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Em reunião, artistas e produtores culturais de Pernambuco decidem resgatar Fórum Permanente de Cultura Negra
Dando continuidade à série de encontros articulados pelo movimento social para debater a liminar que suspendeu os editais destinados para produtores, criadores e pesquisadores negros – resultado de uma parceria entre o Ministério da Cultura (MinC) e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) – foi a vez das cidades de Recife e Olinda/PE reunirem, nos dias 10 e 11/06, agentes culturais negros para defender e propor políticas públicas para a arte e a cultura negra.
O presidente da Fundação Cultural Palmares, Hilton Cobra, participou dos debates e afirmou que o momento é de união para garantir os direitos já conquistados. “Nossa história é permeada de anos de luta por uma política cultural justa e verdadeiramente democrática”, apontou. “Não podemos nos calar frente à decisão de suspensão dos editais que são fruto da luta do Movimento Negro e cultural”, declarou.
A reunião entre os produtores culturais, artistas e militantes do Movimento Negro da capital pernambucana fomentou também a decisão de resgatar o Fórum Estadual Permanente de Cultura Negra que deve discutir estratégias para ampliar o acesso dos afro-brasileiros aos mecanismos de fomento à cultura do Estado.
Douglas Santos, participante do Fórum juventude Negra do Recife, acredita que o resgate do grupo vai além do fortalecimentodo Movimento Negro. “Esse Fórum pode ter parceria, por exemplo, com nossos deputados estaduais”, citou. “Isso nos permitira ter acesso a emendas parlamentares que dariam contribuição direta para nosso estado”, afirmou.
Um trabalho mais intenso no que se refere ao resgate da memória de lutas, movimentos e história, foi o que defendeu a chefe do Núcleo de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Lúcia dos Prazeres. Segundo ela, além do aspecto político, o Fórum deve “garantir que os jovens pernambucanos tenham acesso a história de tudo o que já foi realizado até hoje”.
A coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado, Marta Almeida, chamou atenção para o fortalecimento do papel dos produtores culturais do estado. “É muito difícil para nós que estamos no Nordeste participar dos grandes eventos e mega projetos, onde o racismo institucional ainda persiste”, declarou. “Precisamos fortalecer nosso papel e garantir a igualdade nesse cenário”, concluiu.
Comunidades de terreiro – Em Olinda, o tom da reunião foi de revolta e de organização para uma reação. As palavras de ordem da plenária foram de ênfase ao fato de que direitos não são dados, são conquistados.
Dentre os presentes, estava Mãe Beth de Oxum, do Ponto de Cultura Coco de Umbigada, que destacou o quanto as oportunidades criadas pelos editais obrigou as entidades de cultura negra a se capacitarem para os projetos, “somos muito reféns dos projetos dos outros, não fazemos as coisas que construímos coletivamente!”, disse ela. “Estes editais eram nossa oportunidade de legitimar o que estamos fazendo há anos sem o poder público”, completou.
O bacharel em direito, Tiago Nagô alertou os participantes sobre o pertencimento e o compromisso das lideranças de assumirem seus papéis, “nossas Casas e grupos têm juízes, contadores, que precisam usar suas ferramentas, suas profissões para fortalecer nossa causa”, disse ele.
As comunidades de terreiro que já tinham inscrito projetos nos editais também foram pauta da reunião, assim como as demandas relacionadas às suas necessidades, e as ações jurídicas que podem ser tomadas para reagir à suspensão dos editais.