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Artistas expressam sua arte e consciência política em premiação da Cultura Afro-brasileira
Ganhadores do I Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras. Foto: Nathalia Bordallo
“Desde os tempos das senzalas, mesmo antes, nos porões turvos dos navios negreiros, a arte fez parte da fé, é o lamento, é a cura, a redenção e o clamor”, falou Zezé Mota na solenidade de entrega do 1° Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras, ontem (27) em Brasília, em cerimonial com o ator Antonio Pompeu.
O público, formado por artistas vencedores, jurados, representantes de Embaixadas, representantes da Federação Brasiliense e Entorno de Umbanda e Candomblé e pessoas ligadas a cultura negra, participaram – não só da entrega do Prêmio – como da perfomance do grupo de teatro brasiliense, Cabeça Feita, dirigida por Cristiane Sobral, com roteiro do Diretor do Departamento de Fomento e Promoção da Cultura Afro-brasileira, Elísio Lopes Junior, a partir dos textos de Rita Reikki, Cleise Mendes e Marina Seneda e Soraia.
No momento de descontração da solenidade, Zezé Mota soltou a voz para embalar os passos dos bailarinos, Rubens Barbot, Júlio César e Edu Passos que manifestaram-se no salão como forma de agradecimento ao prêmio recebido. A premiação também foi marcada por reivindicações dos artistas: “Muitas pessoas acham que Norte se escreve com “M”, mas as pessoas não têm noção da produção cultural da região. Esse Prêmio para nós foi uma grande oportunidade, somos quase da metade do País, merecemos e queremos espaço para mostrar nossa cultura”, disse Amilton Barreto, representante do projeto “Emy – a concepção iorubana do universo”, apresentado pela Associação dos Amigos do Ilê Aye Omi Ofa Kare, do Pará.
Representante do projeto “Ogum – o Deus e o homem”, apresentado pela Uzon Filmes e Produções, da Bahia, Susan Marques, também expôs sua opinião ao subir no palco: “Por que nossos filhos têm como referência o Batman, o Homem Aranha e não sabem nada de Iansã, de Xangô? Por que nossas histórias não podem ser contadas, nossos heróis cultuados? A Bahia está cheia de cantoras de sucesso nacional que cantam nossas músicas negras, mas não pisam em um terreiro. Queremos nossas histórias contadas por nós, nossa música contada por nós. Quem vai estar no palco agora é o povo negro”.
Além da divisão do edital por região, o Prêmio também inovou na forma de selecionar os jurados, eles foram escolhidos pelos próprios artistas em votação livre pela internet. Foram selecionados 20 projetos de todas as regiões do País, contemplando não somente os grupos dos grandes centros mas também os de regiões remanescentes de quilombos como o projeto “Arte resgatando o quilombo”, apresentado pela Associação da Comunidade Remanescente de Quilombo Morro do Fortunato, de Santa Catarina.