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Cais do Valongo é cenário de homenagem a Abdias Nascimento
Exibição do documentário sobre a cerimônia de deposição das cinzas de Abdias na Serra da Barriga.
Jacqueline Freitas
Com cerimônia realizada no Cais do Valongo, por onde passaram milhares de ancestrais africanos escravizados, o Ipeafro – Instituto de Estudos e Pesquisas Afro-brasileiros marcou, no dia 23 de maio, um ano da passagem de Abdias Nascimento para o Órum . Criador do Ipeafro, Abdias foi o maior e mais importante defensor dos direitos dos afrodescendentes e da igualdade racial no Brasil.
O ato foi conduzido pela viúva de Abdias, Elisa Larkin Nascimento, com a participação de autoridades religiosas e governamentais, representantes da classe artística, entre outros. A programação iniciou com uma cerimônia inter-religiosa, seguida de diversas apresentações, como a da atriz Léa Garcia, primeira esposa de Abdias e sua companheira no Teatro Experimental do Negro; de membros da escola de samba Acadêmicos de Vigário Geral, que em 2012 escolheu a vida e a obra de Abdias Nascimento para tema de seu enredo; e do grupo musical Saci Chorão, já que o chorinho estava entre as preferências do homenageado.
Um dos pontos altos da noite foi a exibição de um novo documentário do diretor Fernando Bola, mostrando a cerimônia de deposição das cinzas de Abdias Nascimento, ocorrida em novembro do ano passado. As cenas eram inéditas, de acordo com Elisa Larkin: “Eu mesma ainda não conhecia essas imagens. Obrigada, Fernando”, emocionou-se a viúva. Atendendo a um desejo de Abdias, seus restos mortais foram levados para o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, local de resistência e de construção da liberdade pela República de Palmares, cujo último líder foi Zumbi.
A Fundação Cultural Palmares participou da homenagem representada pelo presidente Eloi Ferreira de Araujo, e o representante regional no Rio de Janeiro e Espírito Santo, Rodrigo Nascimento. O presidente da FCP relembrou um de seus momentos mais marcantes, dentre vários que vivenciou com o líder negro: “Por ocasião da luta pela implementação do Estatuto da Igualdade Racial, pude aprender com este mestre uma grande lição, ainda que a lei não contemplasse todas as nossas reivindicações. ‘Se é para defender o nosso povo, ninguém deve ser contra’, me disse ele”, relatou Eloi Ferreira.
Com informações do Ipeafro.
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*Órum é uma palavra da língua yoruba que, na mitologia desse povo, define o céu, ou o mundo espiritual, paralelo ao Aiye, ou a terra, o mundo físico. Tudo que existe no Órum coexiste no Aiye através da dupla existência Órum-Aiye.