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Entrevista exclusiva do Presidente da FCP, Eloi Ferreira de Araujo para portal Áfricas
Matéria do Presidente da Fundação Cultural Palmares publicada no Portal Áfricas, no dia 18/11/2011
Presidente da Fundação Palmares, Eloi Ferreira de Araujo
Da Redação do Portal Áfricas
Jonalista Luís Michel Françoso
Em entrevista EXCLUSIVA concedida ao Portal Áfricas, neste mês de dezembro, o Presidente da Fundação Palmares, Eloi Ferreira de Araujo, faz uma avaliação do Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes.
Criada em 1988, a Fundação Cultural Palmares é uma instituição pública vinculada ao Ministério da Cultura que tem a finalidade de promover e preservar a cultura afro-brasileira. Preocupada com a igualdade racial e com a valorização das manifestações de matriz africana, a Palmares formula e implanta políticas públicas que potencializam a participação da população negra brasileira nos processos de desenvolvimento do País.
Entrevista:
Áfricas: Após o senhor vivenciar anos de trabalho voltados ao desenvolvimento de políticas públicas visando proporcionar a igualdade racial, inclusive no cargo de ministro da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), como você definiria este momento no que diz respeito ao desenvolvimento de ações afirmativas.
Eloi Ferreira de Araujo: O Brasil incorporou pela primeira vez as ações afirmativas em seu arcabouço jurídico. Elas estão dispostas na Lei 12.888, que estabelece o Estatuto da Igualdade Racial. É a primeira Lei sancionada no Brasil, desde 1888, com o propósito de reduzir as desigualdades enfrentadas pela população negra, a fim de colocá-la em condições de disputar os bens econômicos e culturais em igualdade de oportunidades. Esta legislação, que é o Estatuto da Igualdade Racial, precisa ser apropriada por toda a nação brasileira, não apenas pelos negros, para a construção da igualdade de oportunidades por meio das ações afirmativas.
Áfricas: Neste ano perdemos um grande brasileiro e ativista, Abdias Nascimento, para você qual o patrimônio que ele deixa para o nosso país?
Eloi Ferreira de Araujo: É a convicção de que é preciso lutar sempre, quando se tem um ideal. O ideal que orientou a vida de Abdias Nascimento foi o de justiça social, de combate ao racismo, às intolerâncias e aos preconceitos. Abdias deixa um legado que contagia os corações e as mentes de todos. Não descansaremos, assim como ele, enquanto não tivermos um país onde todos tenham oportunidades iguais para desfrutarem dos bens econômicos produzidos pela sociedade.
Áfricas: Desde 1988 que a Fundação Palmares vem desenvolvendo um importante trabalho no Brasil. Atualmente, quais são as principais iniciativas desta instituição, da qual o senhor é presidente?
Eloi Ferreira de Araujo: A Fundação Cultural Palmares é resultado de uma grande ação do Movimento Negro brasileiro, que contou com a atuação de destacados parlamentares negros no processo de articulação para sua criação. Os presidentes que me antecedeu tiveram o compromisso com a promoção e preservação da cultura afro-brasileira. Agora, tenho atuado com o mesmo espírito, contudo apoiado aos eixos do governo da presidenta Dilma Rousseff e sob orientação da ministra Ana de Hollanda. Temos trabalhado na formatação do Quilombo Cultural, um projeto que tem por objetivo a construção da inclusão das comunidades quilombolas para que acessem e produzam os bens econômicos de forma integrada e sustentável. Temos também como meta o desenvolvimento do Terreiro Cultural, para o mapeamento desses espaços e temos como uma das principais finalidades darmos continuidade ao projeto de construção do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra em nosso país.
Áfricas: Diante dos atuais dados que comprovam que atualmente no Brasil vem ocorrendo um processo de locomoção entre as classes econômicas, com particular fenômeno de crescimento da classe média. Você considera que a comunidade negra vem sendo beneficiada com o atual crescimento econômico brasileiro? De que forma?
Eloi Ferreira de Araujo: Com certeza o crescimento social que o país experimentou nos últimos oito anos do governo do ex-presidente Lula e, que agora, tem sequência no governo da presidenta Dilma é o diferencial. Por meio das políticas universalistas, nós conseguimos produzir essa grande mobilização. E essas políticas universalistas alcançaram a população negra brasileira de fato. Isso não dispensa a necessidade da formulação de políticas específicas para a população negra no Brasil seja no mercado de trabalho, seja nas áreas da educação e do empreendedorismo. Enfim, temos que acentuar e insistir para que a população negra tenha igualdade de oportunidades para acessar aos bens culturais e aos bens econômicos.
Áfricas: De que forma o senhor acredita que a parceria entre a Fundação Palmares e a SEPPIR possa se aprofundar na construção de políticas públicas?
Eloi Ferreira de Araujo: A Fundação Cultural Palmares está aberta a todas as parcerias. Estamos com parcerias com o MinC, MEC, MRE, a fim de aprofundar as políticas públicas e as ações voltadas a inclusão da população negra brasileira e a proteção do patrimônio afro-brasileiro. As iniciativas visam, sobretudo, a inclusão dos negros na cultura, na educação, nos meios de comunicação, no trabalho. Enfim, em todas as atividades humanas. A Fundação Cultural Palmares é parceira e deseja parecerias, porque sabe que a construção da igualdade de oportunidades não depende da população negra somente. É uma exigência e depende da nação brasileira a consolidação dessa longa estrada que vai nos levar a estabelecer a democracia plena, atingindo os cidadãos negros, negras, indígenas e ciganos.
Áfricas: Qual avaliação que o senhor faz deste Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes?
Eloi Ferreira de Araujo: O Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes passou muito rápido. Como a decisão da ONU foi em dezembro de 2010, faltou tempo para planejar inúmeras ações, tendo em vista a valorização da cultura afro-brasileira. No entanto, tivemos momentos especiais. A Fundação Cultural Palmares tem procurado construir políticas culturais estruturantes nas áreas da juventude negra, religiões de matriz africana, comunidades quilombolas. Foi um ano que não passou despercebido, contudo, nós vamos estender algumas ações até o ano de 2012 para poder concluir o que já está em andamento, tendo em vista a celebração do Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes.