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Especialistas defendem educação para combater preconceito
A educação é a forma mais eficaz para se combater o racismo, as diversas formas de preconceito e a intolerância. Esse foi o tom da abertura da capacitação para multiplicadores do projeto Conhecendo Nossa História: da África ao Brasil, desenvolvido pela Fundação Cultural Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura (MinC). Estes profissionais são ligados principalmente a secretarias municipais de Educação e Cultura. O evento acontece na sede da instituição, em Brasília, nesta terça-feira (18 de julho) e quarta-feira (19), das 8h às 17h. A iniciativa contempla a distribuição de 40 mil kits educativos para escolas públicas de 16 municípios.
O presidente da Fundação Palmares, Erivaldo Oliveira, afirmou que não há possibilidade de se promover nenhuma mobilidade social sem educar as pessoas. Ele ressaltou a importância das parcerias entre os órgãos de cultura e de educação, por conta de suas afinidades históricas, e com as diversas esferas de governo. “Este projeto é nosso carro-chefe. Estamos viajando pelo país, mostrando que é possível reduzir o preconceito e a intolerância, que ainda se manifestam com força nas escolas e em nossa sociedade”, destacou.
Segundo Erivaldo Oliveira, é preciso fazer com que as pessoas enxerguem a diversidade com um novo olhar, introduzindo o ensino da história e da cultura afro-brasileiras nas grades curriculares. O presidente da Fundação Palmares adiantou que há intenção de ampliar o número de municípios atendidos pelo projeto em 2018. Ele também informou que sairá uma segunda edição do kit a partir de ajustes apontados pelos multiplicadores. O material reúne o livro O que Você Sabe sobre a África e a revista de palavras cruzadas Passatempo Cultura Negra: um Patrimônio de Todos.
Rita Potiguara, diretora de Políticas de Educação do Campo, Indígena e para as Relações Étnico-Raciais do Ministério da Educação (MEC), parceiro da Fundação Palmares no projeto, assinalou o papel da colaboração entre os dois órgãos e com outros entes do poder público. “Esta pauta deve dialogar com todas as áreas do governo. Temos uma responsabilidade enorme em disseminar a educação da cultura afro-brasileira. E não podemos pensar apenas nos coletivos, mas em toda a sociedade”, frisou. A diretora contou que o MEC desenvolve várias ações para fortalecer a presença das culturas negra e afro no sistema educacional, do ensino infantil à pós-graduação.
Racismo nas escolas
Pesquisador, professor com mestrado em cultura negra e ativista, Danilo Santos veio à capacitação como representante da Secretaria Municipal de Educação de João Pessoa, na Paraíba. Segundo Danilo, o Conhecendo Nossa História: da África ao Brasil chega em um momento bastante pertinente, pois existe enorme dificuldade em se implementar esses conteúdos nas escolas. “Ainda há muita relutância no Brasil em se falar sobre a cultura negra. Existe, por exemplo, uma campanha desenvolvida por alguns setores conservadores para impedir que possamos debater as religiões de matriz afro, o que é um absurdo, pois se trata de um dos eixos fundamentais da nossa história”, denuncia o multiplicador.
Na visão de Danilo, tem que se sensibilizar os gestores e professores, que muitas vezes não compreendem a relevância do tema. Para ele, o racismo se faz muito presente nas escolas. “A criança negra recebe um tratamento diferente da branca. Isso resulta em altos índices de evasão escolar dos negros, que não se reconhecem nessa estrutura pedagógica”, critica o especialista. Danilo Santos pondera que o conhecimento pode se tornar uma arma eficaz para desconstruir o modelo vigente, que manifesta o preconceito.
Articuladora da área de História da Secretaria de Educação de Santo Amaro da Purificação, na Bahia, Aline de Assis ressalta que seu município, por historicamente possuir comunidade negra e quilombola fortes, já, há algum tempo, privilegia o ensino da cultura afro. Mesmo com este cenário, ela acredita que o kit da Fundação Palmares vem para fortalecer a discussão sobre a questão racial. “Essa ação contribui para incentivar o trabalho de professores e pesquisadores. A tendência é abrir portas para debatermos assuntos fundamentais”, diz Aline
A multiplicadora também acredita que o racismo continua evidente nas escolas brasileiras, mas que se pode enfrentá-lo com a educação. “Percebemos isso em aulas de literatura, nas brincadeiras ofensivas, nas cantigas de teor racista e nos desenhos animados infantis exibidos, que apresentam uma visão depreciativa do negro. Este kit traz imagens, conta a trajetória de personalidades afro e das nossas manifestações culturais. Isso vai ajudar na luta contra a intolerância”, prevê Aline.