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Brasil é convidado de honra do III Festival Mundial das Artes Negras, no Senegal
por duas semanas, irá mostrar a riqueza cultural do continente africano.
Daise Lisboa
(http://www.portugaldigital.com.br/noticia.kmf?cod=8519821&canal=156)
Brasília – A participação do Brasil no III Festival Mundial das Artes Negras (Fesman) que vai acontecer no Senegal, de 1º a 14 de dezembro, está confirmada, mas até lá os preparativos reservam muitas atividades por parte do comitê organizador, que é liderado pelo presidente da Fundação Palmares (FCP), Zulu Araújo.
A expectativa é grande para o festival que vai homenagear o Brasil. “Espero que seja um momento de encontro, troca de experiências, intercâmbio no mais amplo sentido que esta palavra possa ter”, declarou Zulu Araújo ao Portugal Digital/África 21 Digital.
“Espero que por meio das artes, nas nossas mais variadas experiências, tanto na África como na diáspora, o festival nos proporcione um momento especial. E que seja realmente o renascimento africano, que é o tema do festival, e isso esteja pleno em cada um de nós”.
Esta não é a primeira participação do Brasil no Fesman. Zulu explicou que o Brasil já havia participado das outras edições. “Na primeira, em 1966, foi muito tímida, por conta da ditadura. Em 1977, a presença do Brasil foi mais expressiva, embora ainda estivéssemos vivendo num momento pós-ditadura”, relembrou. “Agora, não. A presença vai ser plena, no sentido do Estado brasileiro. Ainda mais que o Brasil vai ser o convidado de honra e o homenageado pelo Senegal”, disse confiante.
Zulu destacou ainda, que há no Brasil uma mobilização para que o país se mostre por inteiro em Dacar. “Queremos levar para o Senegal a contribuição negra nas linguagens artísticas brasileiras”, revelou.
Existem muitas propostas que serão levadas ao festival, que vão aproximar mais o Brasil do Senegal. “No campo cultural já existe esse encontro. A intensificação desses encontros é fundamental, a exemplo do Carnaval na Bahia, em 2006, quando o Balé do Senegal se apresentou junto aos blocos afros”. Um exemplo mais recente, também ocorrido na Bahia, dia 25 de maio passado, nas comemorações do Dia de África e no lançamento oficial do festival, foi a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente do Senegal, Abdoulaye Wade. “Estiveram juntos Gilberto Gil, Margarete Menezes, Carlinhos Brown, o Balé Folclórico da Bahia, os Irmãos Guissé (Les Frères Guissé), entre outros”, exemplificou.
Zulu enfatizou que o momento não foi só de arte e cultura. Também foram apresentadas, na ocasião, propostas na área de negócios. “Está sendo articulado um vôo direto entre Recife (PE) e Dacar, a capital senegalesa”.
Em busca de recursos
Para a participação do Brasil no festival, segundo Zulu, estão reservados R$ 3 milhões. “Os recursos que temos não são suficientes, mas temos a garantia do governo brasileiro de que teremos a ampliação dos recursos para termos uma apresentação digna no Senegal”.
Na visão do presidente da Fundação Palmares, a crise financeira não vai atrapalhar em nada a representação do Brasil em Dacar. “A existência da crise financeira é um estímulo para que nós [brasileiros] possamos superar mais um obstáculo. Teremos de usar de nossa criatividade, ousadia e bom senso. E o Brasil vem enfrentando a crise assim e com sucesso”, avalia.
O Fesman já conta com vários países da CPLP, como Portugal, Cabo Verde, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, além do Brasil, embora alguns ainda não tenham sido confirmados, como Guiné-Bissau e Timor Leste. Mais de 80 países vão participar do III Fesman que, por duas semanas, vai mostrar a riqueza cultural do continente africano.
No próximo dia 10 de junho, haverá uma reunião do comitê dos órgãos internos do Ministério da Cultura. “Vamos traçar as principais diretrizes paras o lançamento do edital de seleção dos artistas que irão participar do III Fesman. Uma parte dos artistas será via convite e outra via edital”, explicou.
“Marco na história”
O atual momento em que o Brasil vive é visto por Zulu como um marco na história para os negros. Como defensor ferrenho das cotas raciais, ele lembra que elas foram implantadas em 2006 e e que hoje já se pode ter em números o resultado positivo da lei.
“Já temos 254 mil estudantes negros no ensino superior, beneficiados pelas cotas. A implantação das cotas é um instrumento efetivo de promoção da igualdade racial na Educação e na inclusão do negro no ensino brasileiro. São hoje 57 universidades do Brasil que têm esse sistema e com ele foi permitido que entrassem mais negros no ensino superior nos últimos cinco anos do que em toda a história no Brasil. A lei está cumprindo seu papel e na verdade é parte do programa de política de ações afirmativas do governo brasileiro, que tem alcançado pleno sucesso”, garante o presidente da Fundação Palmares.