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SABERES E SABORES
Festa literária movimenta a casa da cultura afro-brasileira!
Os participantes da “Roda de Conversa Abdias Nascimento” destituíram mentiras e revelaram verdades sobre as vidas negras.
Ouvidos atentos, o público que lotou as dependências da Fundação Cultural Palmares, nesta sexta-feira (27), teve o privilégio de mergulhar num mar de histórias negras. Histórias que estruturaram – e continuam estruturando – a identidade brasileira. Histórias de dominação. Resistência também.
Foi uma tarde de muitos falares, em que os participantes da “Roda de Conversa Abdias Nascimento” instigaram os presentes à reflexão, destituindo mentiras e revelando verdades sobre a trajetória dos povos da África e da Diáspora, tendo como fio condutor três grandes obras literárias.
Valéria Lima, autora de “Mãe da liberdade: a trajetória da yalorixá Hilda Jitolu”, foi a primeira a falar, sublinhando a importância do resgate e da preservação da memória, especialmente das mulheres negras, “para que as próximas gerações conheçam nossa história e façam diferente do que a sociedade brasileira tem feito, pois há um apagamento em curso”.
E se depender da Fundação Palmares, essas histórias se multiplicarão. “Queremos, mais e mais, edições de livros, aqui. Queremos também pessoas dançando, cantando, expressando suas energias positivas, para nos guiar para bons lugares”, resumiu Nelson Mendes, diretor e presidente substituto da instituição.
"É um imenso orgulho voltar a lidar com a literatura e com a cultura dentro da casa da Palmares. Vocês talvez não imaginem o significado disso, depois de tudo que a Palmares passou, em anos difíceis, anos sombrios. Agora, é festa, é alegria, é o conhecimento que estará entre nós", prometeu o presidente (em férias, mas atuante) João Jorge Rodrigues.
Guardiã do legado literário de Abdias Nascimento, Elisa Larkin Nascimento não esteve presente, mas encaminhou vídeo, saudando os presentes e lembrando que "a linha do tempo dos povos africanos mostra como eles têm construído conhecimento e cultura por milênios, um tempo muito maior do que o período em que foram escravizados."
Representando Elisa, a artista plástica Dayse Gomes compôs a roda de conversas que leva o nome de um dos mais importantes ativistas e intelectuais da contemporaneidade, Abdias Nascimento, que, como definiu Guilherme Bruno, “foi fundamental para compreendermos a negritude e o quilombismo, como entendemos hoje".
Autor de “O paradoxo africano: entre riquezas e miséria”, Boaz Mavoungou sintetizou o objetivo do projeto “Palmares canta, conta e dança”: "Estamos aqui para despertar mentes e raízes, porque é fácil quando a gente não sabe. Mas, quando descobrimos a verdade, é aí que a mentira começa a ter medo".
Mas a tarde foi também de muitos sabores. Sabores africanos – ou afro-brasileiros. No dia dos “ibejis” (filhos gêmeos de Iansã e Xangô), a Palmares serviu aos presentes um delicioso caruru, feito pelo Grupo Obará, no estilo ajeum, que, no candomblé, significa a reunião de uma comunidade em torno de um alimento comum.