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Apresentadores brancos são 93% nas TVs públicas
O percentual de jornalistas trabalhando em frente às câmeras da TVE (Rio), TV Cultura (SP) e TV Nacional (DF) obedece ao seguinte padrão: 93,3% são brancos ou eurodescendentes; 5,5%, negros (pretos + pardos) afro-descendentes e 1,2%, índio-descendentes. Também há uma sub-representação temática da comunidade negra na programação dessas emissoras. Este dado consta da pesquisa: Onde está o Negro na TV Pública? – realizada pela Fundação Cultural Palmares. Este foi um dos aspectos discutidos durante o seminário TV Pública, Ação Afirmativa e Direitos Humanos realizado nesta terça-feira (11/12), no auditório do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, promovido pela sua Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-Rio).
Para Délcio Teobaldo, jornalista da TVE e professor universitário, é relevante que negras e negros apareçam diante das telas, mas também, e muito especialmente, na produção dos programas veiculados. “É importante porque esses profissionais podem influenciar no conteúdo do que é transmitido aos telespectadores”, disse.
O presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões do Rio de Janeiro (Sated), Jorge Coutinho, revelou que em recente reunião com dirigentes da TV Globo, na qual a questão salarial foi debatida durante seis horas ininterruptas, ele abordou o problema da inserção do negro e de sua comunidade na programação da emissora.
O comunicador Marcio Gualberto, coordenador do Coletivo de Entidades Negras no Rio de Janeiro e editor do blog Palavra Sinistra, observou ser necessário criar estratégias para que negras e negros se capacitem para enfrentar o mercado de trabalho em tempos de digitalização no Brasil da televisão e do rádio. Coutinho concordou e disse que esta é uma das preocupações de sua gestão no Sated.
Gualberto ainda criticou a forma de escolha da composição do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), embora reconheça que os conselheiros escolhidos têm representatividade em seus campos de atuação. “A sociedade civil organizada deveria ter sido ouvida pelo governo federal antes de qualquer definição sobre a forma de constituição do Conselho Curador”, destacou.
A coordenação da mesa de palestras ficou a cargo da jornalista Angélica Basthi, membro da Cojira e assessora da organização não governamental Justiça Global. Ela lembrou que o Brasil participou ativamente em 2001 da Conferência Internacional de Combate ao Racismo, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Durban, na África do Sul. “Ao assinar o documento final deste evento oficial comprometeu-se a cumprir todas as suas determinações, incluindo a promoção da comunidade negra na comunicação social e neste mercado de trabalho”, observou.
O jornalista Carlos Alberto de Oliveira, o Caó, conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), disse que a chamada TV Pública deve ter como finalidade principal contribuir para a organização e mobilização da opinião pública brasileira no sentido de encaminhar o país rumo à instituição de uma verdadeira igualdade racial. “Sem isso, nada feito, não haverá Brasil, não haverá civilização que possa começar e se completar”, disse Caó, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio e autor da lei que criminalizou o racismo no Brasil a partir de 1989.
O seminário foi registrado em vídeo por uma equipe da TV Rocinha, representada pelo produtor Lindemberg Silva, e outra da Central Única de Favelas (Cufa), representada pelos produtores Carlos Saci e Clécio Gomes. Antes das palestras foi exibido o documentário institucional da TV Rocinha.
O evento teve apoio da Comissão Estadual de Combate à Discriminação Racial da Central Única dos Trabalhadores do Rio de Janeiro (CECDR/CUT-RJ), representada pelo seu coordenador Cláudio Vovô.