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Biblioteca Oliveira Silveira é reinaugurada em Brasília
A cerimônia de reinauguração da Biblioteca Oliveira Silveira foi marcada pelo reconhecimento das obras do poeta homenageado e pelo resgate da poesia como manifestação da cultura negra. O evento aconteceu na última terça-feira, (03) e recebeu, na Fundação Cultural Palmares (FCP), um grande público que conheceu as novas instalações da biblioteca e a sala de multimídia, cujo nome é uma homenagem a psicóloga e pesquisadora Virgínia Bicudo. A Biblioteca não funcionava há mais de um ano devido à mudança física da instituição.
Com mais de 16 mil obras, a Biblioteca Oliveira Silveira é especializada em cultura afro-brasileira. Já a sala de multimídia Virgínia Bicudo, é um espaço destinado a eventos que necessitam da utilização de material áudio visual. Tendo em vista as inúmeras possiblidades de aproveitamento do material, o presidente da FCP, Hilton Cobra, parabenizou a equipe da biblioteca pelo trabalho realizado. “Tenho alegria de ver a reabertura desta biblioteca principalmente por conta do rico acervo que temos aqui, tão bem organizado pela equipe da FCP” destacou.
A cerimônia também contou com a participação do adido cultural da embaixada de Angola, José Carlos Lamartine, que cumprimentou a equipe da biblioteca pela abertura de mais um veículo para a transmissão de conhecimento. “Acredito que nessa biblioteca estarão livros que se referem a contribuição de Angola e África na construção da cultura negra do Brasil.”
Sobre o homenageado, o professor e doutor da Universidade de Brasília, Ivair Augusto dos Santos lembrou a luta do poeta gaúcho Oliveira Silveira. “Oliveira é um exemplo de militância. A Palmares ao fazer essa homenagem está fazendo referência a todos os militantes. Esse é um verdadeiro resgate a militância do movimento negro,” emocionou-se.
A coordenadora-geral do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra da FCP (CNIRC) e idealizadora dos projetos da biblioteca e da sala multimídia, professora Joselina da Silva agradeceu a todos os servidores da Fundação Cultural Palmares pela colaboração e lembrou da grande responsabilidade que teve nas mãos. “Observar o acervo que tínhamos nos permitiu pensar que a biblioteca era o certo a se fazer no momento. Já a sala de multimídia visa materializar todo conhecimento guardado durante décadas nos nossos arquivos”, disse.
Sessão de Autógrafos – Ainda durante a cerimônia de inauguração, o público pode acompanhar o lançamento das publicações premiadas no Concurso Nacional de Pesquisa sobre Cultura Afro-brasileira em 2012 e da Coletânea Poética Ogum’s Toques Negros que defende o conceito de literatura negra.
Os diversos autores da Coletânea Poética Ogum’s Toques Negros foram representados pelo professor e doutor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Alex Ratts e pela jornalista e poetisa Daniela Luciana Silva. Ambos falaram sobre a dificuldade na publicação de uma obra. “A oportunidade de publicação de um livro por um autor negro precisa ser conquistada, tendo em vista as dificuldades encontradas”.
A professora e doutora da Universidade de Pernambuco(UFE), Magdalena Almeida falou sobre o lançamento da publicação ‘Samba do Coco Políticas Públicas: patrimônio e Formação Cultural em Pernambuco’. “É uma grande satisfação poder compartilhar com vocês esse trabalho. Minha vivência para a realização desse estudo mudou minha visão sobre o que é fazer cultura”.
Já a professora e doutora da Universidade Estadual de Pernambuco (UEPE), Maria da Vitória relatou a experiência absorvida por ela durante o estudo para a tese ‘Liberdade Interditada, Liberdade Reavida: Escravos libertos na Paraíba Escravista (Século XIX)’. “A tese mostra os diferentes significados de liberdade para os negros da Paraíba oitocentista. Poder mergulhar nas histórias e sentimentos dos negros daquela época foi um verdadeiro aprendizado”, confessou.
A cerimônia também contou com a participação do representante do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), João Domingues.
Os livros foram distribuídos gratuitamente ao final do evento.
Exemplo de superação – A cerimônia de reinauguração da biblioteca Oliveira Silveira foi finalizada com o depoimento da assistente social, Dalila Lisboa. Considerada a primeira quilombola a se formar na Universidade de Brasília (UnB), ela falou sobre as dificuldades encontradas no decorrer do curso de Serviço Social. “Cheguei a pensar em desistir dos estudos tamanha discriminação que sofria no início, mas depois, com apoio do Afroatitude, grupo de jovens negros da UnB, percebi que meu ideal era mais forte do que tudo aquilo que falavam de mim,” desabafou.
Sobre a sua vida no quilombo, Dalila se mostra orgulhosa de suas origens. “Eu não sairei do meu quilombo nunca na vida. Foi lá que eu me construí como pessoa, aprendi a defender minha raça e é lá que eu quero permanecer”.