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FCP, senadores e africanos debatem o racismo na audiência do Senado
Brasília 04/03/2007 – O Presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Zulu Araújo, esteve presente na audiência da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado, nesta terça-feira (3), para, juntamente com outros representantes do governo, pedir desculpas e prestar solidariedade aos africanos vítimas do incêndio na Casa dos Estudantes da Universidade de Brasília (UnB). A audiência conduzida pelo senador Paulo Paim (PT-RS) debateu o racismo no Brasil e o caso do incêndio criminoso ocorrido na última quarta-feira, dia 28. O Senador emocionou-se ao pedir desculpas aos estudantes. ‘‘O que foi cometido contra esses jovens tem o repúdio da ampla maioria do povo brasileiro. Queria que esses jovens aceitassem nosso pedido de desculpas, não só do Senado, mas do povo brasileiro’’, disse Paulo Paim.
O estudante Lenine da Silva, de Guiné Bissau, queixou-se da falta de informação da população brasileira a respeito da estadia desses estudantes no país. “Eles acham que estamos roubando as vagas dos estudantes brasileiros”, afirmou. Lenine ressaltou que o Brasil é um país com traços racistas e, por isso, afirmou que o incêndio advém de conflitos antigos entres os estudantes, conflitos que têm motivação racista. O estudante convidou os que pensam de outra forma a se passarem por negros, para sentirem na pele a dor da discriminação. Lenine, que é formado em Ciências Sociais pela Universidade, emocionou-se ao lembrar do incêndio, agradeceu a iniciativa da comissão e lembrou que eles ocupam apenas 20 alojamentos dos 386 da Casa do Estudante. “Dos 25 mil estudantes da UnB, nós somos apenas 157 e ocupamos 5% dos alojamentos. Nem um motivo explica essa barbárie”.
Os africanos presentes na audiência ainda estavam bastante sensibilizados com o acontecido. Agradeceram o apoio de todos os brasileiros, cobraram uma atitude enérgica dos governantes e também aproveitaram para pedir desculpas em nome da comunidade africana. Eles frisaram que compreendem que essa é uma atitude de uma minoria dentro da Universidade, por isso, pretendem permanecer no Brasil e terminar o curso universitário. “Quero voltar para a África representando o Brasil e a Universidade de Brasília”, afirmou um dos estudantes. E para que seja possível a permanência deles no país, pediram o apoio da UnB e toda a população brasileira. “Nossos pais estão lá se sacrificando para nos manter aqui. Queremos voltar para ser motivo de orgulho, não de desespero. Depois de 5 anos estudando aqui, não é justo que eles recebam de volta apenas o meu cadáver”, disse a estudante de sociologia Mbalia Manfore.
Zulu Araújo, presidente da Fundação Cultural Palmares, ressaltou a importância de acordarmos para a realidade racista do nosso país. Zulu lembrou que, se não houvesse o racismo no Brasil, entidades como a Fundação Palmares e a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) não existiriam. Para Zulu, o Brasil ainda não conseguiu superar os 400 anos de escravidão, pois na UnB a culpa é de um pequeno grupo “intolerante”, porém na sociedade brasileira uma grande parcela é conivente com o racismo. “Se assim não fosse, não teríamos visto os filhos da elite assassinando, em Brasília, um indígena, para depois serem protegidos, enquanto, por outro lado, tenta-se reduzir a maioridade penal para colocar na prisão os jovens negros filhos da favela”, ressaltou Zulu.
“Não é favor nenhum para um país que trouxe à força os negros para a construção do país, que os tratou como animais durante 400 anos, oferecer essas vagas para os africanos estudarem. Com tantas semelhanças, nem podemos chamá-los de estrangeiros”, afirmou Zulu sendo apoiado pela assembléia. Todos concordaram que a população brasileira precisa compreender que a presença dos africanos em nosso país é a melhor forma de valorizar a grande contribuição que essa comunidade deu para nosso país no passado.