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Diplomação histórica
Presidente Lula é escolhido patrono da primeira turma de formandos em Administração da Universidade Zumbi dos Palmares
Impossível não se lembrar de Martin Luther King: “Eu tenho um sonho”. Lágrimas e sorrisos, num misto de emoção e felicidade pelo dever cumprido, marcaram a formatura da primeira universidade da América Latina a garantir a inclusão quase que total de afro-descendentes. É o sonho realizado. Sonho partilhado com familiares, amigos, autoridades, políticos e artistas e outros tantos, que ali se concentraram com a certeza de que, naquele instante, estava presente uma etapa da luta histórica pela igualdade de direitos e oportunidades para os negros no Brasil.
O ginásio Ibirapuera, em São Paulo, era só festa. A começar pela presença dos mestres de cerimônia Isabel Filardis e Simoninha, que deram ao evento um clima de cordialidade e fraternidade e de muita alegria.
O presidente Lula mostrou-se muito honrado pelo convite de patrono da turma. Na sua avaliação,essa formatura — 126 alunos, sendo 110 negros (87%)– demonstra que o Brasil começou a mudar. Numa crítica velada ao preconceito racial ainda existente e a falta de espaço que os afro-descendentes têm na sociedade brasileira, Lula disse que existem poucos negros advogados ou médicos e que até teve dificuldade para indicar um negro como ministro do STF.
Para o presidente, é importante que a imprensa brasileira registre essa importante conquista dos estudantes negros. “O Brasil não é apenas um mundo de criminalidade que aparece na televisão. Existem outras coisas importantes que o negro e o pobre fazem nesse país, mas que não têm o espaço necessário”, disse.
Trajetória – A cada fala que remetia à vitória conquistada, os aplausos eram intensos. Foi assim quando o ator Milton Gonçalves fez o seu discurso de homenagem. Bastante emocionado , o ator lembrou toda a trajetória de luta da raça negra. “Uma batalha que perdura há séculos”, disse ele, narrando o flagelo daqueles que na terra Brasilis aportaram, acorrentados uns aos outros.
Milton, ator de tantos filmes e novelas, não se continha na sua emoção. Com voz trêmula e olhos marejados, declarou ser este um dos momentos mais marcantes de sua vida: “Busquei dentro de mim o mais visceral discurso e a emoção mais delicada que se pode ter ao ver esses jovens rostos esperançosos, mas palavra alguma substitui o que representa o orgulho da raça”.
A cantora Sandra de Sá animou a festa, passeou entre os presentes, levando seu vozeirão a todos os cantos do ginásio, mostrando a sua satisfação e força àqueles jovens vitoriosos. Martinho da Vila, sem acompanhamento, canta, exaltando a liberdade.
A ex-governadora do Rio de Janeiro, Benedita da Silva, parceira de primeira hora da Unipalmares, escollhida paraninfa, declarou estar diante de uma realidade nova e um futuro promissor. Segundo ela, pesquisas revelam que há apenas 2% de negros nas universidade brasileiras. O ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckimin, também foi escolhido paraninfo, também pelo seu apoio à construção da Unipalmares.
Para o ministro Edson Santos, da Secretaria Especial de Igualdade Racial, a dívida que a sociedade brasileira tem com os negros ainda não foi resgatada. “Depois de quase 120 anos do fim da escravidão, os negros ainda ocupam lugares desprivilegiados na sociedade brasileira.”
“A cor da universidade brasileira está mudando”, disse o ministro Fernando Hadas, da Educação. Segundo ele, as políticas de cotas aplicadas nas universidades públicas e a concessão de bolsas para que estudantes de baixa renda ingressem em universidades privadas têm colaborado para a mudança social, econômica e política brasileira.
Políticos – O evento mostrou sua força, pois conseguiu reunir diversos políticos, autoridades e empresários Entre as autoridades estavam o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), o prefeito Gilberto Kassab (DEM), o senador José Sarney (PMDB-AP), além de Lula e seis ministros: Fernando Haddad (Educação), Edson Santos (Igualdade Racial), Márcio Fortes (Cidades), Miguel Jorge (Desenvolvimento), Orlando Silva (Esportes) e Luiz Marinho (Previdência). Também presente, os senadores Cristovam Buarque (PDT) e Eduardo Suplicy (PT) e o ministro do STF Carlos Ayres de Brito.
A Unipalmares foi criada em 2003, fruto de ação da ONG Afrobras, Em 2007, a instituição abriu o curso de direito.
O presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, que representou o ministro Gilberto Gil na cerimônia, presta homenagem ao reitor José Vicente pela iniciativa e aos alunos formandos. Para ele, essa é uma conquista que garante a esses jovens a dignidade que merecem.