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Diretor baiano inova do stand up comedy ao cinema
Fotos: Armando Paiva
Diretor artístico de shows e espetáculos de artes cênicas, roteirista do cinema e TV, o baiano Elísio Lopes Jr. não para. Trabalhando no Rio de Janeiro de segunda a sexta-feira e voltando a Salvador no fim de semana, ainda viaja por outros tantos lugares a trabalho. No próximo sábado, participa em Brasília, no Festival Latinidades, da apresentação do stand up comedy Tia Má de Língua Solta, sua primeira incursão como diretor no gênero. Formado em Relações Públicas, com mestrado em Cultura, Elísio trabalhou na Fundação Cultural Palmares como diretor de Fomento e Promoção da Cultura Afro-Brasileira. Em entrevista ao nosso site, ele fala sobre o Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-Brasileiras, que acontece na próxima segunda-feira, 31 de julho, no Teatro Rival Petrobras, na Cinelândia, no Rio de Janeiro, a partir das 19h, no qual assina a direção artística. Ele ainda comentou sobre assuntos como o papel da cultura afro-brasileira e as atividades que desenvolve em vários terrenos.
Como vê a importância do Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-Brasileiras?
Na época em que esse prêmio foi criado, eu era da Fundação Palmares e trabalhei já na primeira edição. Representa um marco de uma política implementada em reconhecimento à cultura afro-brasileira nos últimos anos. Também é o primeiro prêmio patrocinado por uma empresa, a Petrobras, com foco na cultura negra. Acho simbólico e extremamente relevante. Agora estou de volta.
Fale da idéia que concebeu de a cerimônia acontecer no formato de um espetáculo, o Cabaré dos Nossos Sonhos.
Premiação normalmente é muito chato. As solenidades são enfadonhas, com anúncios protocolares. Há alguns anos, desenvolvo na Bahia esse formato de premiação como espetáculo. Você tem o que dizer, divertindo e emocionando, não só cumprindo um protocolo. Vamos transformar o Teatro Rival num grande cabaré, com os homenageados sendo recebidos no palco. Trata-se de uma metáfora lúdica para transformar o evento em uma noite de humor e música. Será muito bonito, com banda ao vivo e cinco atores que cantam e dançam.
Como vê o espaço da cultura negra atualmente no Brasil?
Precisamos promover a associação da cultura negra ao sistema formal de educação. Os estudantes têm de partir para um novo nível de referência em nossa cultura e ela deve estar representada em todas as escolas. Tem que haver linhas de financiamento para projetos afro-brasileiros, para que eles tenham sua arte como empreendimento e não apenas como lazer ou postura política.
Conte sobre o Programa Espelho, que você escreve para o Canal Brasil.
É um apresentado pelo Lázaro Ramos. Trabalho há dez anos como roteirista. Temos a intenção de botar o Brasil para olhar sua própria cara, que às vezes não aparece em outros programas. Ao longo deste tempo, levamos à tela personalidades fundamentais da cultura afro, como os atores Milton Gonçalves e Ruth de Souza. Realizamos um painel vasto da presença do negro na arte, na economia, nas ciências e na política.
Você agora também escreve para o cinema. Quais são os projetos?
Estou escrevendo o roteiro de Ó Pai Ó 2 e 7 Conto, do Luís Miranda. Ambos trazem referências à Bahia. Ó Pai Ó destaca toda uma linguagem baiana, muito própria em minha formação cultural, e 7 Conto é uma comédia adaptada de uma peça de teatro. São duas experiências bem interessantes.
Como é se desdobrar em várias áreas?
Comecei com teatro, escrevendo. Depois, passei a dirigir espetáculos. Então, cheguei à TV com roteiros e, nos últimos dois anos, venho mexendo com cinema. Uma coisa leva a outra.
Deve ser uma correria.
Com certeza. Fui contratado pela Rede Globo para um novo programa. Passo a semana no Rio trabalhando e no fim de semana volto a minha casa, em Salvador. Tenho duas filhas e quero ficar perto da família quando posso.
Que programa é esse?
Não posso adiantar nada. Só me deixam falar depois que estrear. Por enquanto, é segredo.
Como foi trabalhar com Ivete Sangalo?
Dirigi dois DVDs para Ivete, o dos 20 anos de carreira, gravado na Arena Fonte Nova, em Salvador, e o acústico, registrado em Trancoso, também na Bahia. O primeiro trabalho com Ivete Sangalo foi dirigir um DVD do Saulo Fernandes, produzido pela empresa dela. Fiz em seguida a direção artística do show da Ivete no Rock in Rio. Gosto de colaborar com ela. É uma pessoa maravilhosa, objetiva, clara, alto astral, preocupada em trazer novas informações à cena. Criamos atos dedicados à cultura negra em um desses espetáculos. Fomos trazendo preocupação cênica ao palco. É sempre uma parceira atenta e bacana de trabalhar.
Você também incursionou pelo stand up comedy? Conte-nos sobre essa novidade.
Está sendo bacana. Tia Má de Língua Solta é o primeiro stand up estrelado por uma mulher negra, a jornalista Maíra Azevedo. A peça será apresentada em Brasília, no próximo sábado, 29 de julho, dentro do festival Latinidades, no Auditório do Museu Nacional da República. Nunca tinha dirigido um stand up. Considero uma experiência gratificante, principalmente pela identificação das mulheres negras com a personagem da peça.
Ainda resiste no humor brasileiro uma tendência em se fazer piadas de conteúdos racistas, machistas, homofóbicos e com outros preconceitos. O que pensa disso?
Há varias escolas cômicas, mas temos a nossa. Fazemos um humor em que conseguimos nos colocar em certas situações e rir das adversidades. Quando isso acontece, ocorre aprendizado. O problema é quando você serve de motivo de risada para os outros, sendo ridicularizado, como no caso dessa vertente preconceituosa. Os que fazem piadas racistas e homofóbicas demonstram bem quem são. O que nos interessa é um humor de quem leva a vida da melhor forma e tira proveito positivo disso.