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Chica Xavier: arte, sabedoria, amor e fé
Os palcos brasileiros se despedem de Francisca Xavier Queiroz de Jesus, para o público Chica Xavier, que no último dia 8 de agosto faleceu aos 88 anos em decorrência de complicações de um câncer no pulmão.
Chica, que nasceu em Salvador em 22 de janeiro de 1932, tinha cerca de 6 décadas de carreira e como artista negra foi uma das pioneiras na teledramaturgia brasileira. Chica era versátil, sua arte foi contemplada na TV, teatro, literatura e cinema, onde estreou atuando na produção “Assalto ao Trem Pagador de Roberto Faria” em 1962, sendo sucesso de público e crítica.
Sua carreira iniciou-se em 1953 quando se mudou para o Rio de Janeiro, onde estudou teatro. Três anos depois estreava no Teatro Municipal, com a peça “Orfeu da Conceição”, ao lado de seu esposo Clementino Kelé, Haroldo Costa, Cyro Monteiro, Dirce Paiva, Léa Garcia, entre outros. Chica fazia o papel da Dama Negra, que simbolizava a Morte e se apresentava dançando ao som de atabaques e declamando versos de Vinícius de Moraes.
Vó Chica, como era carinhosamente chamada, ficou conhecida pelo grande público devido suas atuações em novelas da Rede Globo. Em 1973 estreou oficialmente na TV, na obra “Os Ossos do Barão”, porém, em alguns registros constam que ela esteve em 1969 na novela “A Cabana do Pai Tomás”. Desde então, foram mais de 50 personagens só em televisão nas mais diversas obras como: Dancin’ Days, Pátria Minha, Cara & Coroa, Força de um Desejo, com destaque para Sinhá Moça e Renascer onde eternizou personagens emblemáticas e na minissérie Tenda dos Milagres, dando vida a mãe-de-santo Magé Bassã.
Mesmo sendo uma atriz de alto escalão e de atuação impecável, curiosamente era chamada repetidas vezes para representar papéis muito parecidos, alternando entre escrava ou mãe de santo. Talvez, por ter sua religiosidade muito bem clara e uma sabedoria ímpar, de certa forma os autores se sentiam mais confortáveis em direcionar essas personagens a ela, de modo com que parte da crítica afirmasse — e com razão— que seu talento poderia ter sido melhor explorado.
Já na literatura, lançou o livro “Chica Xavier canta sua prosa. Cantigas, louvações e rezas para os orixás”(1999), prefaciado por Miguel Falabella e ilustrado por sua filha, Izabela d’Oxóssi.
Um fato um pouco desconhecido pelo grande público é que Chiquinha era aposentada do Ministério da Educação. Como Funcionária Pública, trabalhou em importantes instituições como o INEP(Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, o CBPE(Centro Brasileiro de pesquisas Educacionais) e no CLAPCS(Centro Latino-Americano de Pesquisas Educacionais).
Diante de uma vida dedicada a arte e cultura e destacando-se como grande personalidade da representatividade negra do Brasil, em 2010 Chica recebeu o prêmio Alaiandê Xirê, da Fundação Cultural Palmares.
Vida Pessoal
Em 1953 começou o namoro com seu amigo de adolescência, o também ator Clementino Kelé — que foi seu primeiro e único namorado — e em 1956 oficializaram a união e foram viver no Rio de Janeiro para que juntos pudessem realizar o sonho de trabalhar com artes cênicas, o que conseguiram. O casal teve três filhos: Clementino Filho, Izabela e Christina.
Chica era seguidora da Umbanda, e no final dos anos 80 mudou-se para o bairro de Sepetiba (RJ), onde se iniciou como mãe de santo, fundando seu próprio terreiro. Atualmente os três netos de Chica, Ernesto, Luana e Oranyan, estão coordenando a Irmandade.
Em uma rede social, sua neta e também atriz, Luana Xavier, despede-se emocionada da Avó “Porque ser herdeira de Chica Xavier na arte, na fé e no amor, é o maior prazer que eu tenho. Obrigada por ser minha vó nessa vida, obrigada por sempre ter as palavras certas na hora certa, obrigada por ser um dos seres humanos mais incríveis que já passou pela terra” desabafa.
Diante de todo esse legado de arte, sabedoria, amor e fé, o Brasil aplaude de pé o cerrar das cortinas de Chica Xavier.
A Fundação Cultual Palmares presta condolências à família e amigos dessa grande dama da arte e cultura Brasileira.