Notícias
As três crianças de Belford Roxo e o silêncio do movimento negro
Desde dezembro de 2020, Camila Paes, Rana Jéssica e Tatiana Ribeiro sonhavam com o retorno de seus filhos: Lucas (8), Alexandre (10) e Fernando (11). Apesar do tempo e da falta de informações, as mães jamais desanimaram, jamais esmoreceram, nunca permitiram que o fio de esperança que liga uma mãe a seu pequeno filho fosse cortado por rumores, por notícias falsas ou pelo pessimismo. Infelizmente, contudo, as investigações do Departamento de Homicídios de Belford Roxo (DHBR), no Rio de Janeiro, indicam que as crianças foram vítimas de traficantes. Após 9 meses de sofrimento e agonia, a esperança destas mães foi destruída pelo crime. Ao que tudo indica, seus filhos foram brutalmente assassinados por marginais e seus corpos desovados em localidade ainda não conhecida. É necessário falar de Camila, Rana, Tatiana e de seus filhos, mas uma observação é importante.
É absolutamente vergonhoso que alguém politize a dor e o sofrimento de uma família, instrumentalizando-os em favor de suas preferências. É desumano transformar lágrimas em combustível ideológico. É cruel fazer de lápides, Ágoras públicas. Mas não se trata disso. Na verdade, trata-se do extremo oposto. O tema aqui é a humanidade espezinhada. A questão é a indiferença com respeito a dor dessas mães e o absoluto descaso com relação à vida das crianças, descaso e desprezo de quem propagandeia apoio e socorro. De modo claro, importa defender valores, acima de escolhas ideológicas; urge relembrar princípios da civilização, acima de mesquinhas legendas partidárias. Enfim, nesta reflexão tratar-se-á desta virtude tão necessária e que torna os humanos diferentes das feras da mata, bem como das bestas das cidades: a solidariedade. Solidariedade que foi negada às crianças de Belford Roxo. Solidariedade que foi negada a suas mães. Como explicar o recrudescimento da indiferença em casos tão emblemáticos? Como entender o silêncio dos movimentos sociais sobre este drama humano? É preciso dar uns passos atrás, a fim de responder satisfatoriamente a esta pergunta. E a resposta será mais bem entendida se um princípio filosófico e uma tática social forem conhecidas. Primeiramente, o princípio ético: não há ação humana que seja absolutamente desinteressada: omnes agens agit propter finem (TOMÁS DE AQUINO), diz o adágio. Depois a tática: “a causa nunca é a causa; a causa sempre é a revolução” (SAUL ALINSKY).
O DESENRAIZAMENTO DA HUMANIDADE
Como é ordinário em sociedades decadentes, o vínculo com a alta cultura e suas sofisticações torna-se dificultado pela ignorância e pela prepotência. Em civilizações biltres, como o Brasil atual, o desrespeito pela tradição e pelas raízes culturais da nação tornou-se ação ordinária e praticamente obrigatória, não apenas entre homens comuns, mas até mesmo entre formadores de opinião. Desprezam-se valores e suprimem-se princípios, segundo conveniências da hora presente. E a fonte do desprezo para com os valores humanos mais fundamentais é um princípio filosófico existencialista conhecido: “a existência precede a essência” (SARTRE).
De acordo com esta máxima sartriana, não há nada na realidade que sustente valores humanos objetivos, como dignidade da pessoa, bondade ou maldade moral, beleza ou fealdade, utilidade ou inutilidade, nem princípios sociais ou políticos. Todos estes valores são criados por decisões arbitrárias, sem qualquer elemento objetivo que os sustente. Para Sartre, nem princípios importantes para o convívio social, como solidariedade, constituem-se objetivamente, pois não há uma essência que valha objetivamente, independente das situações ou convenções. Tudo depende da história e da construção que se possa fazer para ajustar a narrativa, em favor ou contra desafetos, de acordo com interesses pessoais, mas sem quaisquer elementos naturais que a sustente.
O resultado desta pretensão existencialista é o desenraizamento do homem. Cada indivíduo torna-se responsável por construir só e arbitrariamente seu interior e a liberdade se torna um peso a se suportar: o homem é um ser condenado a ser livre, disse o autor certa vez. Segundo a perspectiva sartriana, o homem está exilado nesta terra e torna-se responsável por criar historicamente as condições para que evolua, sem um passado que o ensine e sem uma cultura que o favoreça. Desterrado, encontra-se absolutamente sem raízes e, segundo Sartre, tal desterro é necessário para torná-lo autor da própria história. O único permanente no homem é sua historicidade radical, em razão do seu caráter passageiro. O historicismo – a perspectiva de que todos os elementos culturais de uma sociedade são criados e mantidos historicamente, sem qualquer elemento objetivo que os explique ou produza – é a regra da humanidade. Mas o historicismo possui limites.
