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Fórum discute igualdade racial
Para ele, foi necessária a criação de uma instituição para que o Brasil pudesse conhecer a cultura dos afro-descendentes. Porém, segundo ele, reside aí um paradoxo. “Com 50% da população brasileira sendo afro-descendente e ainda ser preciso que haja uma instituição para divulgar as nossas manifestações culturais é o próprio retrato da discriminação racial no país. Foi preciso criar instituições também como a Secretaria Especial de Promoção de Políticas da Igualdade Racial (Seppir) e as superintendências que estão surgindo nos Estados para dar conta dessa rica cultura afro-descendente. E muitos entendem isso como se fosse benesse ou generosidade da sociedade para com o povo negro”, desabafou.
Zulu falou da importância da implementação das políticas públicas no governo Lula, que têm dado oportunidades principalmente aos jovens negros com a adoção das cotas no ensino superior e do ProUni
O patrimônio imaterial, tema central da mesa, ganhou destaque na fala de Zulu, quando ele afirma que foi a partir da atuação do ex-ministro Gilberto Gil que foi possível tornar o tema realidade no Brasil. Ele deu a conhecer à platéia o empenho de Gilberto Gil para a aprovação da Convenção pela Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, aprovada pela Unesco, em 2005. De acordo com a declaração da Convenção o objetivo principal é fortalecer cinco elos inseparáveis de uma mesma corrente: a criação, a produção, a distribuição/disseminação, o acesso e o usufruto das expressões culturais comunicadas por atividades, bens e serviços culturais – em particular nos países em desenvolvimento. Só por aí explica o papel do ex-ministro para quem a diversidade da cultura é essencial para garantir a democracia.
“O Brasil, pôde, assim, a partir dessa Convenção, formular políticas que não só servem para dar uma concepção antropológica da cultura, mas uma dimensão simbólica, uma dimensão de direito de cidadania, pois cria possibilidades de acesso a bens e serviços; e uma dimensão econômica, pois não pode estar dissociada da economia que ela gera”, disse Zulu.
A partir dessa visão, explica Zulu, é que o ex-ministro criou uma diretoria de Patrimônio Imaterial no Ministério da Cultura, para fazer com que manifestações culturais negras pudessem fazer parte do patrimônio brasileiro. “Isso é fruto de uma visão que reconhece que o Brasil é um país plural”.
O presidente da Palmares teceu críticas à visão conservadora de grande parcela da população de que só pode ser tombado um bem cultural se ele for patrimônio material, como as belas igrejas e os belos palácios. “Ora, como um povo escravizado poderia ter construído belos palácios? A nossa contribuição, mais que material, é civilizatória, no sentido pleno da cultura. É conhecimento”, afirmou ele.
Zulu Araújo reconhece que há avanços significativos no reconhecimento das manifestações culturais, mas acha que ainda há muito a fazer. Para ele, o processo é ainda de conscientização, porque a desigualdade racial se manifesta, ainda hoje, com muita relevância na desigualdade educacional, na desigualdade social. Ele reconhece também que o atual governo é sensível a essas questões e vem adotando medidas reparadoras.
Dentre os quatorze bens registrados como patrimônio imaterial pelo Iphan, sete são ligados a manifestações da comunidade negra: Samba de Roda do Recôncavo Baiano, Ofício das Baianas de Acarajé, Jongo no Sudeste, Frevo, Tambor de Crioula, Matrizes do Samba no Rio der Janeiro (Partido Alto, Samba de Terreiro e Samba-Enredo),e Roda de Capoeira e Ofício dos Mestres de Capoeira.