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Causos da afrobaianidade
A história sempre foi o terreno de Ubiratan Castro, mestre e doutor na matéria. Ex-presidente da Fundação Cultural Palmares e atual diretor da Fundação Pedro Calmon, ele atua com a preservação e divulgação da memória, sobretudo da negritude.
Em 2004, depois de uma viagem a Cabo Verde, na África, ele resolveu ampliar seu raio de atuação, investindo na ficção. Voltou pensando em colocar no papel histórias e causos ouvidos dos mais velhos que, fatalmente, tendiam a cair no esquecimento. “A grande riqueza do povo negro está na oralidade. Mas ela precisa ser passada para outros meios”, diz Ubiratan, 60 anos.
E completa: “Veja o candomblé. Hoje, os meninos não querem mais se formar alabês, eles querem é sair por aí tocando, aparecendo na mídia”, diz, referindo-se aos músicos-sacerdotes.
De sua parte, cutucou a memória e escreveu inicialmente algumas narrativas, reunidas no livro Sete histórias de negro, de 2006. Com mais cinco contos e novo projeto gráfico, de Nelson Araújo, o trabalho volta às prateleiras, rebatizado de Histórias de negro ( Edufba).
O lançamento será nesta segunda-feira (24), às 18h, na Academia de Letras da Bahia (Nazaré). Destaque para as ilustrações a partir de grafites de rua de Denis Sena. “São histórias transmitidas no contexto de oralidade familiar”, define o autor, acrescentando que elas tratam do “ordinário, do quotidiano, de homens e mulheres comuns, negros todos”.
Falam de escravos, ex-escravos, pretos de ganhos ou seus descendentes, a sacolejar pelas feiras, ruas e becos de Salvador. Em Conta de somar, por exemplo, história que abre o livro, o autor refaz com humor uma das muitas estratégias dos negros urbanos para conseguir a sonhada alforria.
No caso, ludibriando intencionalmente o dono. Para o historiador João José Reis,queassinaoprefácio,nos contos de Ubiratan “combinam-se o contador de histórias e o historiador”. Ele concorda.
Empolgado com a atividade, ele diz que lançará um livro histórico no ano que vem, mas, na sequência, voltará à ficção. Para isso, diz, vai à cata de novas lembranças e causos, com pessoas ligadas ao candomblé ou à Irmandade do Rosário dos Homens Preto, da qual faz parte.
“Cada negro letrado no Brasil tem a obrigação de sistematizar as suas próprias lembranças. A experiência de cada um é um trecho da realidade vivida”, considera Ubiratan.
FICHA
Livro Histórias de negro
Autor Ubiratan Castro de Araújo
Editora Edufba
Preço R$20 (178 páginas)