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Fundação Cultural Palmares encerra dia de aniversário no Teatro Nacional
Publicado em
25/08/2008 09h00
Atualizado em
03/04/2024 09h29
Os três homenageados: a atriz Zezé Motta, a ialorixá Mãe Stella de Oxóssi e o ministro interino Juca Ferreira.
Com o poema “Tem gente com fome”, de Solano Trindade, a atriz Zezé Motta abriu o evento da noite na comemoração dos 20 anos da Fundação Cultural Palmares. A homenagem aos cem anos do poeta negro antecedeu a entrega do Troféu Palmares 20 Anos aos que contribuíram com a Fundação e com a cultura afro-brasileira e o show da cantora baiana Margareth Menezes. A sala Villa Lobos do Teatro Nacional ficou lotada para assistir à cerimônia que encerrou o dia de aniversário da Fundação.
O presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, fez um discurso inicial sobre os 20 anos da instituição, em que agradeceu a presença do ministro interino da Cultura, Juca Ferreira. O presidente disse ainda que a Fundação é um patrimônio do Brasil, que dialoga não só com a sociedade brasileira, mas com a África e com a diáspora. “A Fundação Palmares hoje dialoga, propõe e realiza o compromisso da igualdade, da fraternidade e da liberdade”, afirmou Zulu.
Em seguida, foram entregues três troféus em homenagem às pessoas que contribuíram com a trajetória da Fundação ou que ajudaram na questão da igualdade racial. Receberam os prêmios a atriz Zezé Motta, a ialorixá Mãe Stella de Oxóssi e o ministro interino Juca Ferreira. Com a forma do machado de Xangô, que simboliza a justiça e é a logomarca da Fundação Cultural Palmares, os troféus foram entregues pela primeira desembargadora negra do Tribunal Regional Federal, Neuza Maria Alves, pelo secretário da Identidade e Diversidade Cultural, Sérgio Mamberti, e pelo presidente Zulu Araújo.
Emocionado com a surpresa de receber o prêmio, o ministro Juca Ferreira recordou sua luta pela democracia no período da ditadura, luta que envolvia também a democracia racial. “A luta contra o racismo não é só dos que sofrem o racismo, mas de todo homem e de toda mulher de bem”, afirmou.
Ao final das homenagens, a cantora afro Margareth Menezes levantou o público das cadeiras, tocando seus sucessos de afoxé, axé e samba-reggae. Totalmente influenciada por sua origem afro, a cantora baiana, que há poucos dias estava em Cabo Verde, encerrou a festa de aniversário da Fundação Cultural Palmares no Teatro Nacional, cantando canções cheias da identidade afro-brasileira.
Valorização da cultura afro-brasileira
Após o show, que incendiou o público de mais de duas mil pessoas, a cantora Margareth Menezes falou um pouco sobre o trabalho da Palmares nesses 20 anos. “É importante ressaltar que o trabalho da Palmares cresceu com o esforço das pessoas em querer manter e se empenhar na questão de promover o afro-brasileiro. Todos os movimentos que participei junto com a Palmares, apesar de obter pouca visibilidade na mídia, foram importantes para o resgate da memória e da valorização da cultura africana e afro-brasileira. É sempre bom ver o trabalho da Fundação crescendo”.
A cantora observou também que hoje há mais abertura para se falar e discutir o assunto da diversidade racial. “Os meios de comunicação dão mais destaque a essas mudanças, isso é uma conquista da comunidade negra. O problema é que o Brasil é um país novo, as mudanças demoram a acontecer, mas a vantagem é a velocidade da comunicação que temos hoje, que nos beneficia com maior rapidez para ocorrerem essas mudanças”.
Margareth lembrou, ainda, da condição mais importante para que todas essas mudanças se concretizem e se fortaleçam: “É preciso que a sociedade se conscientize para que as pessoas possam conquistar seu lugar. Educação, saúde e trabalho devem ser para todos. É preciso uma visão mais ampla, os direitos dos cidadãos e os deveres do Estado devem ser iguais para todos. Todos devem receber os mesmo benefícios, sem privilégio”.
Muita luta pela frente
Em entrevista ao Portal Palmares, a atriz Zezé Mota, uma das homenageadas da noite, agradeceu o troféu entregue pela Fundação, e lembrou: “Apesar de já percebermos mudanças notórias devido ao trabalho da Palmares, pois estamos colhendo os louros das mudanças ao sair dos porões (referindo-se à nova sede), ainda temos muita luta pela frente”.
Zezé exemplifica alguma dessas mudanças na área artística. “Há, hoje, uma preocupação de autores e diretores em colocar artistas negros em programas e novelas de televisão. Antes não existia isso. Eu sou de um tempo em que só havia um casal de negros em cada novela. Tínhamos que importar maquiagem, porque não tinha base ou pó de arroz para negros. Não se fabricavam esses produtos porque não havia mercado consumidor entre os afros. As revistas não davam capas para negros. Capa vende, mas antes os negros eram considerados feios. Isso mudou muito, hoje encontramos artistas negros quase todas as semanas em capas de revistas”.
Sobre o trabalho da Palmares, comenta: “A Palmares tem trabalhado muito para essas mudanças, mas ainda temos muita luta. Mesmo assim, estou bastante otimista com esse Governo, pois é um Governo interessado na questão racial, na questão quilombola, tendo criado, inclusive, um ministério pra isso, que é a Seppir. Agora não tem mais volta, nossa luta não pára mais”.