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Brasil perde referência em cinema afro-brasileiro
Por Daiane Souza
O presidente Eloi Ferreira de Araujo, representando toda a Fundação Cultural Palmares, se solidariza com a família do cineasta e roteirista Zózimo Bulbul, que faleceu aos 75 anos na manhã desta quinta-feira (24). Ícone negro dos anos 60, por suas interpretações na tevê e no cinema, em 50 anos de carreira Bulbul lutou contra preconceitos e buscou ampliar a visibilidade do negro na sociedade brasileira por meio de sua profissão.
De acordo com a família, o cineasta trabalhou até novembro de 2012 e passou os últimos meses em casa, onde era acompanhado em tratamento contra um câncer no colo do intestino. O velório ocorreu durante a tarde da quinta-feira, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro e o sepultamento acontecerá as 12h desta sexta-feira no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária do Rio de Janeiro.
O presidente Eloi lembrou a importância do amigo que com suas obras alertava para as condições dos afrodescendentes. “O Brasil hoje ficou menos africano”, lamentou. “É uma grande perda, uma vez que Zózimo foi um ícone que contribuiu para nos dar o sentido de referência negra”, completou destacando que o olhar do cineasta influenciou inúmeros brasileiros que nele tinham uma definição de identidade.
Segundo Eloi, as atitudes de Zózimo eram claras em mostrar que o Brasil deveria ser um lugar de respeito às diferenças e de valorização de suas raízes. “Ele deixou um legado que nos enriquece e convence de que devemos continuar a luta pela democracia racial”, afirmou. “A Fundação tem nesse legado, o compromisso de tornar possível cada vez mais o acesso de todos à cultura e aos bens econômicos, além de reduzir as distâncias entre o Brasil e a África”, concluiu.
Entre as mais importantes obras de Zózimo estão o curta Alma no olho, uma metáfora sobre a escravidão, e Abolição, obra que marcou o centenário do Fim da Escravatura no Brasil, descrevendo as situações enfrentadas pelos povos negros brasileiros. Em outros trabalhos, Bulbul atuou em 1969, em Vidas em Conflito, da TV Excelsior, se tornando o primeiro negro a ser protagonista de uma novela brasileira.
Foi um dos principais atores dos filmes produzidos no movimento do Cinema Novo. Como ator, iniciou a carreira em produções teatrais do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE, passando por participações importantes em clássicos do Cinema Novo de diretores como Glauber Rocha , Cacá Diegues e Leon Hirzman. Como produtor, se dedicou a realizar o festivais e mostras de cinema negro.