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Criador de musical sobre Cartola visita Fundação Palmares
Texto e fotos: Marcelo Araújo
Idealizador e diretor artístico do musical Cartola – o Mundo é um Moinho, Jô Santana visitou a sede da Fundação Cultural Palmares (FCP), em Brasília, nesta terça-feira (12). Ele conversou com o presidente da instituição, Erivaldo Oliveira, sobre a parceria em espetáculos que irá realizar inspirados na vida e na obra de Dona Ivone Lara e de Martinho da Vila.
Todos estes projetos fazem parte de uma reverência de Santana a grandes nomes da cultura afro-brasileira que o influenciaram. Em 2016, lançou a peça inspirada em Cartola. Com um elenco totalmente negro, encabeçado por Flavio Bauraqui (Cartola) e Virgínia Rosa (Dona Zica), o musical percorreu cinco capitais brasileiras, com público de aproximadamente 100 mil espectadores. Destas performances, as de Maceió, Salvador e Belo Horizonte contaram com parceria da Fundação Palmares, que levou às salas moradores de comunidades quilombolas e outras pessoas que nunca haviam tido a chance de entrar em um teatro.
Em Dona Ivone Lara – Um Sorriso Negro, a parceria com Palmares terá apresentações no Rio de Janeiro, no Museu do Samba, em novembro, Mês da Consciência Negra. O autor reserva os maiores elogios à cantora e compositora. “Ela simboliza o empoderamento feminino quando nem se falava neste tema. Foi a primeira compositora em um meio machista e ainda desenvolveu uma atividade importante como enfermeira e assistente social com a doutora Nise da Silveira, que revolucionou os tratamentos psiquiátricos no Brasil”, recorda Santana.
Jô Santana conta que a o projeto nasceu há seis anos, quando Dona Ivone Lara, morta em abril de 2018, ainda estava viva. “Conversei com Dona Ivone, que adorou a ideia. Decidimos estreiar no Rio justamente para que ela pudesse assistir. Isto infelizmente não será possível, porém vamos fazer uma grande homenagem para ela”, adianta Jô.
No momento, o diretor artístico seleciona o elenco da peça. Em um primeiro instante, 4 mil atores se candidataram para o trabalho. Após um filtro, Jô chegou a 60. Deste total, 20 participarão.
O papel de Dona Ivone já estava reservado a Fabiana Cozza, no entanto uma polêmica envolvendo o movimento negro fez com que a atriz paulistana desistisse. “Embora a Fabiana tenha sido aprovada como protagonista pela própria família de Dona Ivone, alguns grupos colocaram o fato dela ter a pele mais clara, o que acabou caindo em nosso colo”, assinala o diretor. Segundo ele, há intenção de levar o tema a debate em seminários em outra parceria com a FCP.
Com a agenda cheia, para 2019 Jô pretende lançar Martinho da Vila – Canta Canta Minha Gente. O show de música e artes cênicas será acompanhado de uma exposição no Instituto Itaú Cultural, em São Paulo. E depois desse, quem deve ganhar homenagem com um espetáculo de Jô é a sambista maranhense Alcione. “Como negro, quero trabalhar a minha ancestralidade e tenho como base para o meu trabalho a diversidade”, destaca Jô Santana.