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Alunos da rede pública marcam presença no Seminário de Igualdade Racial
Na segunda etapa do primeiro dia do Seminário de Políticas de Promoção de Igualdade Racial – cuja programação termina na tarde de hoje (quinta-feira, 08/05) – o destaque ficou por conta de um grande grupo de alunos da rede pública de Planaltina, selecionados para participar do evento por professores de Filosofia, Sociologia, Geografia e História do Centro de Ensino Fundamental 05 daquela cidade.
A programação, alterada para apenas uma mesa de debates, foi co-presidida pelos deputados Pompeo de Mattos, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, e Janete Pietá, coordenadora do Núcleo de Parlamentares Negros da Câmara (Nupan). Junto com eles, compuseram a mesa Ana Luiza Flausina, professora do UniCEUB; Fernanda Lopes, representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA); Renata Melo Barbosa, assessora técnica da Subsecretaria de Políticas de Ações Afirmativa da Seppir; e Antonio Pompêo, diretor de Promoção, Estudos, Pesquisa e Divulgação da Cultura Afro-brasileira da Fundação Cultural Palmares, para apresentarem os temas “Igualdade na saúde e na segurança: o direito à vida dos afro-descendentes” e “Diversidade cultural, educação e tolerância religiosa“.
Iniciando as atividades, o deputado Pompeo de Mattos foi o primeiro a elogiar a iniciativa da participação de jovens nesse tipo de evento, e aproveitou a oportunidade para lembrar que a Comissão de Direitos Humanos e Minorias “vem lutando para que os direitos humanos sejam incluídos como disciplina nos currículos escolares”. Em seguida, a deputada Janete Pietá reforçou que o Seminário é uma oportunidade ímpar: “Queremos ouvir tudo o que vocês têm a dizer para que possamos trabalhar melhor em prol da igualdade racial”, disse à platéia.
Mortalidade é alta entre jovens negros
Diante de uma platéia de maioria adolescente, a professora Ana Flauzina anunciou que tentaria adaptar seu tema, “Criminologia crítica”, a uma linguagem abrangente a todos. Em seus trabalhos de pesquisa, ela pôde concluir que o sistema penal latino-americano opera de modo seletivo e tem cunho genocida, e a resposta para isso está no racismo: “Existe uma articulação entre racismo e sistema penal ainda em vigor”, afirmou, complementando: “A mortalidade entre os jovens de origem negra é cerca de 70% maior que entre os jovens brancos”. A afirmativa despertou a curiosidade da garotada, que depois se inscreveu para perguntas a respeito.
Fernanda Lopes também se mostrou positivamente surpresa com a participação jovem e elogiou os professores que tiveram a idéia. Falando sobre saúde e racismo, ela explicou que “a diversidade da sociedade brasileira determina um padrão, utilizado para justificar supremacias. O que é diverso é convertido em desigualdades, e o resultado é a restrição de acesso. Saúde não é ausência de doença, mas, além de direito fundamental de todos, um indicador do nível de desenvolvimento – econômico, político, ambiental, cultural e social – de um país. Saúde e doença não são fatalidades ou destino, mas resultado de vários processos sociais”.
Desconstrução de imagem e identidade nacional
Antonio Pompêo anunciou que mudou o conteúdo de sua apresentação, ao se ver diante de tantos jovens. Também buscando a abrangência em sua fala, usou como exemplo a novela “Duas Caras” para pontuar os temas discriminação e tolerância religiosa – e a falsa imagem do negro, para a qual ele chama a atenção. “É visível, na novela, a trajetória do personagem negro que é `aceito` como genro em uma família branca, muda seu modo de vestir e se apresentar, sendo-lhe até `permitido` candidatar-se a vereador! E o que foi feito do terreiro de candomblé que havia nos capítulos iniciais? O que parecia uma grande possibilidade de diálogo, entre uma religião de matriz africana e um pastor protestante, simplesmente foi sumindo da trama… Acredito que por essas e outras questões é preciso estar atento à nossa imagem, que está sendo desconstruída, como se o negro não tivesse porque querer o seu lugar!”
A última palestrante, Renata Barbosa, historiadora por formação, frisou em sua apresentação que “a política cultural da Seppir é trabalhar positivamente a representação discriminatória que existe ainda hoje. Identidade nacional é mostrar que o Brasil existe muito além do que é informado, mas também é uma responsabilidade civil, da sociedade organizada e não-organizada, e não somente do Governo. Na verdade, a representação da diversidade não deveria causar conflitos, e no dia em que isso efetivamente acontecer, aí, sim, teremos a democracia racial, não apenas um mito”.