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NOVEMBRO NEGRO
Aqualtune, uma das lideranças pioneiras de Palmares!
Zumbi é referência quando se fala em resistência negra no Brasil, pelo comando do maior refúgio de negros escravizados da América Latina. Ganga Zumba, seu antecessor, também. Mas poucos conhecem as guerreiras que exerceram liderança no Quilombo dos Palmares.
A lacuna não é obra do acaso, mas da estrutura da hierarquia social, espelhada em diferentes esferas da vida humana, e que pode ser resumida pela linha de exercício de poder e acesso a direitos: homem branco, mulher branca, homem negro, mulher negra.
GÊNERO E RAÇA. Em síntese, a história, ao longo de eras, foi contada a partir da perspectiva dos vencedores e/ou dos que detém o poder de construir narrativas – o que o campo de luta da atualidade vem revertendo, ao separar as camadas das lutas étnico-culturais e de gênero.
É o que a Fundação Cultural Palmares vem fazendo, com o esforço para retirar o protagonismo das mulheres negras da invisibilidade. Mulheres como Aqualtune, Acotirene e Dandara, que exerceram papel ativo na defesa e administração do maior quilombo da América Latina.
Não é tarefa fácil. Reconstituir uma trajetória apagada é montar um grande quebra-cabeças, ou tecer uma nova e delicada teia, a partir de fragmentos que fogem à lógica da narrativa predominante. Vamos a alguns desses “rastros”.
REINADO. A história ressalta o papel de Ganga Zumba como unificador dos mocambos que formaram a confederação – com o que muitos historiadores concordam. Mas trechos de relatos apontam para uma mulher como sua antecessora em posto de comando em Palmares: Aqualtune.
É uma perspectiva que condiz com a forma de governo vigente no quilombo: um reinado, cujo poder é transmitido de geração em geração, dentro da mesma família, por hereditariedade. E Ganga Zumba era filho de Aqualtune.
Mas vamos à trajetória.
Consta que Aqualtune nasceu no reino do Congo, e que teria liderado guerreiros na Batalha de Mbwuila (ou Ambuíla), travada entre as forças de Portugal e do Congo, em 1665, o que teria resultado em seu sequestro e envio, como escravizada, para o Brasil.
VIOLÊNCIA SEXUAL. Bela, jovem, saudável, assim que chegou ao porto de Recife (PE) Aqualtune foi vendida, com a seguinte indicação: “Boa para gerar muitos filhos”. Seu destino: uma fazenda em Porto Calvo, onde hoje fica o estado de Alagoas. Ali, viveu violências terríveis.
Em Porto Calvo, ouviu falar de uma terra de africanos livres: Angola Janga (“Pequena Angola”), como Palmares era também conhecido, pelo grande número de angolanos que se refugiavam no quilombo. Não demorou na fazenda.
FUGA. Mesmo grávida, Aqualtune fugiu, comandando cerca de 200 pessoas. Ao chegar a Palmares, foi acolhida como a princesa que era, assumindo, imediatamente, papel de liderança nos acampamentos que formariam o quilombo.
Detentora de amplos conhecimentos políticos e organizacionais, além de ser uma grande estrategista de guerra, a nobre congolesa fundou um dos principais mocambos do "pequeno Estado africano", que levou o seu nome, Aqualtune.
MORTE INCERTA. Além de Ganga Zumba, a guerreira gerou também Ganga Zona e Sabina – essa, a mãe de Zumbi dos Palmares. A data e as circunstâncias da morte da líder de um dos maiores e mais duradouros quilombos da América Latina são incertas.
Mas reza a lenda que a princesa se tornou imortal, e que seu espírito passou a acompanhar seu povo. Dito de outra forma, seu umzimba (corpo físico) se foi, mas seu isithunzi (legado, força, espírito ancestral) permaneceu, orientando e conduzindo os quilombolas de Palmares – como Ganga Zumba e Zumbi.
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