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Campanha Filhos do Brasil – Principais declarações
Na última terça-feira (10), durante o lançamento da campanha Filhos do Brasil, estiveram reunidos, junto com o embaixador da campanha, Arlindo Cruz, Cida Abreu, Presidenta da Fundação Cultural Palmares, e o ministro da Cultura, Juca Ferreira, várias lideranças religiosas. Aqui, separamos trechos das principais declarações, que revelam os pontos de vistas e impressões dos componentes da mesa, a partir de seus lugares de fala, sobre a Campanha e o contexto em que ela se insere:
Juca Ferreira, Ministro da Cultura
“A intolerância principal no Brasil, historicamente embasada é a intolerância contra as religiões de matriz africana. É preciso valorizar a diversidade cultural e religiosa brasileira, criar um ambiente de respeito mútuo e que o Estado também não se omita e tenha uma posição clara a respeito da questão da intolerância.”
“Agrediram recentemente uma criança com pedradas. Isso é manifestação de barbárie, jamais podemos entender isso como uma manifestação religiosa. Na verdade, é uma fragilidade, uma falta de desenvolvimento espiritual das pessoas que se incomodam com quem é diferente.”
“O evento promove uma relação não só respeitosa, mas afetiva, solidária e amorosa.”
Cida Abreu, presidenta da Fundação Cultural Palmares
“A Filhos do Brasil é uma campanha, em primeiro lugar, em homenagem à memória de Mãe Gilda, do Ilê Axé Abassá de Ogum, do terreiro de candomblé localizado nas imediações da Lagoa do Abaeté, no bairro de Itapuã, em Salvador, que morreu vítima de um crime de intolerância religiosa. Vide esse crime de intolerância religiosa, o presidente Lula criou em 21 de janeiro [de 2007] o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, em homenagem à memória de Mãe Gilda.”
“A campanha vem estabelecer um debate de formulação de conteúdo e construção de narrativa que é enfrentar toda e qualquer forma de discriminação. A intolerância tem várias facetas.”
“Filhos do Brasil é dizer: ‘Independentemente de onde você estiver, de sua cultura e da fé que você professa, você é filho deste país, você é filho desta terra, você é filho do Brasil!’.”
Arlindo Cruz, músico e embaixador da campanha Filhos do Brasil
“A cultura negra sempre se sobressaiu. Como embaixador dessa campanha, percebi que a campanha teve uma rápida adesão pelo momento que passa o país, por essa intolerância contra tudo e contra todos, principalmente contra o negro brasileiro.”
Pai Adailton, babá-egbé da Casa Ilê Axé Omi Oju Aro
“Por que nossa tradição é tão perseguida por cultuarmos nossa natureza? Por que nossos deuses são considerados demônios, diabos, maléficos, se só são representantes da Mãe Terra que abriga a todos? […] Olodumare não faz distinção, discriminação entre nós. O mundo é para todos nós.”
Franklin Félix de Lima, do Movimento Espírita e Direitos Humanos
“Um evento dessa magnitude tem a importância de, primeiro, referendar e reforçar o Estado laico que nós vivemos. […] Fazemos coro para que o Brasil continue apoiando plenamente a sua laicidade. Retroceder, jamais!”
“Nós, enquanto espíritas acreditamos que a diversidade, em suas diversas esferas, contribui para o enfrentamento às várias intolerâncias.”
João Brant, secretário executivo do Ministério da Cultura
“A diversidade é uma afirmação perene e constante. Não é uma lei, uma norma que depois de afirmada ela se garante. Ela é uma batalha diária.”
“A campanha pela tolerância e a Filhos do Brasil é a principal mensagem que precisamos passar durante os Jogos Olímpicos, a afirmação do Brasil como um país tolerante.”
Daniel Sottomaior, da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos
“Eventos como este, que dão voz a ateus e agnósticos, são ainda raros e a defesa da diversidade, para ser plena, deve escutar todos os lados. As raras instituições que se dispõem a ouvir os ateus estão verdadeiramente alinhadas com a pluralidade, por isso parabenizamos a Fundação Cultural Palmares.”
“A ideia de que nosso país sempre foi um oásis de harmonia religiosa é um mito. Historicamente o Brasil é um país de imposição religiosa. […] Há ainda hoje um monopólio religioso [discursivo] que atinge as minorias religiosas e a-religiosas.”
“A ausência da laicidade no nosso Estado entronou uma religião e seus seguidores como superiores às demais religiões e seus seguidores, bem como ao ateísmo e aos ateus. É óbvio que isso um dia iria dar errado como está dando agora. Essa cultura legitima qualquer tipo de violência: moral, verbal, física.”
Sheikh Mohammad Al Bukai, da União Nacional das Entidades Islâmicas do Brasil
“Eu gostei muito dessa expressão Filhos do Brasil. É como se o Brasil fosse uma mãe e nós todos fossemos filhos dessa mãe. Ela trata todos os filhos de uma forma igual.”
“Não podemos aceitar a intolerância ou o uso da religião para menosprezar o outro. Infelizmente, hoje a religião está sendo muito usada por interesse político ou econômico. Por isso estamos tendo esses conflitos, esses problemas em vários lugares do mundo, porque a religião está sendo usada por interesse.”
Pastora Romi Bencke, do Conselho Nacional de Igrejas
“Essa campanha Filhos do Brasil vem em boa hora, a gente está vivendo um momento de acirramento das intolerância, dos ódios. Boa parte da intolerância religiosa vem caracterizada também do componente do racismo.”
“Um dos grandes desafios que essa campanha nos coloca, igrejas cristãs, é o desafio da autocrítica, porque lamentavelmente a intolerância religiosa aqui no Brasil tem sido praticada por pessoas que instrumentalizam a fé em Jesus Cristo e com isso começam a identificar demônios e o rosto do demônio tem componente forte de racismo, de sexismo e de homofobia.”
“Outro grande desafio de afirmação do Estado laico é nossa discordância quanto à instrumentalização, no Congresso Nacional, da religião cristã para a aprovação de leis que ferem os direitos humanos. Essas pessoas precisam ser honestas e fazer isso em nome delas, não em nome do cristianismo.”
“A campanha Filhos do Brasil retoma a perspectiva da casa comum. O Brasil é uma grande casa comum composta pela diversidade e é essa diversidade que precisamos defender e proteger.”
Edoarda Scherer – facilitadora nacional da Rede Ecumênica da Juventude
“A campanha Filhos do Brasil alerta e denuncia a intensa violência sofrida pelas religiões de matriz africana. Cabe também a outros setores da sociedade se colocarem a serviço dessa proteção e de promover não só ambientes de diálogo, mas também promover caminhos que façam com que a sociedade tenha um espaço saudável, um espaço público saudável, onde se possa valer a democracia e, nesse ambiente democrático, um espaço pleno da diversidade religiosa, garantindo a laicidade do Estado àqueles que creem e àqueles que não creem.”