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Clubes e Sociedades Negras Reivindicam Apoio do Poder Público para Revitalização e Valorização Cultural Negra
Brasília, 4/12/06 – De 24 a 26 de novembro, aconteceu o 1º Encontro Nacional de Clubes e Sociedades Negras, em Santa Maria (RS). Nos três dias mais de 300 pessoas discutiram a situação dos clubes e sociedades negras, fizeram um diagnóstico, aprimoraram o conceito e apontaram caminhos para revitalização desses espaços compreendidos como fundamentais para a resistência cultural afro-brasileira.
O evento, realizado pela Seppir em parceria com a Prefeitura de Santa Maria e o Museu Treze de Maio, contou com a presença da ministra Matilde Ribeiro no domingo (26), quando destacou a importância sociopolítica dos espaços de convivência negros por serem ícones da manutenção da identidade cultural afro-brasileira que necessitam de ações do Estado e da sociedade civil para sua continuidade.
No encontro, estiveram representados 53 clubes negros do Rio Grande do Sul e 14 sociedades negras de Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro orientados pelos eixos temáticos: clubes e sociedades negras; centros de cultura afro e ecomuseus e museus comunitários.
Compondo a comissão organizadora do 1º Encontro Nacional de Clubes e Sociedades Negras, o integrante do CNPIR (Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial), Oliveira Silveira, considera os clubes e sociedades negras uma realidade nacional. “São espaços físicos, sociais e culturais muito preciosos. Um exame rápido da situação desses organismos revela sintomas de debilidade, desestruturação, perigo de desaparecimento, a exemplo de tantos que sucumbiram”, destaca um dos líderes da exaltação de Zumbi dos Palmares como herói nacional e afirmação do 20 de Novembro como data de referência para o povo negro.
O grupo construiu a “Carta de Santa Maria” para discussão e articulação com o governo federal, destacando nove pontos: o reconhecimento desses clubes ,como patrimônio cultural do Brasil através de encaminhamentos para o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e Fundação Cultural Palmares; formação de gestores ns áreas de preparação de projetos e intervenção no orçamento inclusive no PPA (Plano Plurianual); desenvolvimento de ações afirmativas nos clubes e sociedades negras, como inclusão digital, esporte, cursos preparatórios e de qualificação para a comunidade negra; formação dos gestores dos clubes em museologia comunitária; criação de edital específico para mapeamento do patrimônio material e imaterial dos clubes e sociedades negras em âmbito nacional e para participação do Programa Cultura Viva – Pontos de Cultura; revitalização dos espaços físicos; elaboração de cadastro nacional dos clubes negros por meio do Iphan e criação de secretarias, coordenadorias e/ou diretorias para públicas públicas para a comunidade negra em municípios e estados.
Segundo a museóloga Giane Vargas Escobar, integrante da Comissão Organizadora, o encontro possibilitou uma melhor organização do setor, compreensão das presidências e diretorias da representatividade dos clubes e sociedades negras, a partir da abertura desses espaços para serem pólos de geração de trabalho e renda, educação, cultura e organização política da sociedade negra. “No encontro, percebeu-se que as demandas são coletivas como ausência da juventude, desmonte das entidades, endividamento e distanciamento da comunidade negra. Foi possível o entendimento que não basta a obtenção de recursos para revitalização física desses espaços, e sim o reconhecimento da potencialidade dos clubes negros para organização política do povo negro. Há compreensão da autonomia da sociedade civil e da necessidade de parceria com o Poder Público, em todas as suas esferas, como uma política de reparação”, afirma Giane Vargas Escobar.
Histórico
Surgidas no final do século XIX, os clubes e sociedades negras são associações constituídas como alternativa de sociabilidade dos negros impedidos de freqüentar as demais sociedades em decorrência do racismo e da discriminação racial. Um dos casos ilustrativos é a Sociedade Beneficente Cultural Floresta Aurora – clube negro mais antigo em atividade no Brasil, criada em Porto Alegre, no ano de 1872, por negros forros para arrecadar donativos e custear as despesas funerais, e adquirir a liberdade de outros negros ainda na condição de escravizados.
Em visita a Santa Maria pela passagem do centenário da Sociedade Cultural Ferroviária 13 de Maio, no ano de 2003, a ministra Matilde Ribeiro conheceu a história da entidade e o projeto de criação do Museu Treze de Maio por motivação da comunidade e de pesquisadores negros.
Em abril de 2005, no processo preparatório da 1ª Conferência Estadual de Promoção da Igualdade Racial do Rio Grande do Sul o conselheiro do CNPIR Oliveira Silveira levou ao plenário a questão dos clubes e sociedades negras, a qual foi incorporada pela Seppir e incluída nas resoluções da 1ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial no eixo Diversidade Cultural e no eixo Fortalecimento das Organizações Anti-racismo, assumindo a realização do 1º Encontro Nacional de Clubes e Sociedades Negras.