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Aniversário da Palmares: Entrevista Luiz Melodia canta para Palmares
Por Marcus Bennett
Luiz Carlos dos Santos, Luiz Melodia, nasceu no Morro do Estácio, Rio de Janeiro, no dia 07 de janeiro de 1951. Descobriu a música ainda criança, quando ouvia em casa os dedilhados do pai. “Fui pegando a viola dele, tirando uns acordes, observando. Ele não deixava pegar a viola de quatro cortas, que era uma relíquia, muito bonita, onde aprendi a tocar umas coisas”.
Apesar do gosto pela música, Luiz Melodia acabou contrariando o pai, que queria vê-lo “doutor” formado. “Ele não me apoiava, não dava muita força. Mas não adiantou coisíssima alguma, até porque as coisas foram acontecendo. E depois ele veio a curtir pra caramba. Quando ele faleceu, perdi um grande fã”, diz.
Depois de abandonar o ginásio, Melodia passou a adolescência compondo e tocando sucessos da Jovem Guarda e Bossa Nova, com o grupo “Instantâneos”, formado com amigos. Encantado com o músico, o poeta Wally Salomão o apresentou a Gal Costa, o que resultou na gravação de “Pérola Negra”, no disco “Gal a todo vapor”, de 1972, e o tornou um dos compositores prediletos da cantora. Depois, foi a vez de “Estácio Holly Estácio” ganhar sua interpretação na voz de Maria Bethânia. Foi nessa época que o artista assumiu o nome de Luiz Melodia, apropriando o sobrenome artístico de seu pai, Oswaldo. No ano seguinte, em 1973, lançou seu primeiro e antológico disco: “Pérola Negra”.
A partir daí, Luiz Melodia foi só sucesso. Consolidou sua carreira no disco “Maravilhas Contemporâneas”, de 76, popularizado pela canção “Mico de Circo`.
Hoje, o músico dedica-se ao seu novo disco “Estação Melodia”, no qual se debruça sobre o samba das décadas de 30, 40 e 50, onde se encontra numa roda de samba com Cartola, Ismael Silva, Paulinho da Viola, Vinícius, Chico, Garoto e com seu pai, Osvaldo Melodia, num boteco imaginário, para celebrar um Rio de Janeiro que ainda existe.
“Eu sei que não sou majestade. Não tenho, nem quero coroa. Eu quero é cantar na cidade”. Estes versos de “O Rei do Samba” (Miguel Lima/Arino Nunes) talvez funcionem como uma síntese da atual fase de Luiz Melodia: em seu primeiro trabalho essencialmente como intérprete, ele busca, sem firulas e intervenções modernas, potencializar os sentidos da palavra cantada.
E assim vem Melodia, com muito samba e exaltação negra, o músico encerra o aniversário da Fundação Cultural Palmares neste sábado, dia 22, às 21h, no Teatro Nacional.
Numa rápida entrevista, Luiz Melodia fala sobre a FCP e suas influências musicais.
FCP – Há para você algum significado especial em comemorar os 21 anos da Fundação Cultural Palmares, já que ela é uma instituição que vem ao longo desses anos procurando criar alternativas para a difusão da cultura afro-brasileira e sendo você um dos ícones negros da música popular brasileira?
Luiz Melodia – É celebração, confirmação da nossa autenticidade e alegria, apesar de tudo.
FCP – Qual a importância da existência da Fundação Cultural Palmares no Brasil?
Luiz Melodia – É muito importante. É uma referência para o meu povo.
FCP – Como você vê hoje a receptividade de artistas negros na esfera cultural brasileira? Ainda há espaço para o preconceito?
Luiz Melodia – Acho nosso espaço ainda pequeno. Existe sim preconceito, mas o talento transpõe, é inevitável.
FCP – Tendo sido nascido e criado no morro carioca do Estácio, você sempre conviveu com as influências do samba, com a malandragem carioca, com um estilo de vida bem diferente de quem não vive num morro carioca, mas quais foram suas verdadeiras influências para conseguir um estilo tão diversificado e marcante?
Luiz Melodia – O lugar onde eu nasci me proporcionou toda essa diversidade que veio da igreja Batista, da escola de samba, dos nordestinos e mesmo pessoas de outros países que moravam no morro e traziam a sua cultura.
FCP – Percebemos que em algumas músicas você exalta a negritude e a beleza da cor negra, como em “Ébano”, “Pérola Negra”, “O sangue não nega”, e mesmo em “O neguinho e a Senhorita”, de autoria de Noel Rosa e Abelardo da Silva, mas que está em seu último disco. É proposital essa procura por exaltar a beleza do negro ou surge com naturalidade em suas canções e interpretações?
Luiz Melodia – As duas coisas.
FCP – Como você diz na música “O sangue não nega”: Sou ferro, fera solta. Vim da África no couro de um pandeiro”. Vir da África fez toda a diferença?
Luiz Melodia – A África deu a mim e ao mundo um bocado de suingue.
FCP – Sei que estão fazendo um documentário sobre sua vida. O que seus fãs podem esperar ver revelado nesse filme?
Luiz Melodia – Depende do que cada um sabe a meu respeito, vai um pouco da minha vida até agora.
FCP – O que o público pode esperar do seu show nos 21 anos da Fundação Cultural Palmares? Você pretende fazer uma mescla de todos os seus discos ou a íntegra do seu novo show “Estação Melodia”?
Luiz Melodia – É o Estação Baioca numa interação com o Lazzo e o Lazzo no seu show comigo.