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Após 50 anos de existência do Jornal Nacional, Maju é a primeira mulher negra a comandar o telejornal
Nesta quarta-feira (13), por meio da assessoria de imprensa da Globo, confirmou-se a notícia de que a jornalista Maria Júlia Coutinho, a partir do próximo sábado (16), passará a integrar o time de apresentadores do Jornal Nacional, na escala de fim de semana. O que poderia ser uma notícia corriqueira, considerando a competência de Maria Júlia, fomenta reflexões sobre o racismo estrutural e a sub-representação de negras e negros na mídia brasileira.
O ineditismo da presença de Maria Júlia Coutinho no Jornal Nacional, em pleno 2019, é um fato histórico, mas sobretudo, deve suscitar reflexões sobre o papel da mulher negra e do homem negro na mídia brasileira. Por que, em 50 anos de existência, esta é a primeira vez que uma mulher negra irá apresentar o principal telejornal brasileiro? Há naturalidade na percepção de que, constituindo 54% da população brasileira, apenas dois negros (Heraldo Pereira tornou-se âncora em 2001) ocuparam a bancada daquele telejornal? Evidentemente não e, esta reflexão foi levada a cabo por Maria Júlia, em entrevista publicada no jornal online gauchazh.clicrbs, na qual expressa que:
“Precisamos de mais mulheres negras na TV. Porque, quando tiverem muitas, você não fica com essa responsabilidade, que é muito grande. Claro que não sou a única, mas precisaríamos de mais, que me confundam, (a ponto de) de perguntarem: “Quem é aquela?” e errarem o nome, assim como erramos os das apresentadoras loiras, que, às vezes, são muito parecidas. Precisamos de proporcionalidade. Precisamos de mais gente para dizer que estamos mais equilibrados. Estamos dando passos, mas eles precisam ser mais largos.”
É preciso estar atento a forma como a sociedade e as relações raciais no Brasil foram estruturadas, é preciso analisar o contexto racial brasileiro nos últimos 50 anos, tempo de existência do Jornal Nacional, que há décadas vem invisibilizando a população negra. É importante refletir o porquê de ‘contarmos nos dedos’’ o número de jornalistas negras e negros conhecidos nacionalmente. É importante refletir sobre o papel que a presença negra na TV, em papéis de destaque e não subalternizado, exerce na construção da identidade de crianças e de adolescentes negros. Além disso, faz-se necessário também, em uma sociedade marcada pela desigualdade racial, compreender a importância da foto postada por Maju em suas redes sociais fazendo referência às poucas, porém grandiosas jornalistas negras de destaque nacional: Glória Maria, Zileide Silva, Flávia Oliveira; Joyce Ribeiro, Luciana Barreto e Dulcinéia Novaes.
Compreende-se que a presença de mulheres negras e de homens negros na televisão, sejam eles jornalistas, repórteres ou na teledramaturgia, em papéis de destaque e não subalternizados, cria referenciais positivos da identidade negra e, além disso, a presença da diversidade fomenta também a multiplicidade de olhares e de experiências, trazendo, em muitos casos, visibilidade para pautas que passam despercebidas para outros segmentos, a exemplo da questão quilombola, da luta contra o racismo, da estética, entre outras questões.
Maria Júlia, ou Maju, iniciou sua carreira como repórter; em 2005, passou a apresentar o Jornal da Cultura e, mais tarde, o Cultura Meio-Dia. Em 2007, transferiu-se para a TV Globo, retornando às reportagens. Desde 2013 vem se destacando à frente dos boletins meteorológicos no Jornal Hoje e no Jornal Nacional. Esteve também na bancada do Jornal Hoje, onde se destacou na cobertura da tragédia de Brumadinho, MG; SPTV; Saia Justa, da GNT, e do Papo de Almoço, da Rádio Globo. Em 2017, publicou o livro Entrando no clima. Sua estreia na bancada do Jornal Nacional está marcada para o próximo sábado, 16 de fevereiro.