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Agentes culturais da Bahia discutem o fortalecimento dos editais de cultura negra
Produtores e criadores culturais negros da Bahia
Na noite da última sexta-feira, 07/06, integrantes do Movimento Negro e agentes baianos realizaram um debate sobre a suspensão dos editais para criadores negros do Ministério da Cultura (MinC), elaborados numa parceria com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR). Na ocasião, foram planejadas estratégias culturais jurídicas para reverter a situação, assim como a realização de manifestações de rua para dar visibilidade às interferências praticadas contra a preservação da arte e da cultura negra.
O cineasta Antônio Olavo fez referência a um levantamento oficial do Ministério da Cultura que aponta que dos 30 mil projetos escritos nos últimos quatro anos submetidos ao incentivo fiscal do governo, somente 487 foram aprovados, destes 67 relacionados à cultura negra, dos quais apenas 25 foram patrocinados. “Deixo aqui meu apoio irrestrito a esta ação de consolidação dos editais, precisamos ampliar essa discussão e nos organizar com medidas duras”, afirma.
Arte e a cultura negra e participação social – Com uma saudação ao movimento ativista do Fórum Nacional de Performance Negra, Felipe Freitas, gerente de projetos da Secretaria de Políticas Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), destacou o lugar da cultura e da arte negra como instrumento no desenvolvimento brasileiro. “A arte e a cultura negra são elementos de construção da autonomia e participação das mulheres e dos homens negros”, defende.
O poeta e educador social, Nelson Maca afirma que a sociedade brasileira ainda está presa ao mito da democracia racial e ressaltou a importância da arte e da cultura negra como identidade, construção e cidadania.
Desigualdade no acesso aos recursos para cultura – Em sua fala, Vilma Reis, presidenta do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra da Bahia (CDCN) colocou em questão a distribuição de verbas orçamentárias que demonstram a franca desigualdade ocorrida entre alguns artistas que recebem 1 milhão de reais para executar seus projetos, enquanto 2.800 propostas disputam 9 milhões o que daria 33 reais se divididos entre os artistas e produtores negros. “Somos nós que temos que ensinar o gestor público como trabalhar para 52% do país”.
Em 2013, o MinC prepara a construção do Plano Nacional de Cultura, no rastro da Conferência Nacional do setor, Vilma Reis acredita que este é o momento crucial para aprofundar o diálogo sobre uma política pública consistente para a cultura negra. “Nós aqui estamos falando sobre algo dramático. O mercado cultural no Brasil move R$30 bilhões, e nós estamos fora. Esse juiz nos provocou e nós estamos saindo na frente para discutir como nós queremos o Sistema Nacional de Cultura”, disse.
Combate ao racismo estrutural – A pesquisadora da Universidade Estadual da Bahia (UNEB), Ana Célia, destaca que as iniciativas culturais afro-brasileiras existentes no Brasil sempre enfrentaram o racismo estrutural do estado. E ressalta a importância da organização dos movimentos sociais no combate as formas de discriminação. “A luta pelo direito aos editais e contra o racismo tem que travada por nós. É importantíssimo nos organizarmos e irmos para as ruas”, completa.
A Fundação Cultural Palmares participou do diálogo e, de acordo com o presidente Hilton Cobra, a união do Movimento Negro Brasileiro para discutir essas questões é mais uma forma concreta de combate ao racismo, que também é o responsável pelo não acesso da produção cultural negra às verbas estatais.
Também estiveram presentes na reunião Fernanda Júlia, do Grupo Nata, o cineasta Antônio Olavo, o cantor Lazzo Matumbi, João Jorge , presidente do Bloco Olodum, Gilberto Roque, da Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN), Elias Sampaio, secretário de Promoção da Igualdade Racial da Bahia (SEPROMI), assim como artistas e produtores culturais baianos.
FCP pelo Brasil – Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Maranhão e Sergipe são alguns dos estados que receberão as visitas técnicas para articular um trabalho conjunto para formulação de políticas públicas para a arte e a cultura negra.