmente, por meio de políticas públicas. O ativista de destaque internacional morreu aos 97 anos, deixando sua contribuição para o fortalecimento da autoestima e para a reconstrução da história do negro no Brasil.
Como parte do Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes e para marcar as comemorações do 23º aniversário da Fundação Cultural Palmares, a memória de Abdias Nascimento será lembrada com a entrega do Troféu Palmares à viúva do líder negro, Elisa Larkim. A homenagem Post Mortem acontecerá no próximo dia 18, no Teatro Nacional, às 20 horas, em Brasília.
O Troféu Palmares é destinado ao reconhecimento às realizações que contribuíram para a promoção e difusão da cultura afro-brasileira e este ano, excepcionalmente, terá um único homenageado. Decisão publicada no último dia 12 de agosto, no Diário Oficial da União, sob a Portaria N° 123.
Para o presidente da Fundação Palmares, Eloi Ferreira de Araujo, Abdias Nascimento é um exemplo de luta e dignidade. “Precisamos unificar as ações civis, políticas, não-governamentais para acabar definitivamente com o racismo, o preconceito e a discriminação racial e continuar com a luta iniciada por esse importante expoente do movimento negro. Abdias deixa um legado para os brasileiros e brasileiras que sofreram e sofrem a mais vil de todas as agressões que é o racismo e o preconceito racial”, afirma.
Eloi Araujo ainda acrescenta que os ensinamentos de Abdias fazem com que tenhamos orgulho de sermos homens e mulheres negras e de sermos descendentes dos povos africanos. “Sua luta contribuiu para a elevação da autoestima e da responsabilidade do estado brasileiro para com a população negra, tendo em vista assegurar a igualdade de oportunidade no acesso aos bens econômicos e culturais de nosso país. Portanto, a homenagem ao Abdias no Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes reafirma o nosso compromisso de prosseguirmos com o seu legado”, conclui.
MILITÂNCIA – Em 1944, fundou o Teatro Experimental do Negro (TEN), entidade que patrocinou a Convenção Nacional do Negro nos anos 1945 e 1946. Foi o primeiro deputado federal afro-brasileiro (1983-1987) e, como senador da República (1991, 1996-1999), dedicou seus mandatos à luta contra o preconceito. Em 1988, Abdias tornou-se um dos responsáveis pela instituição da Comissão do Centenário da Abolição e por seu desdobramento na criação da Fundação Palmares.
No mesmo ano, a Constituição do país passou a contemplar a natureza pluricultural e multiétnica, a prática do racismo tornou-se crime inafiançável e, também pela primeira vez, se falou no processo de demarcação das terras de quilombos.
POETA DA IGUALDADE – Nascido em 1914 no município de Franca, Estado de São Paulo, Abdias foi filho de Dona Josina, a doceira da cidade, e Seu Bem-Bem, músico e sapateiro. Embora de família pobre, conseguiu se diplomar em contabilidade em 1929. Aos 15 anos alistou-se no exército e foi morar na capital paulista, onde anos depois se engajou na Frente Negra Brasileira e se envolveu na luta contra a segregação racial.
Dramaturgo, poeta e pintor, atuou também como deputado federal, senador e secretário de Estado, cargo no qual desenvolveu aspectos dessa luta. Autor das obras Sortilégio, Dramas para Negros e Prólogo para Brancos e O Negro Revoltado, relatou nos livros as realidades quilombolas e levantou temas como o pensamento dos povos africanos, combate ao racismo, democracia racial e o valor dos orixás nas religiões de matriz africana.