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Deputados e religiosos pedem fim da discriminação contra umbanda
Deputados e representantes de movimentos umbandistas criticaram hoje a discriminação da umbanda e pediram tratamento igualitário às religiões pelo Estado e também pela mídia. As reivindicações foram feitas no seminário sobre o centenário da umbanda, que ocorre ao longo do dia na Câmara.
No seminário, que é promovido pelas comissões de Direitos Humanos e Minorias; e de Legislação Participativa, alguns palestrantes afirmaram que nenhuma emissora de televisão deve difundir uma religião especificamente. “As emissoras funcionam por meio de concessão. Sendo o Estado laico, não deve haver apologia a esta ou aquela religião. Não podemos continuar com esse processo de demonização da umbanda no País”, disse o presidente do Conselho Nacional da Umbanda do Brasil (Conub), Sílvio Ramos, conhecido como Pai Ramos.
O deputado Carlos Santana (PT-RJ), umbandista, também pediu o tratamento igualitário das religiões pela mídia. Já a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), que está envolvida na discussão de mudanças nas concessões para a radiodifusão, sugeriu às organizações umbandistas que se juntem aos preparativos de uma conferência nacional da comunicação, para que a abordagem da diversidade religiosa pela mídia seja discutida.
Cultos umbandistas
O deputado Carlos Santana manifestou-se favoravelmente à implantação no País de um ensino religioso que abranja todas as religiões, sem preconceito. Ele espera ainda realizar, a partir do próximo ano, cultos umbandistas na Câmara regularmente.
O deputado Chico Alencar (Psol-RJ), que sugeriu o seminário, admitiu que a realização de um culto de umbanda na Câmara seria bastante questionado pela sociedade. Por outro lado, ele lembrou que a Casa cede seu espaço para religiões evangélicas e para a católica. “Ainda estamos longe reconhecer o outro na sua diversidade.”
Na opinião do presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, o preconceito contra a umbanda ultrapassa as barreiras religiosas e chega à atividade econômica. Como exemplo, ele citou fato ocorrido há três anos em Salvador (BA), quando um grupo pentecostal passou a chamar o acarajé de bolinho de Cristo, por considerar acarajé nome do diabo. “Ora, as religiões de matriz africana estão em toda a sociedade brasileira, e o acarajé – uma comida de orixá – hoje é do Brasil. Inúmeras pessoas sobrevivem do ofício das baianas do acarajé”, disse Zulu.
Diversidade cultural
O diretor da Faculdade de Teologia Umbandista de São Paulo, Roger Soares, afirmou que a umbanda e outras religiões minoritárias podem ser bastante prejudicadas no atual contexto de globalização, no qual prevalecem os interesses econômicos.
Soares disse esperar, no entanto, que o governo coloque em prática no Brasil a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, elaborada pela Unesco em 2002. O documento, lembrou, delega aos governos a tarefa de garantir a diversidade cultural, o que inclui a religiosidade. Sobre a umbanda, ele afirmou que se trata de uma religião que funde elementos de várias religiões e possui uma diversidade dentro de si mesma, uma vez que um culto umbandista é sempre diferente do outro.
O movimento umbandista surgiu oficialmente no Brasil em 15 de novembro de 1908, data em que o jovem Zélio de Moraes incorporou a entidade Caboclo das Sete Encruzilhadas e anunciou, em uma sessão espírita em Niterói (RJ), as bases de um culto no qual espíritos de índios e escravos cumpririam as determinações do Astral. A nova filosofia deveria preconizar a igualdade, a união e a inclusão social.
O seminário de hoje é realizado em parceria com a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República e com o Conub. Participam dos debates parlamentares, umbandistas, representantes de movimentos negros e de outras religiões, como o islã e o budismo.