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DIÁSPORA AFRICANA
Conferência debate cultura e justiça social em Salvador
Auditório lotado na abertura da 6ª Conferência da Diáspora nas Américas
Em Salvador, onde a cultura afro-brasileira se manifesta de maneira vibrante e envolvente, a Conferência da Diáspora Africana nas Américas trouxe discussões essenciais sobre panafricanismo, memória coletiva e reparações. A cidade, conhecida por seu espírito acolhedor e celebrações culturais, transformou-se em um espaço global de reflexão e ação.
O evento começou com a apresentação da dançarina Tânia Bispo e do músico Gilberto Gil Santiago. Eles celebraram a herança ancestral com a coreografia "Linha Ancestral", convidando todos a se reconectar com suas raízes e renovar o compromisso com a justiça social.
Líderes de cerca de 50 países africanos e das Américas destacaram a importância de fortalecer os laços entre o continente africano e suas diásporas. A secretária Estadual de Promoção da Igualdade Racial, Ângela Guimarães, ressaltou a necessidade de ações concretas para promover a justiça social.
“Reunidos hoje sob o tema do panafricanismo, memória e reparações, somos convidados a refletir sobre nosso passado e traçar caminhos para um futuro de igualdade e prosperidade”, afirmou.
Guimarães também sublinhou o papel de João Jorge, presidente da Fundação Cultural Palmares, na defesa das causas afro-brasileiras. "João Jorge é um líder incansável, cuja dedicação à causa afro-brasileira tem sido uma inspiração para todos nós," destacou.
CONEXÃO. Reconhecer a diáspora como a sexta região africana implica um compromisso com a história compartilhada de resistência e conquistas. Essa conexão transatlântica se fortalece não apenas pela cultura, mas também pelas alianças políticas e econômicas.
A diáspora africana foi discutida como uma dimensão que transcende fronteiras geográficas, funcionando como uma extensão viva do continente africano. O encontro reafirmou a importância da diáspora como força política e cultural que molda a identidade africana global.
O reitor da Universidade Federal da Bahia, Paulo Miguez, destacou o papel da instituição em criar pontes culturais e científicas entre o Brasil e a África. “Sob o luminoso signo do pan-africanismo, nos debruçamos sobre os grandes desafios que envolvem as relações entre a África e nós, os territórios da diáspora,” ressaltou. Ele enfatizou o compromisso da Ufba em contribuir ativamente para uma troca rica de conhecimento e cultura.
ONU. A proposta do Brasil para a criação do 18º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS-18) pela ONU também foi um tema abordado. Voltado ao combate ao racismo e à promoção da igualdade étnico-racial, o ODS busca eliminar a discriminação racial e garantir direitos para as comunidades afrodescendentes. Esta iniciativa inovadora tem o potencial de se tornar uma ferramenta essencial na luta global contra o racismo.
João Bosco Monte, presidente do Instituto Brasil África (Ibraf), destacou a necessidade de integração entre as nações africanas e suas diásporas. “Nosso privilégio e nossa responsabilidade são juntar pessoas diferentes em torno de um ideal comum: a integração,” declarou. Ele enfatizou que, por meio da união de esforços, é possível transformar desafios em oportunidades, promovendo o desenvolvimento sustentável e inclusivo.
Outro ponto relevante da conferência foi a ênfase na cooperação científica e tecnológica. Os participantes sublinharam que a troca de conhecimentos entre os continentes é vital para superar os desafios econômicos e sociais. Essa cooperação pode promover avanços significativos em áreas como saúde, educação e inovação, impulsionando o desenvolvimento sustentável das nações envolvidas.
O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, Silvio Almeida, reforçou a necessidade de uma nova governança global inclusiva. “Não haverá governança global sem a participação dos países da diáspora. Uma governança global que não nos inclua é uma governança que abre caminho para o fascismo,” afirmou.
PALMARES. Almeida também mencionou a grande admiração por João Jorge, reconhecendo sua dedicação em preservar a cultura afro-brasileira. "João Jorge é um amigo, irmão e um grande mestre, que nos ensina sobre a importância de resistir e transformar," acrescentou.
O ministro defendeu uma abordagem de direitos humanos que vá além de uma pauta moral, focando em bases materiais e concretas para promover a justiça social. Ele destacou a urgência de incluir as vozes negras na construção de um modelo de governança global que seja verdadeiramente democrático e inclusivo.
A Ministra da Cultura, Margareth Menezes, sublinhou o poder transformador da cultura na promoção da equidade e reparação. “A cultura é a nossa maior ferramenta de luta e transformação, reforçando nosso orgulho e nossa história,” declarou.
Ela assinalou a importância de João Jorge na promoção da cultura afro-brasileira e na reconstrução das políticas culturais e conclamou:. “Convido todos a visitarem a nova sede da Fundação Cultural Palmares em Brasília, um marco de resistência e revitalização cultural”.
Anielle Franco, Ministra da Igualdade Racial, emocionou o público ao falar sobre resiliência e a luta contínua contra o racismo. “O exercício de recordar e conhecer o passado é, também, um componente essencial na luta pela justiça. É uma chama que devemos manter acesa, iluminando o nosso presente e projetando um futuro de dignidade para todas as pessoas,” afirmou Franco.
Ela também destacou a importância de se reconhecer o papel de lideranças e citou João Jorge. “Para entender o tamanho da missão que carregamos aqui, João Jorge, precisamos olhar para o futuro com a memória que temos trabalhado, mas também saber onde estamos e por que estamos nessa missão,” acrescentou Anielle. Ela enfatizou que esta é uma missão que exige ocupar e transformar espaços historicamente negados.
Franco reforçou a necessidade de construir um novo caminho de justiça e igualdade para todos, sem esquecer as lutas passadas e o trabalho árduo que ainda está por vir. Ela chamou a atenção para a urgência de políticas públicas que reflitam essa jornada coletiva de resistência e esperança.
O ministro de Relações Exteriores do Togo, Robert Dussey, encerrou a conferência com um apelo à união e à ação coletiva. "Estamos aqui para afirmar nossa dignidade e construir um futuro que celebre nossa diversidade," disse Dussey. Ele enfatizou que, somente através da cooperação e solidariedade, será possível superar os desafios impostos pela história e avançar em direção a um futuro mais justo.
Dussey reforçou, ainda, a importância de construção de redes econômicas e culturais robustas entre a África e suas diásporas. Ele destacou que essas parcerias são cruciais para a emancipação e o desenvolvimento coletivo das nações envolvidas.
A conferência, marcada por discursos poderosos e reflexões profundas, reafirmou o compromisso dos países participantes com o panafricanismo, a justiça social e a promoção da igualdade racial.
O encontro em Salvador foi um marco histórico, simbolizando um passo significativo na luta pela reparação e pela memória coletiva dos povos africanos e suas diásporas. Mais do que um evento, a conferência representou um compromisso renovado com a construção de um futuro de igualdade e dignidade para todos.