LIMITES DO HISTORICISMO
A esta altura, alguém pode imaginar que as crianças de Belford Roxo foram esquecidas, mas não se engane: há mais coisas entre Lucas, Alexandre e Fernando e suas mães e Jean-Paul Sartre que se pode imaginar. De fato, ideias são os principais motores da vida humana e o existencialismo – já se verá – constitui importante elemento para desumanizar as mortes das crianças e a dor de suas mães.
Com efeito, em razão de princípios existencialistas e de suas consequências historicistas, economistas podem escolher os eventos que são importantes para sua análise da conjuntura, sem elementos objetivos que justifiquem suas escolhas; juristas determinam as hermenêuticas que favorecem e as que não favorecem seus clientes, a despeito da letra da lei ou da jurisprudência tradicional; assim como jornalistas escolhem as mortes que interessam e as que não interessam, elegem quem merece solidariedade e quem merece o abandono e o esquecimento. Aliás, se não há nada na realidade que sustente os valores e princípios da humanidade e da cultura, como defende o existencialismo, quem define o que é honrável, o que é desprezível, o que é louvável ou deplorável é o indivíduo, segundo os interesses e as exigências de cada momento. Por isso, a razão do silêncio acerca dos 3 meninos de Belford Roxo. Por isso, o descaso com a dor de suas mães: seus sofrimentos e amarguras não importam ao jornalismo e aos movimentos pois não podem ser instrumentalizados para avançar a pauta política que realmente interessa-lhes.
Como a solidariedade, segundo Sartre, não é um sentimento natural, mas um movimento produzido artificialmente; como a justiça não é uma virtude objetiva, mas um evento criado extrinsecamente; como não há qualquer valor humano que mereça este nome, pois tudo se gera ou se destrói movido por forças sociais historicamente datadas, sem qualquer princípio objetivo; cabe ao fim e ao cabo à opinião pública definir quem merece solidariedade, quem é digno de apoio, quem faz jus ao suporte da sociedade. E então, sem uma razão aparente, o jornalismo brasileiro decide que Camila Paes, Rana Jéssica e Tatiana Ribeiro não merecem a solidariedade dos brasileiros; movimentos negros, jornalistas engajadas e artistas do Projac determinam que seus filhos, assassinados por traficantes, não são dignos de blusas brancas e passeatas na orla da Zona Sul, do Rio de Janeiro. A instrumentalização das pessoas e a desumanização da dor alheia são frutos diretos do existencialismo sartriano, com uma pitada de Alinsky.
Mas um problema se adverte: como limitar a autonomia do indivíduo para que não se destrua a própria cultura, ao sacrificarem-se no altar do extremo jornalismo os valores humanos? Como impedir que o próprio tecido humanitário seja destruído, pelo subjetivismo e pelo arbítrio da opinião pública? De fato, nem mesmo o historicista mais empedernido admite um grau tão grande de desenraizamento da cultura humana, pois seu custo é morte da civilização. Nem o historicista mais convicto admite tamanho descaso com a realidade. E vem de um autor insuspeito a crítica mais dura com relação ao historicismo.
Friedrich Nietzsche – a quem não se pode acusar de reacionário ou de conservador – faz a censura definitiva contra o historicismo, crítica que pode ser igualmente estendida a doutrina de Jean-Paul Sartre: sem uma base cultural segura, sem o fundamento estável da verdade, todo historicismo se torna violência, manipulação e instrumentalismo. Todo desenraizamento cultural se apresenta como doença de uma época, como “ardente febre histórica”, como decaimento do espírito e do elã de um povo, pois entrega a capacidade de julgamento ao arbítrio dos poderosos. Com efeito, pontifica Nietzsche:
“Há um grau de insônia, de ruminação, de sentido histórico, no qual o vivente se degrada e por fim sucumbe, seja ele um homem, um povo ou uma cultura” (NIETZSCHE, Friedrich. Segunda Consideração Intempestiva: da utilidade e desvantagem da história para a vida. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003, p. 23).
