Notícias
Café Literário recebe Eliana Alves na 35ª Felib
A 35ª Feira do Livro de Brasília recebeu na tarde da sexta-feira (14) a escritora Eliana Alves Cruz, autora de Água de Barrela, obra premiada na primeira edição do Prêmio Oliveira Silveira, da Fundação Cultural Palmares (FCP), em 2015. No espaço Café Literário, a autora falou sobre esta e sobre a obra O Crime do Cais do Valongo, que deverão se tornar respectivamente uma série pela indústria cinematográfica e um filme, por uma emissora brasileira de Tv.
Em Água de Barrela, Eliana reconta uma história social tendo como referência a sua própria família, sob a ótica de um protagonismo negro e feminino. Ela decidiu escrever devido à dificuldade de encontrar literatura direcionada ao seu perfil. “Os livros geralmente não retratam pessoas como eu, então fiz meu próprio registro”, contou ao público. “Os poucos personagens negros que existem, ainda são estereotipados ou associados a tudo de ruim a que se pode comparar uma pessoa”, complementou.
O livro levou seis anos para ser finalizado. Barrela, era como se chamavam os alvejantes caseiros, feitos com cinzas, no período colonial. Na obra, a intenção de Eliana era apresentar a subjetividade das personagens, mostrando o olhar das que foram escravizadas e, para sua surpresa, trouxe o retrato descrito de mulheres fortes, conscientes e empoderadas. “São mulheres da minha família contando como ‘barrela’ se tornou sinônimo de ‘trabalho’, de esforço, mas principalmente de mecanismos de sobrevivência e de vitória sobre a opressão”, enfatizou.
Damiana, avó da escritora, celebrou 100 anos de vida na mesma data do centenário da Abolição da Escravatura. Outras personagens como uma de suas tias, resgata memórias de um período de muita crueldade sobre as pessoas de pele escura. Paralelamente aos fatos do livro, Eliana coloca constantemente a necessidade de que as crueldades do colonialismo nunca sejam esquecidas. “É importante que o termo ‘escravidão’ venha sempre acompanhado de ‘reparação’, algo que a nossa sociedade ainda necessita”, alerta.
O Crime do Cais do Valongo – A segunda obra publicada de Eliana Alves Cruz é uma ficção, porém, com personagens reais. Trata-se de um livro policial com uma mistura de romance e literatura fantástica. “Traz um Rio de Janeiro pouco conhecido, o local mais escravocrata da história do mundo, o espaço que recebeu mais de 1 milhão de pessoas escravizadas”, disse, lembrando que este é um aspecto pouco referenciado na História Oficial, nos livros didáticos.
Segundo ela, a cidade do Rio de Janeiro aparece como personagem e o Valongo é destacado do mesmo modo como era tratado pelos cronistas do século IX: uma encruzilhada do mundo. “Ali passaram pessoas vindas de todos os países do continente africano, da Europa, da própria sociedade do Rio em ebulição”, disse. “Encruzilhada entre o mundo dos libertos e dos escravizados, dos vivos e dos mortos, dos letrados e iletrados, de personagens como encruzilhadas”.
Difusão literária – Novas perspectivas sobre histórias reais merecem ser repercutidas. Com essa linha de raciocínio, Vanderlei Lourenço, presidente da FCP, elogiou as obras de Eliana e abordou a importância do Prêmio Oliveira Silveira como difusor do trabalho de escritores que destacam algum traço da cultura negra. “Foi o incentivo que faltava para que escritores com dificuldade de enfrentar o mercado editorial brasileiro tirassem suas obras da gaveta”, pontuou.
“A literatura é importante no processo de difusão da cultura e a literatura negra precisa crescer para referenciar 53% da nossa população”, afirmou.
O Prêmio veio para resolver um problema histórico que atinge a produção das artes e literaturas no país. “Incentiva-se muito o que é produzido no Sul e Sudeste, timidamente no Centro-Oeste, mas praticamente não se estimulam as regiões Norte e Nordeste ao ponto de fazer com que as pessoas que estão lá e que fazem a boa literatura sejam reconhecidas”, ressalta Lourenço.
Os cinco livros contemplados pelo I Prêmio Oliveira Silveira totalizaram uma tiragem de 30 mil exemplares distribuídos pelas principais capitais do país. Lourenço destacou a necessidade de concursos para ampliar as possibilidades a autores. “É uma questão de dignidade, não se trata apenas de publicar, mas de tornar o escritor conhecido. Os livros publicados pela Palmares já vão para as ruas como Best Sellers, devido a uma tiragem inicial elevada, de no mínimo cinco mil exemplares”.