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DIÁSPORA AFRICANA
Conferencistas firmam compromisso com justiça social
Autoridades e sociedade civil de 50 países participaram da Conferência da Diáspora Africana nas Américas
Representantes de mais de 50 países legitimaram o disposto na “Carta de Salvador”, encerrando oficialmente a 6ª Conferência da Diáspora Africana nas Américas, neste sábado (31), no Centro de Convenções da Bahia.
A carta foi entregue simbolicamente a autoridades do Brasil, do Togo e da União Africana, que presidiram a sessão governamental do encontro: os ministros das Relações Exteriores dos dois países, Mauro Vieira e Robert Dussey; e a vice-comissária da UA, Monique Nsanzabaganwa.
O documento só será publicizado nos próximos dias, mas representantes da sociedade civil do Brasil e de países africanos e da diáspora destacaram alguns dos pontos mais importantes, também sublinhados por autoridades presentes.
AÇÃO. O tom dos pronunciamento pode ser medido, entre outras, pelas palavras de Ivete Sacramento, titular da Secretaria Municipal de Reparação de Salvador: “Tudo que tínhamos de construir em termos acadêmicos já foi construído. Agora, é agir”.
Em consonância com essa perspectiva, o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, ressaltou, entre outras propostas estruturantes, o compromisso com o tema da restituição: a criação de um fundo global de reparações.
Mas foram muitas e muitas falas. Parte significativa delas, e dentro da filosofia ubuntu, reiterando a importância de se adotar recomendações de documentos anteriores, como a Declaração de Durban e seu Plano de Ação.
PALMARES. Foi momento também de reafirmar o compromisso do Brasil e do Governo Lula com a justiça social e o ideal democrático, como ressaltado pela ministra da Cultura do Brasil, Margareth Menezes.
A autoridade brasileira aproveitou para compartilhar a alegria pelo ressurgimento de uma das mais importantes instituições de promoção da cultura negra do País, a Fundação Cultural Palmares, asfixiada, como disse, no (des)governo passado.
Como forma de marcar a importância da reestruturação da entidade para o povo negro brasileiro, o presidente da Palmares, João Jorge Rodrigues, foi convidado a sentar-se à mesa de fechamento dos trabalhos da conferência.
SIMBOLISMOS. Foram muitos, os simbolismo expressos nesses três dias de encontro – ele próprio, indicador do compromisso com os afrodescendentes da diáspora, como pontuou a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
Compromisso reiterado pelo governador do estado da Bahia, Jerônimo Rodrigues, assinalando que a conferência não foi/é um evento isolado, mas uma estratégia de articulação com os países africanos e diaspóricos.
Rodrigues advertiu também que a Bahia não estava apenas sediando o conclave multilateral, mas “compartilhando uma responsabilidade histórica”, no dia em que se celebra os 23 anos da conferência de Durban.
E, não coincidentemente, o “Dia Internacional das Pessoas Afrodescendentes”.
Dia de afirmar a dignidade do povo negro, como salientado por Monique Nsanzabaganwa. E de, num espaço “de resistência e ressignificação”, construir um futuro que celebre a diversidade da África e da diáspora, ampliando o potencial de suas gentes.
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Década da Diáspora Africana
A União Africana declarou os anos de 2021 a 2031 como "Década das Raízes e da Diáspora Africanas". E entre os eventos de celebração, está o 9º Congresso Pan-africano, a ser realizado em Togo, em 29 de outubro próximo.
Para sua preparação, foram organizadas seis convenções regionais, uma de cada região africana (meridional, setentrional, central, oriental, ocidental e diáspora). A realizada em Salvador foi a 6ª conferência.
Durante três dias, o conclave de Salvador debateu sobre pan-africanismo, memória, reconstrução, restituição e reparação, com vistas a elaborar propostas para reparar os efeitos do racismo contra o povo negro.
A cidade foi escolhida pela União Africana como sede do encontro por ser a mais negra do Brasil – país que, aliás, abriga a maior população afrodescendente fora da África: cerca de 56% da população, quase 120 milhões de brasileiros, declaram-se afrodescendentes.
O estreitamento dos laços entre o Brasil e os países do continente africano é meta do presidente Lula, que, em fevereiro último, discursou na cerimônia de abertura da 37ª Cúpula da União Africana.
E os números são ilustrativos dessa política de aproximação: o valor do intercâmbio comercial do Brasil com países africanos é de US$ 20,4 bilhões, sendo US$ 13,2 bilhões de exportações brasileiras, com saldo de US$ 6 bilhões.
O congresso em Salvador foi organizado pela União Africana e pelo Togo, em parceria com o governo federal e o estado da Bahia, com apoio da Universidade Federal da Bahia e do Instituto Brasil-África.