Eis o problema em sua pureza química: sem algum nível de reflexão, sem algum aspecto de permanência, sem algum âmbito absoluto e universal, o ser humano – e a própria cultura – se degrada e se desumaniza, pois resta limitada ao frenesi constante e interminável das novidades, resta acorrentada ao deslumbramento das paixões e dos interesses passageiros. O historicismo, na medida em que constitui um desenraizamento do homem de seu passado e de suas fontes, produz um monstro incapaz de comover-se diante de um assassinato, incapaz de lamentar-se perante a injustiça. Enquanto refém de preferências e ideologias, o historicismo obedecerá aos ditames do utilitário e da subserviência, ignorando valores objetos em nome de ideologias, flertando com seu limite mais extremo: a barbárie.
O MOTOR DOS MOVIMENTOS NEGROS
Para evitar a consequência indesejável, que é a extinção da civilização, importa entender a razão pela qual a morte de Lucas, Alexandre e Fernando não causou a indignação dos jornalistas, tampouco dos movimentos de defesa do negro. Mas para que se compreenda bem, é preciso entender a tática política de Saul Alinsky, citada no início dessa reflexão: “a causa nunca é causa; a causa é sempre a revolução”. Para compreender o silêncio doloso de tais movimentos e meios de comunicação, com respeito ao assassinato das crianças de Belford Roxo, é necessário entender a ideia que move estas ferramentas sociais: as ONG’s e os meios de comunicação.
Um esclarecimento talvez seja necessário aqui. Se você não é do Rio de Janeiro, talvez você não entenda como e porque ONG’s financiadas com dinheiro internacional trabalham para manchar a honra da polícia militar, na Cidade Maravilhosa. Se você não mora na cidade, talvez você desconheça o trabalho de ONG’s cariocas e da velha imprensa para impedir que civis se armem e sejam capazes de defender-se, ao mesmo tempo que trabalham para impedir que a polícia desarme criminosos. Talvez você não saiba, mas basta que um traficante seja abatido numa troca de tiros no Rio de Janeiro – mesmo que o policial esteja se defendendo numa operação de rotina – para as ruas da Zona Sul da cidade amanhecerem com passeatas e pombas brancas pedindo paz. Concomitantemente, textões agressivos e injustos, ofensivos a policiais, pululam aos borbotões em editoriais de jornais e nas redes sociais de artistas e políticos comunistas, exigindo o fim da polícia e o acusando-lhes de “lixo da sociedade”. Tudo em nome da paz: toda vida importa, dizem. Mas por que, então, o silêncio com relação às crianças de Belford Roxo? Aqui está o nó da questão.
É que os algozes de Lucas, Alexandre e Fernando, filhos de Camila Paes, Rana Jéssica e Tatiana Ribeiro, não foram policiais. Os assassinos das 3 crianças de Belford Roxo foram traficantes. E, portanto, o extremo jornalismo e as ONG’s financiadas com dinheiro internacional não podem levantar a voz contra os criminosos, pois estariam atacando as “vítimas da sociedade”, seus aliados na implantação da mudança social que pretendem. Diante da morte de 3 crianças inocentes e a denúncia de traficantes assassinos, a mídia e os movimentos em defesa do negro escolheram os criminosos, o que leva ao ponto seguinte: os movimentos negros não defendem negros. Eles não se preocupam com os negros. Eles se preocupam com a implantação da agenda comunista: “a causa nunca é causa; a causa é sempre a revolução”.
Saul Alinsky, ativista político norte-americano, indicou o caminho para destruir qualquer civilização e transformá-la em socialista: a causa da revolução comunista é a única causa que interessa. Se pretos precisam morrer para avançar a causa, que assim seja; se o silêncio do jornalismo e das ONG’s é necessário, que assim seja. E não importa se o crime cometido foi hediondo e por motivo torpe. Não importa que as vidas sejam pretas e menores de idade. Segundo ensina Alinsky, a causa sempre foi a revolução. Nunca foi pelo preto; nunca foi pela preta; jamais importou a escravidão ou situações assemelhadas. Lucas, Alexandre e Fernando, bem como suas mães, jamais importaram para os movimentos negros ou para o extremo jornalismo. Tudo o que importa é a causa da implantação do comunismo no Brasil. Mas esta é a causa remota da ação. A mais distante. Há ainda uma causa mais próxima, mais prosaica.
