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Coleção leva temática negra às escolas quilombolas
Presidente Eloi Ferreira lança Coleção Conheça Mais – Cultura Afro-Brasileira: Nosso Patrimônio
Por Daiane Souza
A Fundação Cultural Palmares lançou nesta quarta-feira (19) a “Coleção Conheça Mais” – Cultura Afro-Brasileira: Nosso Patrimônio, composta por nove volumes. As obras tratam de manifestações culturais de origem negra, tais como capoeira, quilombo gastronomia, religiões de matriz africana, além de ações afirmativas, e Estatuto da Igualdade Racial. Os volumes serão distribuídos nas escolas quilombolas e bibliotecas públicas.
Durante o lançamento, Eloi Ferreira de Araujo, presidente da instituição, ressaltou a importância dos temas tratados nas publicações. “São temas relevantes a condição de todos nós, negros e não-negros, porque fazem parte da história do país”, afirmou. Ele destacou que os objetivos das publicações foram garantir a informação rápida e com grande poder de alcance.
O presidente afirmou que o Estatuto da Igualdade Racial foi a âncora para a realização dos debates e a construção da coletânea. “O Estatuto impôs uma agenda para ser tratada pelo Estado”, comentou. “O material garantirá que as temáticas da população negra cheguem a toda a sociedade, principalmente às comunidades de quilombos por meio das escolas”, completou.
O mestre de capoeira Luiz Renato Vieira, alertou que as provocações proporcionadas pelos debates podem ensejar posicionamentos interessantes sobre as questões negras brasileiras. “Por muito tempo, essas questões da cultura brasileira foram tidas como periféricas, exóticas ou não-fundamentais ao Estado”, disse. “A coleção mostra que não há como construir uma agenda sem incorporar essas temáticas”, pontuou.
Para ressaltar essa importância, ele exemplificou citando que não existe como debater reforma agrária sem levar em consideração as comunidades quilombolas, nem como discutir democracia sem levar em consideração a população negra que no Brasil corresponde a 52% dos habitantes. “O Brasil deu saltos em desenvolvimento, mas continua desigual e tem por justificativa o racismo”, concluiu.
Expectativas – Danilo Magalhães, agente jovem da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais
Quilombolas (Conaq), acredita que as publicações são uma forma de o Governo pagar a dívida que tem com a população negra. “Dívida que deve ser paga a toda a sociedade. Nós negros perdemos porque não contaram nossa história por séculos, os não-negros perderam porque não aprenderam sobre nós”, disse lembrando que a educação é o melhor caminho para a inserção da história na sociedade.
Quilombola de Mesquita, comunidade certificada mais próxima da capital federal, Marcela Dutra elogiou a iniciativa e disse que com o material as crianças de seu quilombo passarão a ter uma outra visão de sua condição. “Ainda existem quilombolas que não compreendem o que significa pertencer a uma comunidade tradicional. As publicações nos ajudarão a excluir os mitos no processo de auto-afirmação dessas pessoas”, agradeceu.
A liderança da comunidade, Sandra Pereira Braga, reforçou que iniciativas como esta precisam ser ampliadas para todos os estados e municípios. “Nossos gestores precisam compreender nossa cultura para colaborarem com as lutas por nossos direitos”, destacou. “Somente com união, chegaremos à democracia. Ideias que tratem de questão tão importante que é a cultura negra, serão sempre bem vindas”, disse.