Notícias
ANGÈLE ESSAMBA: “O ser humano me fascina!”
Zulu Araújo recepciona a fotógrafa Angèle Essamba na Fundação Cultural Palmares
Por Joceline Gomes
Em entrevista exclusiva concedida ao site da Palmares, a consagrada fotógrafa camaronesa Angèle Etoundi Essamba esbanjou simpatia e curiosidade. Queria saber “por que Palmares?”, “por que 20 de novembro?”… A entrevista transformou-se num diálogo no qual entrevistada e entrevistadora desvendavam aos poucos o universo cultural da outra.
No Brasil para a abertura da sua exposição Herança africana: Retratos das mulheres africanas e afro-colombianas, que acontecerá nesta quarta-feira (10-11-10), em Brasília, Angèle afirmou que não se preocupa com os comentários e reações ao seu trabalho. “O que importa é se os negros conseguem se reconhecer nele”.
Confira abaixo a entrevista com uma das maiores expoentes da fotografia de temática africana:
Como e por que você começou a fotografar?
Me fascinei por esta arte porque a fotografia é olhar para o ser humano. E o ser humano me fascina! Mas não encontrava fotos nas quais eu me sentisse representada. Foi quando comecei a fotografar negros e a cultura afrodescendente.
E por que uma exposição sobre mulheres negras?
Porque sou uma delas. Sou mulher e sou negra. Fiz fotos onde é possível encontrar mulheres fortes, orgulhosas de si mesmas e do que fazem. Quis quebrar todos os estereótipos sobre a África, que sempre é apresentada como lugar de miséria, pobreza, doenças. Queria mostrar ao mundo que a África é um continente cheio de energia, de gente que tem muito a oferecer, é um lugar onde tudo é possível.
Qual é a reação do público ao seu trabalho?
Todos ficam muito surpresos porque não imaginam que é uma mulher negra fazendo esse trabalho. Mas eu não me preocupo com a maneira como as pessoas reagem. Para mim, o que importa é como os negros veem as fotos, e se conseguem se reconhecer no meu trabalho.
O que significa, para você, participar das comemorações do Dia da Consciência Negra?
Considero muito importante. Já fui convidada para trabalhar em diversos países, mas sempre quis fazer algo para os afro-brasileiros. Fotografo os afrodescendentes e como eles se conectam com o povo da Diáspora. O Brasil é um dos maiores e mais reconhecidos países nesta temática. Agora que sei um pouco da história de Zumbi e do Quilombo dos Palmares, tudo faz sentido. Estou muito honrada de estar aqui.
Qual a sua expectativa para a exposição no Brasil?
Em muitos países que vou, não tem negros visitando minhas exposições. É isso que quero. Quero ver a mistura, a herança africana, as coisas que falam sobre o Brasil, sobre a dança, a alegria. Sempre espero que negros reconheçam-se no trabalho que faço, que vejam o orgulho e se sintam confiantes para dizer: “é isso, sou eu”. Quero conhecer fotógrafas afro-brasileiras, e saber como elas olham essa sociedade, como veem o Brasil.
ANGÈLE VISITA A PALMARES_________________
Por Denise Porfírio
Durante a manhã da terça-feira, dia 09, Angèle Etoundi Essamba visitou a Fundação Cultural Palmares e conheceu a biblioteca, a videoteca e a galeria da instituição. Encantada com a estrutura da sede e o trabalho social, cultural e artístico, e recebeu livros, DVDs e materiais editados pela Fundação.
Após fazer um city tour por Brasília, retornou à Palmares, desta vez, para reunir-se com o presidente da Fundação, Zulu Araújo. Angèle trouxe uma compilação de seu trabalho para o presidente, que retribuiu com outras publicações sobre a cultura afro-brasileira. Após a breve reunião, ambos seguiram para a pré-estreia do filme Um homem que grita, na Embaixada da França, em Brasília.