FOLLOW THE MONEY
Alguém disse certa vez: “recuso-me a aceitar que exista um efeito sem causa”. De outra forma, ensina a filosofia clássica: todo agente age por causa de um fim (omnes agens agit propter finem). Enfim, toda ação humana possui uma finalidade, uma causa final. Se é assim, se a causa final inspira todas as ações e motivações humanas, o que move, portanto, os movimentos negros do Brasil? Para além da causa remota – a implantação do comunismo por estas paragens – o que mais movimenta esta súcia aproveitadora? Há algo mais próximo que inspire tanto empenho e vigor?
Aqui não vai qualquer acusação, mas apenas perguntas. Historia magistra est – A história é mestra, diz o adágio latino, mas é preciso ser atento para perceber as lições que a doce mestra quer ensinar. Atente-se para o movimento negro norte-americano. Sabe-se que o movimento Black Lives Matters, que surgiu nos EUA em 2013, sofreu investigações recentes e escândalos sem fim, no último ano. Uma de suas líderes, Patrisse Cullors, afastou-se do movimento, após amealhar patrimônio superior a 15 milhões de reais, em breve período de tempo. Por sua vez, o movimento arrecadou o equivalente a mais de 400 milhões de reais, só em 2020. Se o movimento negro, no Brasil, não sai em defesa de 3 crianças negras brutalmente assassinadas por traficantes, para que ele existe? Se se cala diante da dor de 3 mães que choram seus filhos negros cruelmente mortos, para que tais movimentos existem no Brasil? Quem são seus líderes? Do que vivem e como se mantêm? Como não existe ação absolutamente neutra, as perguntas são relevantes.
AOS TRÊS MENINOS: DESCANSEM EM PAZ
Então, por que as crianças de Belford Roxo foram esquecidas pela mídia e pelos movimentos negros? A resposta dura é: por que a dor de mães e de crianças negras não interessa – nunca interessou de verdade –, nem ao extremo jornalismo, nem a ONG’s alimentadas com grana estrangeira. Pelo contrário, ambos constituem uma atualização do movimento escravocrata. Assim como a sociedade escravista do século XVIII, o extremo jornalismo adora um preto pra chamar de seu; o movimento negro implora por uma chacina numa favela carioca, para emplacar mais uma passeata nas ruas de Copacabana, mas a suspeita da chacina precisa recair sobre a polícia. Assim, eles conseguem encaixar a narrativa de racismo e encarceram mais vítimas pretas, sob o suave jugo escravista. Diferentemente, contudo, do escravocrata do século XVIII, o escravocrata da ONG e do jornal é mais cruel. Afinal, não basta para o escravocrata atual que os pretos permanecem presos a suas narrativas. Ele precisa permanecer agradecido por seu doce grilhão, pela generosidade do escravocrata da mídia global e da ONG do afoxé. A escravidão deste século é mais severa que a antiga, pois exige que o escravo ame a senzala de bondade, preparada com carinho por editoriais dos jornais e das revistas digitais do fim de semana.
Lamento profundamente e me solidarizo com as mães das 3 crianças de Belford Roxo. Solidarizo-me com sua dor e seu sentimento de impotência. Solidarizo-me principalmente com sua indignação com o silêncio de grupos de apoio a negros, grupos que prometem ajuda e socorro nos momentos difíceis, mas permaneceram mudos diante deste crime hediondo. Seu silêncio é estrondoso! E revelador. Ocorre que a sociedade brasileira está transformando-se. A sociedade brasileira não está tão cega… e definitivamente não está muda. E continuará a falar sobre a hipocrisia e a instrumentalização a que os negros estão submetidos, por estas ONG’s mantidas com dinheiro internacional, ONG’s que lucram com a pele negra de brasileiros, assim como os escravocratas nativos da África, que vendiam seus irmãos de humanidade em favor de dinheiro e benefícios.
Aos meninos, rezo que estejam em paz. Um dia, Jesus disse: deixe vir a mim as criancinhas. Num ato injusto, as 3 crianças foram empurradas às pressas para o colo do Senhor, que certamente os recebeu. Que essas crianças, Lucas, Alexandre e Fernando, gozem da alegria de estar diante de Deus e intercedam para que o silêncio das autoridades não incentive novas vítimas dos traficantes de Belford Roxo. E que suas mães encontrem consolo nos amigos e na parte da sociedade que reconhece os responsáveis pela morte de seus filhos: o crime organizado.