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Aniversário da Palmares: Entrevista Lazzo Matumbi
Por Marcus Bennett
Músico baiano faz parceria com Luiz Melodia para encerrar festa da Palmares
Influenciado pelas referências culturais da Bahia, África e da música negra mundial, Lázaro Ferreira, o Lazzo Matumbi, transformou-se em um dos ícones do reggae brasileiro. Conhecido pelas interpretações carregadas de suingue e lamento, o cantor marcou definitivamente algumas canções em seus 28 anos de carreira. Entre elas, estão: “Me Abraça e Me Beija”, “Do Jeito que seu nego gosta” e “Alegria da Cidade”.
Lazzo Matumbi é conhecido como a voz da Bahia. Seu nome, em iorubá, significa Pedra Sagrada. E é no mesmo dialeto africano que ele se traduz para o público e solidifica uma carreira marcada pela verdadeira arte de cantar.
A vocação para ser um dos maiores artistas da música negra brasileira vem desde o berço. O músico começou a compor aos 13 anos, quando era vizinho da ialorixá Mãe Menininha do Gantois, em Salvador. Ali, foi influenciado pelos tambores do candomblé e pelo samba de roda que sempre frequentou.
Começou sua carreira em 1981, quando passou de batuqueiro a puxador do mais importante bloco afro da Bahia, o Ilê Aiyê. Como atração do grupo, arrastou multidões seduzidas pela sua forma de cantar com a alma, dotada de suingue, comparada com dos cantores americanos de blues.
Em suas composições encontram-se: James Brown, Jimmy Cliff, Marvin Gaye e Bob Marley – os dois últimos confessadamente suas maiores influências. Após deixar o Ilê, seguiu carreira solo com o nome artístico Lazzo Matumbi.
Na década de 90, consolidou-se como um dos principais representantes da música baiana no exterior, quando foi convidado a abrir mais de 50 shows de Jimmy Cliff, realizando shows em palcos caribenhos, europeus e até no Oriente Médio.
Em 2001, busca um novo desafio, cria o bloco ?Coração Rastafari?, com uma proposta totalmente inusitada e pensando o carnaval de uma forma democrática, Lazzo coloca no circuito oficial do carnaval de Salvador um bloco sem cordas, com segurança, onde todos podem participar independente de cor, raça e classe social.
Atualmente, Lazzo grava seu novo cd e cumpre agenda de shows. Trilha a sua carreira como tem que ser – seu próprio nome traduz o que se pode entender como Lazzo Matumbi – Pedra Sagrada, “consagrada”.
Leia abaixo a entrevista com o músico.
FCP – Há para você algum significado especial em comemorar os 21 anos da Fundação Cultural Palmares, já que ela é uma instituição que vem ao longo desses anos procurando criar alternativas para a difusão da cultura afro-brasileira?
Lazzo – Sim, não só pelo nome que leva a Fundação, mas também pelo serviço prestado à sociedade, continuando a luta pelo nosso povo em memória ao nosso grande herói Zumbi, e também, por ser, talvez, a única instituição que tenha a preocupação especifica em cuidar e preservar a cultura afro-brasileira na sua totalidade, iniciativa nunca vista antes em nosso país.
FCP – Então você entende que é importante a existência de uma instituição como a Palmares no Brasil?
Lazzo – Claro que sim. Para que se tenha um órgão oficial onde se possa discutir as questões afro-brasileiras, mas também as demandas advindas do povo brasileiro como todo, já que antes o nossos povos negro e indígena não faziam parte do debate, ou seja, só recebiam o pacote pronto.
FCP – Você ainda vê espaço para o preconceito na cultura brasileira? Como é a receptividade de artistas negros nessa esfera?
Lazzo – Ah, como eu gostaria que não tivesse espaço para nenhum tipo de preconceito, principalmente, o de cor, mas, infelizmente, tem e não é pouco. Para sobrevivermos temos que estar o tempo todo em alerta, guerreando pra sorrir. E com relação à receptividade aos artistas negros, ainda é pequena, insuficiente apesar de ter melhorado bastante.
FCP – Parece que você faz mais sucesso no exterior do que dentro do próprio Brasil, até porque, abriu diversos shows de Jimmy Cliff. Ao que você atribui esse fenômeno? Você acha que o brasileiro não dá tanto valor para a produção da sua própria cultura?
Lazzo – Eu atribuo ao fato de que talvez as pessoas lá fora estejam mais acostumadas a verem e ouvirem muitos artistas de várias qualidades, dialetos e tendências musicais diferentes e isso faça com que seja mais normal, já que aqui existe o maldito ditado que santo de casa não faz milagres. Coisa que eu duvido muito e ainda hei de ver isso cair por terra.
FCP – Como é sua relação com a cultura da religião de matriz africana, ela influencia suas músicas?
Lazzo – É uma relação gostosa e saudável com admiração, carinho, orgulho e muito respeito, apesar de não praticá-la. E como fruto desta origem, é claro que minhas músicas têm bastante influência da nossa cultura, graças a Olorum, nosso pai.
FCP – Por falar nisso, quais outras influências africanas ou afro-brasileiras nas suas criações?
Lazzo –. Influências como a do nigeriano Fela Kuti a Bob Marley, do jamaicano Jimmy Cliff ao senegalês Yousou N?dour, como de Xangô da Mangueira a Neguinho da Beija Flor, de Simonal a Gilberto Gil, como de James Brown a Marvin Gaye e por aí vai.
FCP – Você está preparando algum cd novo?
Lazzo – Estou, com certeza! Depois de nove anos sem gravar, finalmente mais um novo CD com músicas inéditas está chegando em breve ao mercado. Aguardem…
FCP – Você está preparando algum novo projeto?
Lazzo – Na verdade, estou empenhado em um grande projeto que inclui um disco inédito e meu primeiro DVD, que incluirá algumas releituras de músicas minhas e de outros artistas. Possivelmente, esperamos contar com o apoio das instituições que nos identificamos, e em seguida, lançarmos nacionalmente todo esse material e torcermos para que tudo dê certo, com a força e o axé dos deuses.
FCP – O que o público pode esperar do seu show nos 21 anos da Fundação?
Lazzo – Vai rolar um pouco de tudo, mas o que o público pode esperar é um show feito com muito amor e muita vontade de comemorar os 21 anos da Palmares, repleto de bastante energia e muitas vibrações positivas.
Lazzo Matumbi se apresenta neste sábado, às 21h, no Teatro Nacional.
O músico irá dividir o palco com o Luiz Melodia.