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Em Recife/PE carnaval, identidade negra e economia são temas de seminário internacional
Um dia repleto de trocas de experiências que tornaram possíveis perceber que o Brasil, Angola, Barbados, Benin, Colômbia, Peru, Trinidad & Tobago e New Orleans (EUA) tem muito mais em comum do que se imagina. Nessa quarta-feira (19), o Seminário Internacional Carnaval, Identidade Negra e Economia Criativa uniu representantes dessas localidades no Recife/PE, para que cada um possa saber mais sobre como a ancestralidade africana está presente nas manifestações culturais que compõe a folia.
Cerca de 100 pessoas participaram da iniciativa da Fundação Cultural Palmares – MinC, que aconteceu na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e possibilitou ainda uma aproximação entre os carnavalescos, assim como debates sobre estratégias para promoção das atividades que compõem a economia criativa e sobre novas perspectivas para inserir as culturas negras nas políticas culturais.
Carnaval e Identidade Negra – Martha Rosa Queiroz, abriu os debates da mesa com uma apresentação sobre como a festividade no Brasil tornou-se palco de ações para o combate ao racismo e a discriminação racial. Durante palestra, Martha fez um resgate da participação do Movimento Negro Brasileiro para a criação dos blocos afro e afoxés, assim como da importância dessas manifestações para manutenção e valorização da cultura afro-brasileira.
Motivados pela fala de Martha Rosa, os produtores culturais internacionais explicaram as atividades carnavalescas em seus países. O colombiano Martín Costa Valência falou como as referências religiosas no carnaval do país estão presentes na música e nas fantasias que o compõem. Cherice Harisson, de New Orleans (EUA), falou sobre o Mardi Gras (terça-feira gorda, em francês), nome dado aos festejos carnavalescos, e as referências da cultura indígena ali presentes.
Ingrid Ryan-Ruben, de Trinidad & Tobago, explicou que no país os festejos de carnaval nascem no início do século 19, ao fim do período escravocrata, com as caminhadas negras em celebração a liberdade. A música (Calypso) e as máscaras e fantasias de referência africana, dão o tom dos festejos, que têm referências do cristianismo europeu. Já em Barbados, Andrea Wells conta que as máscaras, vestimentas e coloridas compostas por plumas e paetês, também fazem parte do carnaval. Segundo ela, esses elementos que representam a importância da diáspora africana para o país. O angolano Rodão Ferreira falou sobre o samba.
Carnaval Negro no Brasil – Atividade voltada para a discussão do carnaval no Brasil reuniu ícones das principais manifestações do país, entre eles a professora Helena Theodoro, o Vovô do Ilê, presidente do bloco afro IlêAyê, Ana Amélia Bandeira, do Akomabu, Rubem Confete, da Mangeira, Kaxito Campos, presidente da União das Escolas de Samba de São Paulo e Maria José, da UNISAMBA. Sob a coordenação de Lindivaldo Jr, diretor de Fomento e Promoção ao Patrimônio Afro-brasileiro da Fundação Palmares, os produtores do carnaval brasileiro contaram suas experiências para manutenção da identidade e da cultura negra nos festejos.
Políticas culturais – O presidente da FCP – MinC, Hilton Cobra, abriu a mesa com uma exposição sobre o trabalho da Fundação para uma por uma política pública de cultura que inclua as especificidades das produções culturais negras. Com esse mote, André Brasileiro, da Fundação de Cultura de Pernambuco (FUNDARPE), falou sobre o trabalho para promoção da cultura no estado e o papel entidade no apoio aos produtores culturais populares.
Os debates ainda contaram com a participação de Gilson Matias, chefe da Representação Regional do MinC para o Nordeste, Lucio Rodrigues, também do MinC NE, e Melvin Ramirez, do Museu Afro Peruano, e da colombiana Josefina Klingeae, cujo apresentaram as experiências de políticas culturais nesses países.
Cadeia Produtiva do Carnaval – O deputado federal pelo Rio Grande o Sul Paulo Ferreira trouxe a perspectiva do legislativo sobre a cadeia produtiva do carnaval. Isadora Tami, da Secretaria de Economia Criativa do MinC, apresentou um levantamento sobre a folia no Brasil. Os dados mostram que os investimentos ainda estão concentrados nas regiões onde a festa é tradicional, apesar de a maioria das cidades brasileiras promoverem eventos no período do carnaval. Isadora crê na implementação de ações afirmativas específicas para garantir a destinação de recursos aos produtores culturais populares.
Leandro Salazar, do SEBRAE/PE, levou aos participantes informações sobre como a entidade pode ajudá-los na geração de renda. O consultor deu exemplos de sucesso de agremiações carnavalescas do estado que já conseguiram traçar estratégias de atividades culturais lucrativas. Segundo ele, essas ações podem podem reduzir a dependência desses produtores aos recursos públicos e garantir sua sustentabilidade. Também participaram do debate Lelie Cuesta, da Colômbia, e David Soto, diretor da Fundação Acua (Activos Culturales Afro).
Na tarde desta quinta-feira (20), os visitantes internacionais foram a ao quilombo de São Lourenço, em Goiana/PE, para um conhecer as ações de empreendedorismo na comunidade que sobrevive da pesca e assistiram a apresentação do grupo Pretinhas do Congo. O Intercâmbio Carnaval Identidade Negra e Economia Criativa continua amanhã, quando a comitiva internacional chega a Salvador/BA, e segue até domingo (23).