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Centenário de Mandela reforça a memória de um dos maiores líderes da história
Nesta quarta-feira, 18 de julho, se estivesse vivo o líder sul-africano Nelson Mandela completaria 100 anos de nascimento. Ele foi uma das figuras mais importantes da história da humanidade, pela luta que dedicou contra o regime de segregação racial do Apartheid, que privilegiava a minoria branca e oprimia violentamente a maioria negra. Em homenagem ao centenário de Mandela, a Fundação Cultural Palmares (FCP) publica uma série de textos em homenagem ao célebre ativista, que passou boa parte de sua vida na prisão para que seu povo conquistasse a liberdade.
Mandela nasceu no vilarejo de Mvezo, localizado no sudeste da África do Sul. Nelson Rolihlahla Mandela (1918-2013) viveu um dos mais conturbados períodos da história de seu país. Membro de uma família importante na comunidade onde nasceu, se envolveu com situações muito diversas, a ponto de ter sido prisioneiro político durante 27 anos num momento e em outro ter ocupado a primeira presidência sul africana em eleições amplamente representativas.
Na juventude, Mandela viveu transitando entre a tradicionalidade de sua comunidade de origem e as transformações ocidentalizadoras que ocorriam em ritmo acelerado na sociedade. Apesar dos pais analfabetos, desde criança sempre dedicou atenção especial aos estudos. Formou-se em escolas metodistas e, apesar de haver ingressado num curso superior na Universidade de Fort Hare, logo em seguida, em 1940, não pôde concluí-lo num primeiro momento. Foi expulso por participar de um protesto contra a qualidade da comida do refeitório. Após a expulsão, se negando a voltar para sua comunidade de origem onde o tio havia lhe escolhido uma esposa para que se casasse, fugiu para Joanesburgo em 1941, na companhia de um primo.
Em Joanesburgo, vivendo nas “Townships” (bairros periféricos dos grandes centros urbanos sulafricanos, reservados para moradia de cidadãos negros) e trabalhando em empregos mal remunerados, Mandela começou a ter contato com membros do Congresso Nacional Africano (CNA) e do Partido Comunista Sul Africano. A partir daí, deu continuidade aos seus estudos em Direito. Ainda durante os estudos, se juntou ao CNA e participou da fundação da seção de Juventude da entidade, ascendendo com o passar dos anos a cargos de maior importância na organização, que ganhou mais relevância e capilaridade na política nacional.
As eleições nacionais de 1948, de participação exclusiva da minoria branca, levaram ao poder o Partido Nacional, agremiação política assumidamente segregacionista que deu início ao estabelecimento de uma série de medidas restritivas da cidadania, chamadas de leis do Apartheid. Com o avanço dessas medidas, o CNA (com Mandela entre suas lideranças) impulsionou e organizou uma séries de greves, boicotes, e protestos contra o regime, pautados na desobediência civil e em atos pacíficos. Tais atos foram usados como pretexto pelo regime do Partido Nacional para perseguir e prender as lideranças rebeldes que agitavam o país por traição, entre elas, Nelson Mandela. em 1962.
Nacionalmente a resistência continuou, e internacionalmente ganhou força a campanha “Free Mandela!”, entretanto, o contexto global da Guerra Fria e o adjacente medo dos rebeldes nacionais anti-apartheid tomarem o poder e aliarem-se ao bloco soviético, serviu como impeditivo de um maior apoio da comunidade internacional à causa dos rebeldes.
Mesmo com as prisões, as mobilizações contra o Apartheid não se encerraram, e, ficaram cada vez mais violentas no decorrer da década de 80, revelando a perigosa bomba relógio que se armava na sociedade sul africana. Conforme aumentava a tensão nas ruas, o governo negociava a libertação de Nelson Mandela, para evitar uma revolta racial generalizada no país.
Em fevereiro de 1990, após 27 anos, Mandela foi libertado da prisão. Dias depois, proferiu um discurso num estádio lotado com mais de 100 mil pessoas no qual defendeu um novo caminho de reconstrução nacional da África do Sul pautado na conciliação pacífica entre as raças e no reconhecimento da nação como multiétnica. Apesar das críticas enfrentadas, tanto por parte de aliados da CNA (e ex-membros) por sua postura conciliatória, quanto por parte de seus opositores brancos por sua rebeldia, Mandela logra disseminar seu discurso conciliatório entre seus apoiadores, e, assim, alcança em 1994 a vitória com mais de 60% dos votos nas primeiras eleições presidenciais sul africanas com ampla participação da população.
A partir daí, como presidente Mandela instituiu sua plataforma política como plataforma de estado, e, com o apoio de um gabinete de ministros conciliatório que abarcava diversos atores políticos do período (inclusive o Partido Nacional), deu início a uma profunda reconstrução da África do Sul, com base num liberalismo que respeitava o caráter multiétnico, a igualdade de direitos e a plena liberdade independentemente da raça. O fim desse processo de refundação ocorreu com a promulgação de uma nova Constituição em 1996.
Dada sua extensa e louvável trajetória dedicada à luta por igualdade, liberdade, e respeito em seu país, Mandela foi homenageado com mais de 250 prêmios e títulos em reconhecimento ao seu legado, figurando entre estes o Prêmio Nobel da Paz de 1993.
Nelson Mandela em decorrência de uma infecção respiratória aos 95 anos de idade, em 5 de Dezembro de 2013, em Joanesburgo, na companhia seus familiares. Em sua memória, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas instituiu por consenso a comemoração do Dia Internacional Nelson Mandela, celebrado anualmente no dia de seu nascimento, 18 de Julho.